Alunos de 1.542 escolas do município retornam ao ano letivo nesta segunda-feira em meio a uma polêmica. A Prefeitura do Rio suspendeu o cartão alimentação de R$ 54 disponibilizado para os estudantes durante a pandemia da Covid-19. O valor era correspondente à merenda e usado pelos responsáveis para compra de alimentos. A partir de agora, os estudantes que estiverem de forma remota só conseguirão fazer as refeições nas unidades de ensino. Apenas alunos com comorbidades receberão o benefício.
A diarista Girleide Alves Castro, de 45 anos, é mãe de Giovana Alves Castro do Nascimento, de 13, que está no 7º ano. Com medo, ela conta que tem receios quanto à pandemia, mas a menina precisa estudar.
— A conexão era péssima. Ela reclamava muito porque não conseguia conectar e estudar. Mas é preciso que ela volte a estudar presencialmente para que preste mais atenção. Dá insegurança, mas por isso vim aqui ver como está (à escola) — diz a diarista, que completa:
— Já está na hora dela voltar porque o que estava péssimo poderia piorar. Mesmo que seja pouco tempo, ela vai ficar aqui e aprender. Ela vem para prestar atenção naquilo que o professor diz presencialmente e não on-line, porque estava difícil de eu ensiná-la.
Ao todo, a rede municipal tem 644 mil alunos.
O primeiro aluno a chegar na Escola municipal Gonçalves Dias foi Gustavo dos Santos Ribeiro, de 13 anos. Ele estuda no Carioca II (com 8º e 9º anos juntos). Ele diz que vai estudar uma semana na escola e outra de forma remota.
— Vai ser bom essa volta. Será uma semana presencial e outra pela internet por conta do coronavírus. Metade da turma vem em uma semana e a outra vem na outra para não causar aglomeração — destacou Gustavo.
O estudante disse que não conseguiu dormir na expectativa.
— Acordei às 5h da manhã por conta da ansiedade. Por isso eu cheguei cedo — disse Gustavo, que completou: — Eu gosto da volta às aulas, só estou triste porque não estou na turma dos meus amigos. Mas agora as pessoas estão começando a se vacinar, tudo vai começar a ficar mais fácil. Espero que todo mundo receba a dose o mais rápido possível.
No 7º ano, Clara Andrade da Silva de Souza, de 13 anos, foi a segunda estudante a chegar. Ela diz que está feliz pela volta e afirma que os pais deram várias orientações.
— Estava ansiosa para voltar às aulas.
Segundo o secretário municipal de Educação, Renan Ferreirinha, uma única escola da cidade não abrirá as portas por problemas estruturais. A reabertura da unidade que fica em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, deve acontecer até o fim do mês.
— Em agosto toda a nossa rede estará aberta com a sua totalidade. Entretanto, as aulas remotas vão continuar. Mas é óbvio que queremos as crianças na escola. Fizemos uma pesquisa e 82% dos pais afirmam que querem mandar seus filhos para a escola. Estamos trabalhando em conjunto com o Comitê Científico — diz o secretário.
Ferreirinha afirma que as turmas serão divididas:
— O máximo de rodízio é de uma semana. Boa parte delas (das turmas) dá para ir todos os dias.
Sobre a merenda, ele disse que “a prefeitura tem uma política alimentar” e conseguirá abranger todos os estudantes.
— Temos muita confiança na nossa política alimentar. Todas as crianças vão poder se alimentar na escola. O cartão era uma medida emergencial e temporária. Com todo respaldo do prefeito, estamos voltando com a merenda na escola.
Com placas de “sejam bem-vindos” e “estamos felizes com sua presença”, alunos da Escola municipal Nilo Peçanha, também em São Cristóvão, foram recebidos por professores e funcionários.
A diarista Juliana César da Silva Santos, de 35 anos, tem uma filha matriculada no 8º ano da unidade. Ela diz que a menina de 13 anos terá apenas duas horas de aulas nesses primeiros dias. Durante os estudos on-line, jogos eram uma distração.
— Aqui eles dividiram em três horários de duas horas por turno. Mesmo tendo poucas horas de aula, prefiro ela na escola. Remotamente, ela fica dispersa. Aqui ela terá atenção — garante.
Pouco depois das 11h, parte dos alunos da Nilo Peçanha deixavam a unidade e outros chegavam.
Protocolos contra a Covid-19
Renan Ferreirinha diz que até as escolas mais longínquas terão segurança para os estudantes. Lá os alunos terão máscaras — para aqueles que não tiverem — álcool em gel, termômetros na entrada e distanciamento.
— Estamos preparados há tempos e a escola é o local mais seguro. E se precisar de mudar algo, faremos com celeridade. Peço aos pais, com muita convicção, mandem seus filhos para a escolas. Todos os profissionais da educação estão vacinados com a primeira dose e até o fim de setembro todos estão vacinados com a segunda — afirmou.
A cabeleireira Patrícia Gama Guimarães é mãe de uma aluna de 12 anos com espectro autista. Ela afirma que a criança precisava de um atendimento especial e, por isso, comemora a volta às aulas presenciais.
— A minha filha estava estudando on-line e estava mais difícil no ensino. Minha filha é autista e precisa de um mediador. Era complicado auxiliá-la, e aqui as professoras estão preparadas para isso. Infelizmente, o aprendizado da minha filha regrediu muito no ensino remoto. Ela tem retardo e para mim era muito difícil. Eu estou torcendo para o mundo voltar ao normal e para que ela possa aprender mais e mais — destacou Patrícia.
Ferreirinha afirma que a pandemia “potencializou a evasão escolar”.
