A Polícia Civil do Rio desencadeou, nesta quinta-feira, uma operação contra receptadores de cargas roubadas por quadrilhas especializadas. De acordo com as investigações, grande parte dos eletrônicos seguiu para áreas controladas por milicianos. Até as 8h20m, 12 pessoas haviam sido detidas — dois PMs estão entre os detidos. Eles foram conduzidos pela Corregedoria da Polícia Militar para prestar esclarecimentos.
A ação, deflagrada após dois meses de investigação, tem ao todo 26 alvos, entre eles e a ex-vereadora Carminha Jerominho, filha de Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, condenado por chefiar a maior milícia do Rio. Ela teria comprado dois celulares roubados. Com Carminha, localizada por agentes na casa vizinha a sua, num condomínio em Campo Grande, na Zona Oeste da capital, não foram encontrados os telefones.
Carminha foi conduzida para prestar depoimento e chegou à Cidade da Polícia, no Jacarezinho, na Zona Norte, por volta das 9h25 da manhã. Ela disse que possui as notas dos aparelhos celulares que comprou, numa loja em Campo Grande. Os celulares, segundo ela, foram dados à mãe e ao pai. Tio da ex-vereadora, Natalino José Guimarães, que foi condenado por pertencer à milícia, levou os aparelhos até a Delegacia de Roubos e Furtos de Carga (DRFC).
— Eles estão fazendo o trabalho deles, a gente não tem que questionar o trabalho da polícia, eu comprei de fato dois celulares numa loja, em Campo Grande, tá tudo direitinho no extrato do cartão, parcelado, a polícia bateu que são os aparelhos e a gente tem que vir aqui prestar depoimento — disse.
A ex-vereadora também explicou o motivo de estar na vizinha e não em casa no momento em que os policiais civis bateram à sua porta. De acordo com ela, sua filha de 10 anos estava nervosa:
— A minha irmã me ligou dizendo que tinha uma busca e apreensão e eu fui levar a minha filha à casa da vizinha, porque ela estava extremamente nervosa, só tem 10 anos de idade, o delegado viu o estado dela, e eu estava tentando tranquilizá-la, ela não me deixava sair. E eu pedi à vizinha para que chamasse o delegado para que ele visse porque eu não estava conseguindo sair. Eu vim de forma voluntária, não tem mandado para me conduzir até aqui, mas eu quero explicar tudo direitinho. Eu comprei (o celular) por preço normal.
Celulares revendidos em sete regiões
A operação foi montada com base em dados coletados em duas apurações sobre quadrilhas especializadas em roubos de cargas — especificamente aquelas que miram telefones celulares de última geração. De acordo com a polícia, os aparelhos eram revendidos a moradores dos bairros de Campo Grande, Sepetiba, Paciência, Curicica, Tanque e Rio das Pedras, na Zona Oeste, e de Itaguaí, na Baixada Fluminense.
A ação foi batizada de Operação Cegueira Deliberada. Agentes da DRFC e de mais 12 unidades especializadas e unidades do interior participam da ação. Os agentes visam a cumprir mandados de busca e apreensão em vários bairros do Rio e no município de Volta Redonda, no Sul Fluminense. Todos os presos vão responder pelo crime de receptação.
O nome da operação é uma referência ao fato de que muitos dos receptadores de celulares alegam que não conheciam a origem ilícita dele, mas deixam de verificar, de forma deliberada, esse fator. Eles não pedem a nota fiscal e dados dos vendedores. A DRFC disponibilizou o número (21) 2202-0510 para denúncias.
Roubo de R$ 3 milhões no Galeão
Um dos roubos realizados pela quadrilha ocorreu no Terminal de Cargas do Aeroporto do Galeão, na Ilha do Governador, na Zona Norte. No dia 07 de março de 2020, um grupo armado levou mais de R$ 3 milhões em aparelhos telefônicos do local.
Outra investigação é a respeito de uma ação criminosa realizada em Ipanema, na Zona Sul, quando foram levados mais de R$ 120 mil reais em aparelhos num roubo ocorrido na Rua Alberto de Campos.