O prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), defendeu na segunda-feira, em sua conta no Twitter, que o Ministério da Saúde vacine idosos de todo o país com uma terceira dose da vacina contra a Covid-19 ainda neste ano. O chefe do executivo municipal pediu que o ministro Marcelo Queiroga faça uma resolução incluindo uma terceira dosagem no cronograma de imunização já a partir de setembro. A solicitação do prefeito aconteceu após o Governo Federal anunciar que gestantes e puérperas – mulheres que deram à luz há menos de 45 dias – que foram imunizadas com a primeira dose da AstraZeneca poderão receber um imunizante diferente na segunda aplicação. De acordo com a pasta, elas deverão receber “preferencialmente” a segunda dose da Pfizer. Quando não for possível, poderão completar a imunização com a CoronaVac. O Rio já vinha adotando essa medida antes. O Plano Nacional de Imunização (PNI) não tem um estudo para que idosos sejam imunizados uma terceira vez. “Tá na hora de avançar também na decisão de, em setembro, aplicar a terceira dose nos idosos. Vamos salvar vidas”, escreveu o prefeito em uma publicação de Queiroga.
Desde o começo do mês, Paes vem manifestando a intenção de oferecer uma dose de reforço contra a Covid-19 até o fim do ano. Para o prefeito, a medida pode dar um início a um esquema anual de revacinação. Segundo especialistas, essa necessidade pode ser motivada pelo surgimento de novas cepas do coronavírus e pelo tempo de imunidade conferido pelas fórmulas disponíveis, que tem sido objeto de estudos em vários países.
De acordo com a Secretaria municipal de Saúde (SMS), 3.682.352 pessoas já foram vacinadas na capital, com pelo menos uma dose da vacina no município do Rio. Desse total, 1.201.398 são de idosos.
As doses de reforço seriam para todas as pessoas com 60 anos ou mais. No começo do mês, o prefeito explicou que, com o fim do calendário adiantado, caso a medida seja implementada, haverá tempo para vacinar novamente a população idosa, que já foi imunizada no início do ano.
– Estamos avançando muito o calendário, chegamos aí a um prazo de 4 de agosto, que vai ser cumprido no dia 17 de julho. Então, há uma chance grande ali de a gente chegar ali em meados de agosto, (e) já ter dado a primeira dose em todo mundo, em meados de outubro ou novembro já ter dado a segunda dose em todo mundo. E assim poder pegar as pessoas mais idosas, que já tomaram no início do ano, que provavelmente terão que ser vacinadas de novo – acrescentou o político em 1 de julho. Uma terceira dose já vem sendo discutida junto ao comitê científico de enfrentamento à Covid-19 da cidade.
Para o infectologista Alberto Chebabo, membro do comitê científico do município, novas injeções de reforço provavelmente serão necessárias no futuro, embora a prioridade atual do Rio seja garantir a imunização com pelo menos uma dose de toda a população adulta.
— Quase todos os institutos produtores estão trabalhando com a possibilidade da terceira dose. No fim do ano, já teremos uma grande quantidade de pessoas vacinadas há muito tempo. E sabemos que os idosos, os primeiros vacinados, têm, de modo geral, uma resposta menos potente à vacina. É muito provável que, para eles, a essa altura, já sejam indicadas três doses de todas as vacinas. Pelo próprio envelhecimento do sistema imune, maiores de 60 anos normalmente não respondem tão bem à imunização. Não só eles, mas outros públicos, como os imunodeprimidos — diz Chebabo.
No momento, a grande questão em debate no comitê é se as doses de reforço necessariamente serão do mesmo fabricante das primeiras duas doses ou se poderão ser de outra fórmula:
— A maioria dos idosos foi vacinada com a CoronaVac. Precisamos de mais evidências para saber se a terceira dose será da mesma fórmula. O próprio Instituto Butantan deve providenciar essas evidências, porque é responsabilidade do produtor avaliar o nível de imunidade garantido pela vacina e fazer propostas quanto à aplicação da terceira dose.
Em maio, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, previu a necessidade de doses de reforço da CoronaVac. Em depoimento à CPI da Covid-19, ele disse que o tempo de duração da imunidade conferida pelas vacinas disponíveis — que ainda são objeto de estudo no mundo — e o surgimento de novas variantes do vírus podem implicar a vacinação de pessoas já imunizadas.
— Com relação a uma dose adicional, uma terceira dose — eu não tenho chamado de terceira dose, mas de dose de reforço —, isso será necessário neste momento para todas as vacinas, não só em relação à própria duração da imunidade, na minha opinião, é claro, como também em relação às variantes — disse ele.
