Dividindo uma cela de oito metros quadrados do Instituto Penal Ismael Silveiro, em Niterói, com uma mãe acusada de maus-tratos, Monique Medeiros da Costa e Silva conta que, em 85 dias, leu a Bíblia e outros 23 livros. Recebendo somente a visita dos advogados Thiago Minagé, Hugo Novais e Thaise Assad, ela também tem escrito cartas sobre sua estratégia de defesa e ainda mensagens ao pai, a mãe e ao irmão. Em entrevista exclusiva, na manhã desta segunda-feira, a professora narrou como estão sendo os dias no cárcere, atacou o ex-companheiro — o médico e ex-vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, a quem acusa pela morte do filho, Henry Borel de Almeida — e garantiu que irá provar sua inocência na Justiça. O casal é réu pelos crimes de tortura e homicídio triplamente qualificado contra o menino de 4 anos.
Como têm sido esses quase três meses privada de liberdade?
Muito difíceis. Na verdade, o que sinto é que minha vida foi completamente destruída — não só a liberdade, mas perdi também meu bem maior, o meu amor, o meu filho.
Você se arrepende de algo?
Sim, me arrependo muito principalmente de ter colocado alguém dentro da minha casa sem prever que ele poderia fazer algum tipo de mal. Moramos somente dois meses juntos, mas foi o tempo suficiente para ele ter acabado com o meu mundo.
Como era seu relacionamento com Jairinho?
Em julho, ele começou a me mandar mensagens pelo Instagram elogiando as minhas fotos. Eu vi que ele era uma pessoa respeitável, um vereador com vários mandatos e que as pessoas o consideravam bastante. Então começamos a conversar e, em 31 de agosto, marcamos um almoço. Ele se mostrou um homem gentil, educado, inteligente e isso encanta qualquer um. Dois dias depois do almoço, no nosso segundo encontro, Jairinho já me apresentava como namorada para políticos e desembargadores. Em outubro, o Henry o conheceu em um restaurante, lhe deu um abraço e não parou mais de falar seu nome. Assim que ele foi eleito, ele disse que queria alugar um apartamento. Então, em janeiro nos mudamos.
E como foi a adaptação do Henry à nova rotina?
Ele passava os finais de semana com o pai, metade da semana com os avós e a outra metade comigo e com o Jairinho. Não foi fácil, ele não conseguia dormir sozinho no quarto e o Jairinho passou a reclamar disso, dizer que ele era mimado. Passamos a brigar por isso e também pelo ciúmes excessivo dele, que queria controlar minhas redes sociais e meu celular.
O que você tem a dizer sobre as acusações de torturas e da morte do seu filho?
Em momento algum eu tive conhecimento que o Henry estava sendo agredido ou sofrendo algum tipo de tortura psicológica por parte dele. Eu, como professora e diretora de escola, já encaminhei diversas denúncias de maus-tratos ao Conselho Tutelar e, por isso, sabia que o primeiro passo era ter a violência atestada por um profissional médico. No dia seguinte ao Henry e a babá terem me ligado quando estava no salão, levei ele no hospital, mas nenhuma lesão foi identificada. Ele era muito branquinho, eu nunca vi nenhum hematoma, nenhum machucado.
Por que você corroborou o que Jairinho disse em depoimento?
Porque eu não sabia de nada. Eu realmente peguei meu filho nos braços, com os olhinhos abertos, achando que ele estava vivo e tinha sofrido um acidente doméstico. Eu não imaginava o que podia ter acontecido.
E quando você se deu conta?
Quando cheguei na cadeia.
Hoje, qual a sua visão sobre ele?
Depois de saber de tantas agressões, vejo que meu filho foi a primeira vítima fatal dele. Infelizmente, o Henry precisou morrer para que todas essas torturas fossem reveladas e que as mulheres tivessem coragem de denunciar. Agora, eu acredito que a Justiça vai ser feita e que eu vou conseguir provar a minha inocência. Mas sei também que viverei num luto eterno, porque mesmo que haja Justiça, meu filho não vai mais voltar.