— (A evasão escolar) é uma consequência da pandemia. No final do ano saberemos a porcentagem de alunos que saíram. A realidade é que criança fora da escola vai para o trabalho infantil, criminalidade e pra informalidade. Cabe a nós inibir essa evasão. Escola aberta é a principal arma para a desistência. Estamos com aulas de reforço de português e matemática e tutoria para quem tem mais dificuldade — afirma.
Na Escola municipal Joaquim Abílio Borges, no Humaitá, na Zona Sul da cidade, funcionários contaram que a adesão nesta segunda foi muito baixa. O local tem seis salas que não tiveram mais do que sete alunos cada.
— Não tivemos grande procura hoje. Está bem fraco o dia — disse uma funcionária.
Na Escola municipal Pedro Ernesto, na Lagoa, também na Zona Sul, das nove turmas, apenas três voltaram nesta segunda. Na unidade, que atende estudantes do 1º ao 5º ano, uma funcionária diz que muitos pais estão apreensivos e preferem não enviar os filhos.
— Temos alunos da Rocinha, do Vidigal, de Copacabana, de Benfica e até de Queimados. Muitos pais, com medo, ainda não têm mandado seus filhos. Mesmo com todos os protocolos — afirma a servidora.
A escola teve rodízio e para as próximas semanas os funcionários esperam reabrir as outras seis salas.
No estado, retorno em 69 municípios
Dos 92 municípios do estado, apenas 69 cidades retornaram às atividades presenciais, segundo a Secretaria estadual de Educação (SEEDUC), nesta segunda-feira. Nessas regiões as aulas serão híbridas. Ou seja, os pais e os estudantes poderão escolher se querem ou não voltar para a sala de aula. Aqueles que decidirem não retornar, terão matérias ministradas de forma remota.
Os municípios que retomam as atividades escolares de forma híbrida são: Angra dos Reis, Aperibé, Araruama, Areal, Armação de Búzios, Arraial do Cabo, Barra Mansa, Barra do Piraí, Bom Jardim, Cabo Frio, Cachoeiras de Macacu, Cambuci, Campos dos Goytacazes, Cantagalo, Cardoso Moreira, Carmo, Casimiro de Abreu, Comendador Levy Gasparian, Conceição de Macabu, Engenheiro Paulo de Frontin, Guapimirim, Itaboraí, Itaguaí, Itaocara, Itatiaia, Japeri, Macaé, Macuco, Mangaratiba, Maricá, Mendes, Mesquita, Miguel Pereira, Miracema, Natividade, Niterói, Nova Friburgo, Paracambi, Paraíba do Sul, Paraty, Paty do Alferes, Petrópolis, Pinheiral, Piraí, Porciúncula, Porto Real, Quatis, Quissamã, Resende, Rio Bonito, Rio Claro, Rio das Ostras, Rio de Janeiro, Santa Maria Madalena, Santo Antônio de Pádua, São Fidélis, São Gonçalo, São João de Meriti, São José do Vale do Rio Preto, São Sebastião do Alto, Sapucaia, Saquarema, Sumidouro, Tanguá, Três Rios, Valença, Varre-Sai, Vassouras e Volta Redonda.
De acordo com a SEEDUC, as unidades dos demais 23 municípios permanecerão com ensino exclusivamente remoto e funcionarão apenas para atividades administrativas, como a retirada de material pedagógico e do kit alimentação, além de entrega de documentos e matrícula de alunos.
Protocolo sanitário
A Secretaria estadual de Educação disse que todos as unidades de ensino “deverão realizar as adequações necessárias ao seu plano de ação em vigor, de acordo com o planejamento alternativo previamente elaborado pelo estabelecimento de ensino. Caberá às direções a organização das atividades presenciais, observando a sua realidade, considerando o projeto pedagógico da unidade escolar, os docentes disponíveis, o distanciamento social e os protocolos sanitários”.
Além disso, a pasta estabeleceu dois critérios para a retomada das aulas presenciais.
Se as cidades estiverem com bandeiras vermelha ou roxa — indicativos para a Covid-19 — , as unidades escolares da rede pública estadual funcionarão apenas para atividades administrativas. As aulas, nesses casos, acontecerão somente de forma remota.
Já a partir das bandeiras de risco laranja, amarela e verde, as escolas estaduais poderão desenvolver atividades pedagógicas com os estudantes que tenham interesse em frequentar aulas presenciais, mediante a capacidade física da unidade, em sistema de rodízio, respeitando as normas de distanciamento. Também deverá ser observado o seguinte percentual diário de funcionamento:
Ensino Fundamental:
- Até 50% da capacidade de atendimento da unidade escolar, no caso de bandeira laranja
- Até 75% da capacidade de atendimento da unidade escolar, no caso de bandeira amarela
- Até 100% da capacidade de atendimento da unidade escolar, no caso de bandeira verde.
Ensino Médio:
- Até 40% da capacidade de atendimento da unidade escolar, no caso de bandeira laranja
- Até 60% da capacidade de atendimento da unidade escolar, no caso de bandeira amarela
- Até 100% da capacidade de atendimento da unidade escolar, no caso de bandeira verde.
Volta às aulas na rede privada
As escolas particulares, vinculadas ao sistema estadual de educação, deverão funcionar seguindo as normativas dos municípios em que estão localizadas, em respeito à autonomia federativa dos entes municipais para fins de instituir protocolos que visem evitar a propagação da Covid-19, conforme entendimento do Supremo Tribunal Federal (STF). Caberá às autoridades de Saúde e de Vigilância Sanitária municipais fazer o acompanhamento e a fiscalização do cumprimento dos protocolos sanitários.