Covas ressaltou, contudo, que ainda não é hora de se preocupar com a injeção de reforço. Ele salientou que a CoronaVac já apresenta um alto nível de eficiência e segurança após as duas doses, o que ficou provado pelos resultados do estudo de imunização em massa desenvolvido na cidade de Serrana, em São Paulo. Segundo o Instituto Butantan, depois do fim da vacinação, o índice de mortes por Covid caiu 95% no município.
Segundo Chebabo, a distribuição das doses de reforço será escalonada por idade, como foi a aplicação das duas primeiras injeções. Depois da revacinação da população idosa, será a hora de avaliar quais outros públicos merecem tomar injeções de reforço e quando. Esse tema já é debatido em nações com vacinação mais ágil, como Reino Unido, Canadá e Estados Unidos.
No início de junho, os Emirados Árabes Unidos e o Bahrein passaram a disponibilizar a vacina contra a Covid-19 da Pfizer/BioNTech como dose de reforço para aqueles inicialmente vacinados com a CoronaVac. No final de junho, a Turquia anunciou que vai começar a oferecer uma terceira dose da CoronaVac e da vacina da Pfizer contra a Covid-19 para profissionais de saúde e pessoas com mais de 50 anos, tornando-se o primeiro país com grande população a aprovar a medida.
Um estudo da Universidade de Oxford divulgado em junho indica que a terceira dose da vacina da AstraZeneca produz uma forte resposta imunológica. No entanto, segundo especialistas, ainda não há evidências de que tais aplicações sejam necessárias, especialmente por causa da escassez de imunizantes em alguns países.
A permissão da intercambialidade entre fórmulas na população em geral, um procedimento comum em outras campanhas de vacinação, depende do surgimento de mais evidências, avalia Chebabo.
— A vantagem dessa mudança seria uma contribuição para a própria gestão da campanha. Na falta da fórmula da primeira dose, uma pessoa pode tomar uma outra vacina na segunda — explica o infectologista.
Segundo a SMS, a possibilidade de uma dose de reforço da vacina contra Covid-19 para idosos “por questões éticas, uma terceira dose só poderá ser aplicada após toda a população estar protegida pelo esquema vacinal completo, e também após se avaliar se o intervalo a ser adotado seria de seis meses ou um ano”. A Prefeitura ainda disse que “quando a terceira dose for recomendada cientificamente e após a imunização de toda a população carioca com o esquema vacinal completo, a Secretaria Municipal de Saúde estará preparada para fazer a aplicação.”
‘Todos os cariocas acima de 18 anos’ terão ao menos a 1ª dose em três semanas, promete Paes
Paes anunciou que a vacinação contra a Covid-19 na cidade do Rio será retomada nesta quarta-feira (28). Pelo Twitter, o político informou ainda que as idades que seriam atendidas ao longo desta semana no planejamento anterior estão mantidas — o cronograma havia sido suspenso na última sexta-feira (23) por conta do atraso no envio de doses por parte do Ministério da Saúde.
Assim, pessoas de 34 anos poderão ser vacinadas na própria quarta, sendo mulheres de manhã e homens à tarde. Na quinta-feira, é a vez das mulheres de 33 anos, enquanto homens da mesma idade devem ir até os postos na sexta. Tanto a quinta quanto a sexta-feira também servirão, à tarde, para a repescagem de quem tem 34 anos ou mais, assim como no sábado poderá ser vacinado qualquer um com 33 anos ou mais.
Na mesma postagem, Paes afirmou que, “se não houver mais falhas na entrega”, todos os cariocas acima de 18 anos estarão vacinados ao menos com a primeira dose dentro de três semanas. “Bora distribuir acelerado”, escreveu o prefeito. A conta da Secretaria municipal de Saúde no Twitter também compartilhou o calendário mantido.
Mais cedo, também pelas redes sociais, Paes contou que o Ministério da Saúde havia antecipado a remessa de novas doses do imunizante, que chegariam à cidade já na noite desta segunda-feira. “Acabamos de receber uma ligação do departamento de logística do Ministério da Saúde, que nos informou estar adiantando as entregas desta semana para a noite de hoje (segunda-feira). Agradeço muito a parceria do ministro Marcelo Queiroga na aceleração desse processo”, postou o prefeito.
Pouco antes, o Ministério da Saúde também havia informado, no seu perfil em rede social, o envio, ontem, de 10,2 milhões de doses de vacina para todo o Brasil. Ainda segundo a postagem, serão 3, 812 milhões doses da AstraZeneca\Fiocruz, 1,036 milhão de AstraZeneca\ Covax Facility, 3,335 milhões Coronavac\Butantan e 2.104 Pfizer BioNTech.