Ex-diretor do Departamento de Logística do da Saúde, Roberto Dias saiu preso da CPI da Covid
O presidente da CPI da Covid, Osmar Aziz (PSD-AM), deu voz de prisão para o ex-diretor de logística do Ministério da Saúde Roberto Ferreira Dias, que prestou depoimento nesta quarta-feira, após virem à tona, em reportagem da CNN, áudios que desmentem a versão de Dias sobre encontro com o cabo da Polícia Militar Luis Paulo Dominghetti, em restaurante em Brasília.
— Ele vai ser recolhido pela Polícia do Senado. Está mentindo desde manhã — determinou Omar Aziz.
Dias foi acusado por Dominghetti, que se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply e negociava a compra da vacina AstraZeneca pelo governo federal. Segundo o vendedor, Dias cobrava um dólar por dose de vacina vendida ao ministério.
Segundo o presidente da CPI, Dias mentiu sobre o encontro com Dominghetti, em um restaurante em Brasília, onde ele teria feito o pedido de propina. À comissão, Dias disse que o jantar entre os dois não foi programado. Ele estava tomando chope com um amigo quando o PM apareceu. Omar, porém, citou áudios do celular de Dominguetti apontando que o encontro foi previamente combinado.
— Os áudios do Dominguetti são claros — disse Omar.
Omar Aziz também reclamou que o ex-diretor deixou de dar informações em resposta a algumas perguntas dos senadores, dizendo que o departamento dele não cuidava de um assunto.
Dias confirmou que conheceu Dominghetti no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, mas negou ter pedido propina e disse que solicitou ao representante da empresa Davati que encaminhasse um pedido formal de compra de vacina, que nunca prosperou.
— Estou sendo acusado sem provas por dois cidadãos, o senhor Dominghetti, que aqui nesta CPI foi constatado ser um picareta que tentava aplicar golpes em prefeituras e no Ministério da Saúde — disse Dias completando: — O deputado Luis Miranda possui um currículo controverso — disse, fazendo menção ao parlamentar que o acusa de pressionar de forma “atípica” a compra da vacina Covaxin.
Segundo Dias, o encontro com Dominghetti no restaurante não foi marcado previamente:
— Eu tinha uma reunião com um amigo no restaurante para um chope. Na sequência, o coronel Blanco chega com esse senhor que posteriormente foi identificado como Dominghetti. Como não foi um evento marcado, combinado, não me recordo de detalhes — disse.
O coronel Marcelo Blanco ocupava um cargo no Ministério da Saúde. Dias acredita que o militar descobriu que ele estava no restaurante, tendo levado Dominghetti. No encontro, eles combinaram de ter uma reunião no dia seguinte no Ministério da Saúde.
— Para que não fosse tratado fora do âmbito do Ministério da Saúde, pedi que fosse realizada uma agenda oficial — disse o ex-diretor de logística da pasta.
Áudios de Dominghetti
No entnato, reportagem da CNN revelou que, no dia 23 de fevereiro, dois dias antes do encontro, Dominghetti enviou um áudio a um interlocutor, chamado Rafael:
“Rafael, tudo bem? A compra vai acontecer, tá? Estamos na fase burocrática. Em off, pra você saber, quem vai assinar é o Dias mesmo, tá? Caiu no colo do Dias… e a gente já se falou, né? E quinta-feira a gente tem uma reunião para finalizar com o Ministério”, diz Dominghetti.
Dois dias depois, na quinta-feira, dia do encontro, Dominghetti cita já ter uma reunião marcada para “finalizar com o Ministério”. O PM recebeu um áudio de Odillon, um dos interlocutores que ajudou na aproximação com os militares do ministério. Na mensagem, Odillon pergunta: “Queria ver se vocês combinaram alguma coisa para encontrar com o Dias”. Isso foi às 14h51.
No dia 26, após reunião com Roberto Dias no Ministério da Saúde, Dominghetti entra em contato com Rafael. A mensagem foi enviada às 17h16. A agenda oficial da pasta registra o encontro às 15h
“Rafael, acabei de sair aqui do Ministério. Tudo redondinho. O Dias vai ligar pro Cristiano (representante da Davati no Brasil) e conversar com o Herman (CEO da Davati) ainda hoje, tá. Ele tá afinando essa compra aí, várias reuniões certificando a turma de que a vacina já está à disposição do Brasil”, diz Dominghetti.
Advogada e senadores tentam evitar prisão
A advogada do ex-diretor tentou argumentar:
— Ele está desde às 10h da manhã. Veio colaborar, prestando todas as informações que ele tem.
— Eu vim aqui colaborar — disse Roberto.
