Policiais da 14ª DP (Leblon) prenderam preventivamente nesta quinta-feira o homem suspeito de ter furtado a bicicleta de Mariana Spinelli e Tomás Oliveira, na tarde do último sábado, na porta do Shopping Leblon, na Zona Sul do Rio. O casal está sendo acusado de racismo pelo instrutor de surfe Matheus Ribeiro, por ter interpelado o jovem, minutos depois do crime, no mesmo local. O rapaz estava em uma bicicleta idêntica a deles, de acordo com o depoimento que prestaram na delegacia.
Segundo a delegada Natacha Alves de Oliveira, titular da 14a DP, Igor Martins Pinheiro, de 22 anos, foi surpreendido pelos agentes em casa, em um prédio em Botafogo, também na Zona Sul. No apartamento, foram localizados a bermuda que ele usava no momento do furto e ferramentas para a prática do crime, como alicate de corte usado para romper cadeados. Imagens de câmeras de segurança, flagram a ação de Igor, que demorou menos de dois minutos.
O vídeo mostra o rapaz disfarçando na esquina, arrombando o cadeado, subindo na bicicleta e saindo pedalando rapidamente. Em seu Relatório de Vida Pregressa (RVP), Igor possui 28 anotações criminais, 14 delas por furto a bicicletas.
— Chegamos a ele através de uma testemunha que viu o caso e pensou que era algo normal e análise de câmeras de segurança. O suspeito foi reconhecido pela inteligência da delegacia. Ele é um criminoso contumaz. Ele foi preso quando saía do prédio onde mora com a mãe e o irmão. Ele foi abordado por volta das 18h de ontem, e conseguimos o mandado de prisão através do Plantão Judiciário — contou a delegada Natacha.
O caso ganhou repercussão nas redes sociais depois que Matheus publicou um vídeo em seu perfil no Instagram narrando como aconteceu a abordagem do casal. “Ela não tem ideia de quem levou sua bicicleta, mas a primeira coisa que vem à sua cabeça é que algum neguinho levou”, escreveu. Ele fez um registro de ocorrência online narrando ter sido acusado de roubo por Mariana Spinelli e Tomás Oliveira.
— Minha intenção com essa denúncia não é ter um ganho pessoal, direcionado aos dois. É uma questão de racismo na sociedade inteira. Minha intenção é fazer com que as pessoas entendam que acusar um negro sem que ele tenha feito nada é grave precisa ser levado a sério — disse, em entrevista.
Natacha contou que o casal, o designer Tomás Correia de Araújo Oliveira, 25, e a professora de dança Mariane Ribeiro Spinelli, de 27 anos, “estão muito surpresos com tudo o que está acontecendo”. A delegada conta o que ambos disseram nos depoimentos:
— As pessoas que foram acusadas pelo Matheus compareceram aqui na delegacia e relataram que haviam deixado a bicicleta afixada no bicicletário para irem ao shopping — onde ficaram por cerca de 30 minutos. Após isso, eles (afirmam que) saíram e olharam para o lado e não viram a bicicleta. No outro lado eles disseram que estava o Matheus, com uma bicicleta que era idêntica a deles. Mesma cor, mesmo modelo, mesmo cadeado e isso fez com que os mesmos pensassem que pudesse a bicicleta. A Mariana conta que estava muito nervosa porque aquela era uma bicicleta que ela tinha acabado de pegar na loja e parcelado em 12 vezes e que não havia pago nem a primeira prestação — afirmou a investigadora.
Natacha disse ainda que Mariana afirmou ter ficado “bem transtornada e isso fez com que eles fossem ao encontro do Matheus para o esclarecimento dos fatos”. A delegada afirma que nem Matheus e nem o casal mencionaram sobre qualquer ofensa expressa e verbal de caráter racial.
— Diante da narrativa tanto do Matheus quanto das pessoas que estão investigadas, em nenhum momento foi mencionado a existência de nenhuma ofensa expressa verbal de caráter racial. Essa menção não foi nos trazida por parte do Matheus ou do casal. Então, por isso, a gente investiga esse caso como calunia e não injuria — diz Natacha.
Segundo a Polícia Civil, imagens de câmeras de segurança do prédio onde mora Igor, com a mãe e o irmão, mostram o criminoso chegando com a bicicleta de Mariane.
Em depoimento, o instrutor de surfe contou que o casal tentou abrir o cadeado dele e, como a chave não entrou, pediu desculpas. Na delegacia, Mariana e Tomás negaram ter abordado o jovem em razão da cor de sua pele, mas pelo fato de as bicicletas e dos cadeados serem idênticos. A moça disse relatou estar desesperada por ter comprado a bicicleta elétrica em 12 vezes e ainda não ter pago nem a primeira prestação.