Nos últimos sete sábados, uma avó e três mães se reuniram numa corrente de orações com um mesmo pedido nos corações. Moradoras do Complexo do Castelar, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, elas rezam juntas para reencontrar Lucas Manhães da Silva, de 9 anos, Alexandre Silva, de 11, e Fernando Henrique Soares, de 12. As três crianças estão desaparecidas desde o dia 27 de dezembro, quando foram vistas pela última vez em uma feira no bairro de Areia Branca, localizado no mesmo município. Desde então, não foi desvendado o paradeiro das crianças. O que resta às famílias é se apegar à fé.
Hoje, quando se completará seis meses do triplo desaparecimento, Silvia Regina da Silva, de 58, suas filhas Camila Paes Silva e Rana Jéssica da Silva, respectivamente mães de Lucas e Alexandre, e a amiga Tatiana da Conceição, mãe de Fernando, vão a um culto numa igreja do Bairro Jambuí , vizinho ao Castelar, para mais uma vez orar pela volta dos três meninos. Silvia disse que, durante todo este tempo de procura e angústia, duas datas foram as de maior dificuldade e dor para a família.
— No dia 15 de março, o Alexandre fez 11 anos. E no dia 15 de abril, o Lucas, nove. Foi muito difícil para nossa família. A gente se ajoelhou na minha casa e pediu a Deus pela volta deles. Tenho certeza que vamos encontrar todos eles vivos — disse Silvia Regina, que tem sonhado com os netos: — Sonho sempre. Já sonhei com eles voltando, já sonhei até com eles pedindo para serem salvos. Acho que eles devem estar presos em algum lugar.
Entre a reza e a espera, Silvia e as mães costumam ir às ruas da Baixada e do Rio para colar em postes, muros e ônibus, cartazes com fotos dos desaparecidos. Elas também vão, de de 15 em 15 dias, à Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense (DHBF), onde estão concentradas as investigações e as buscas pelos três meninos.
— Já fui colar cartaz com as fotos dos meninos em Madureira, Vila Valqueire, Leblon e em um monte de lugar. A gente também vai sempre na delegacia para perguntar como estão as coisas. A resposta que recebemos, por enquanto, é sempre a mesma. Que eles( policiais) continuam com as buscas pelos garotos e que a gente tem que esperar — disse a avó de dois dos três desaparecidos.
Segundo Silvia Regina, as três famílias optaram por não mexer em nada e manter todos os pertences dos meninos guardados no mesmo lugar que estavam quando o trio desapareceu.
— O quarto do Lucas, a bicicleta dele, está tudo do mesmo jeito. As roupas e os brinquedos dos três meninos estão onde eles deixaram. Tá tudo guardado esperando a volta deles — conclui.
Imagens de câmeras de segurança, analisadas em um laboratório do Ministério Público, mostraram a última vez que os garotos foram vistos. No vídeo, os meninos passam por uma rua, a caminho da Feira de Areia Branca. Depoimentos recolhidos pela DHBF revelam que os meninos chegaram a ir à feira. Segundo o depoimento de uma testemunha, as crianças teriam entrado em uma loja para perguntar o preço de algumas mercadorias. Logo depois, elas deixaram o comércio sem levar nada. Segundo a Polícia Civil, a principal linha de investigação da DHBF leva em consideração a hipótese de que traficantes do Castelar estejam envolvidos no sumiço das crianças. Policiais da especializada, com auxílio de blindados e de cães farejadores, chegaram a realizar operações e vasculhar terrenos da comunidade, mas nenhum vestígio dos desaparecidos foi encontrado. Procurado pela falar sobre o assunto, o Ministério Público disse que as investigações prosseguem em conjunto com a DHBF e que, por ora, não há novidade para ser divulgada.
As buscas continuam
Perguntada sobre novidades na investigação no momento em que o desaparecimento dos meninos completa seis meses, a DHBF enviou uma nota dizendo apenas que continua as investigações e buscas para localizar os meninos desaparecidos. “Os agentes realizaram diversas diligências desde o registro feito na delegacia e operações para encontrar os garotos. Familiares foram ouvidos, imagens de câmeras de segurança foram analisadas e outras ações foram empreendidas para esclarecer o caso”, segundo a nota.
Nas últimas semanas, a equipe da especializada disse que ouviu novos depoimentos de testemunhas. Enquanto isso, as famílias esperam. E rezam.