— Não — afirmou Omar, acrescentando: — Qual a colaboração que deu?
— Prestou informações valiosíssimas — disse a advogada.
As senadoras Eliziane Gama (Cidadania-MA) e Soraya Thronicke (PSL-MS) tentaram intervir em favor do ex-diretor do Ministério da Saúde.
— Eu queria pedir fazer um apelo à advogada de Roberto Dias para que possa falar a verdade, trazer as informações e portanto evitar essa prisão. Ele tem a oportunidade de fazer isso — disse Eliziane, completando: — Não há dúvida de que mentiu. O apelo é que fale a verdade.
— Ele pode se retratar — afirmou Soraya.
O senador Marcos Rogério (DEM-RO) reclamou que a prisão foi um ato ilegal.
O senador Alessandro Vieira (Cidadania- SE) disse que é defensor da prisão em flagrante de quem mente na CPI, mas destacou que outros não foram presos.
— A gente não colocou um general que estava mentindo na cadeira — afirmou, pedindo também para que a decisão fosse revista.
— O general não foi preso porque ele chegou aqui com mandato de segurança de dava o direito de ficar calado — justificou Aziz.
Omar finalizou a sessão dizendo:
— Temos 527 mil mortos. E os caras brincando de negociar vacina. Por que ele não teve esse empenho para comprar a Pfizer? Por quê? Ele está sendo preso por mentir, por perjúrio E se eu tiver abuso de autoridade, que a advogada dele me processe. Mas ele está detido pelo Brasil. Estamos aqui pelo Brasil, pelos que morreram, pelas vítimas sequeladas. Todo o depoente que estiver aqui e achar que pode brincar terá o destino dele. Ele está preso e a sessão está encerrada. Pode levar.
Questionado sobre a ordem de prisão ao ex-diretor, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que essa questão era exclusivamente do Congresso Nacional:
— Meu papel é conduzir a saúde pública no Brasil, eu já disse isso de maneira reiterada. O meu foco é conter o caráter pandêmico da pandemia da Covid-19. Essas questões do Parlamento são do Parlamento, não do ministro da Saúde — declarou em entrevista à imprensa.
Número 2 de Pazuello
O ex-diretor também afirmou à CPI da Covid que as negociações para a compra de vacinas estavam “restritas” à secretaria-executiva da pasta e não tinham relação com o departamento onde trabalhou. No entanto, Dias se contradisse ao afirmar que não negociava vacina, mas confirmar que recebeu e-mail da empresa que ofereceu o vacina indiana Covaxin. Dias foi exonerado do cargo logo após a denúncia de um suposto pedido de propina se tornar pública, além de ter sido acusado de pressionar de maneira ‘atípica’ a compra da vacina indiana Covaxin.
Apontado como indicação do deputado Ricardo Barros (PP-PR) e do ex-deputado Abelardo Lupion, Roberto Dias é considerado peça-chave para desvendar detalhes de denúncias de irregularidades na negociação de compra da vacina AstraZeneca, feitas pelo vendedor Luiz Dominghetti, e da indiana Covaxin, reveladas pelo deputado Luis Miranda (DEM-DF) e o irmão dele, o servidor do Ministério da Saúde Luis Ricardo Miranda.
Questionado sobre a negociação sobre as vacinas, Dias disse:
— Negociação de vacina de Covid-19 não era minha atribuição.
Dias disse que a reunião oficial, no Ministério da Saúde, foi tão somente para entregar o documento que atestaria que a empresa representava a AstraZeneca e a existência realmente de 400 milhões de doses.
— Se faz agendamento com representantes da empresa, se não é negociação, é o que, pelo amor de Deus? — questionou a senadora Eliziane Gama (Cidadania -MA).
O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), perguntou por que ele discutiu vacina se isso não era atribuição dele, e sim da secretaria-executiva.
— Não houve negociação. O que houve foi a verificação da existência das 400 milhões [de doses]… — respondeu.
— Não era mais com você! Não tem lógica isso! — interrompeu Aziz.
Depois, Dias disse que um diretor da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS) da pasta, com a “mesma honestidade de propósito”, recebeu a Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), para verificar a existência das doses. Apesar do nome, a Sehan é uma entidade privada.
Diante da contradição, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), sugeriu uma acareação entre Roberto Dias e o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde Elcio Franco.
Humberto Costa (PT-PE) também defendeu a convocação de Elcio:
— O secretário- executivo recebeu superpoderes para comprar vacinas, portanto é o grande responsável pelos atrasos e pelas tentativas de golpe como foi essa vacina da Davati. Ele precisa vir aqui.