Jornal Povo

Paes critica ação policial no Jacarezinho e decisão do STF com relação às operações em favelas

O prefeito Eduardo Paes voltou a criticar, nesta sexta-feira, a operação da Polícia Civil do Rio na Favela do Jacarezinho, na Zona Norte da cidade, que deixou 25 pessoas mortas. Para ele, a situação é resultado de uma política de segurança pública “inexistente e equivocada”. Paes destacou que “isso submete policiais a risco e permite que o crime se alastre”. Na entrevista coletiva, o prefeito também fez um apelo ao Supremo Tribunal Federal para que tome uma decisão exigindo do Estado que exerça “o monopólio da força cumprindo a lei”. Ele disse que, “se há uma intervenção a ser feita, não é tirando o bode da sala. Se há uma irregularidade, precisa ser investigada e punida. Mas que decisão é essa que diz que a polícia não pode entrar no local?”, indagou.

Eduardo Paes, prefeito do Rio
Eduardo Paes, prefeito do Rio Foto: Reprodução

— Tenho absoluta convicção de que isso decorre de uma política de segurança pública inexistente e equivocada. Isso submete policiais a risco e permite que o crime se alastre — avaliou.

O prefeito disse ainda que conversará com o governador Cláudio Castro sobre a ação policial:

— A Cidade da Polícia, que reúne toda a inteligência da polícia, fica em frente ao Jacarezinho. Como está dominado pelo poder paralelo? Devíamos ter saído com 25 pessoas presas. Essa é a oportunidade grande de fazer uma ocupação permanente no Jacarezinho. A reação à ação de ontem não pode ser tão radical no sentido inverso, de permitir que o crime lá se alastre. Mas também não podemos dar voz a esses loucos que acham que se pode invadir a casa de um cidadão comum e promover violência. É preciso um ponto de equilíbrio nessa história. O monopólio da força precisa ser do Estado. Vou conversar hoje com Cláudio Castro que precisamos restabelecer isso. Ninguém tem que andar com fuzis ou outras armas, como a que vitimou um agente do estado ontem, por lá.

Paes informou que escolas tiveram que ser fechadas no Jacarezinho por causa do confronto que começou no início da manhã e continuou até a tarde.

— Entendam por que a porcaria da escola tem que abrir (desculpem o “porcaria”). Dezoito escolas fecharam ontem no Jacarezinho por causa da operação. Precisamos educar nossas crianças — disse.

O prefeito citou ainda outra região da cidade que tem a rotina ditada pela violência: a Vila Aliança, na Zona Oeste. Ele contou que teve que cancelar uma visita à região no último sábado por questões de segurança:

— Isso é normal? É normal uma decisão da Suprema Corte que impede todas as ações policiais num local? Por outro lado, é normal uma ação que, em contraponto, invade a comunidade e promove violência? Precisamos de um meio-termo.

Para Paes, é preciso que o acesso de policiais às comunidades seja liberado e as ações que foram alvos de denúncias de abusos, investigadas.

— Faço aqui um apelo ao STF (Supremo Tribunal Federal): se há uma intervenção a ser feita, não é tirando o bode da sala. Se há uma irregularidade, precisa ser investigada e punida. Mas que decisão é essa que diz que a polícia não pode entrar no local? Se não pode entrar porque mata, é porque o Estado é assassino. Se é assassino, que seja punido — afirmou.

Ele lembrou ainda a frase dita por Wilson Witzel durante sua campanha ao governo do estado — “do tiro na cabecinha” — e explicou que “não quer esculhambar forças policiais nem passar a mão em cima de bandido”. Para o prefeito, “não podemos ficar nessa dicotomia”.

— Vai pra lá um maluco que diz que tem que dar tiro na cabecinha. Maluco mesmo. Só um maluco pra ganhar aquela eleição. Ele dizia na minha frente: “Vou dar tiro na cabecinha”, e as pessoas aplaudiam. É normal isso? Não vou passar a mão na cabeça de delinquente, bandido. Mas isso não pode acontecer. Não quero esculhambar as forças policiais nem passar a mão em cima de bandido. Mas não podemos ficar nessa dicotomia. O apelo do prefeito é: não tomem uma decisão proibindo o Estado de exercer o monopólio da força. Tomem uma decisão exigindo o Estado a exercer o monopólio da força cumprindo a lei.