Problemas são antigos e em 2014, o Governo do Estado chegou a anunciar soluções, mas o projeto não saiu do papel
SuperVia monitora esses buracos e chega a fechar entre seis e dez por mês
Rio – Problemas antigos continuam provocando transtornos para passageiros que dependem dos trens para se deslocar entre bairros e municípios do Rio de Janeiro. Na manhã desta terça-feira (14), a circulação do ramal Santa Cruz foi afetada durante cerca de 1h30, por conta de um acesso indevido que provocou a morte de um homem na linha férrea, nas proximidades da estação de Bangu, na Zona Oeste da capital fluminense. Mas os atrasos e paralisações não são exclusividade do ramal e não aconteceram somente nesta terça. Na última semana, quem precisou usar o ramal Japeri teve que contar com a sorte para conseguir viajar.Desde o último dia 24, a circulação dos trens do ramal Japeri vem sofrendo atrasos e paralisações consecutivas, por conta do furto de cabos de sinalização, utilizado nos sinais ao longo da malha ferroviária para orientar o maquinista, cabos de energia, que mantêm ligadas as composições, que são elétricas, além de grampos que fixam os trilhos aos dormentes. Ao todo, foram registradas 364 ocorrências, mais de 14 mil metros de fios furtados e um prejuízo que passa de R$ 1 milhão, somente em 2021. Segundo a SuperVia, de janeiro a julho deste ano, 862 viagens foram interrompidas ou paralisadas apenas por conta desse tipo de crime.Ainda de acordo com a concessionária, das 104 estações do sistema ferroviário, nove são dominadas por criminosos e alvos constantes de problemas de segurança. As estações ficam nos ramais de Belford Roxo, Saracuruna e Santa Cruz. A empresa afirmou que, como previsto no contrato de concessão, a segurança pública no sistema ferroviário é uma responsabilidade do Governo do Estado, que atua em trens e estações por meio do Grupamento de Policiamento Ferroviário (GPFer) da Polícia Militar. “Importante ressaltar que os agentes de controle da SuperVia não têm poder de polícia para enfrentar essas situações. Eles realizam rondas em ações preventivas e acionam os órgãos competentes sempre que necessário”, disse a SuperVia. Por conta disso, o Governo do Estado precisou criar, no dia 1º de setembro, uma força-tarefa para coibir os furtos.
Entretanto, essas ocorrências não são as únicas a causar problemas no sistema ferroviário. Um levantamento da empresa mostrou que há cerca de 180 passagens clandestinas ao longo da malha ferroviária. A concessionária monitora esses buracos e chega a fechar entre seis e dez por mês. Apesar disso, cerca de 30% desses acessos voltam a ser abertos. Por conta do constante trânsito de pessoas em trechos de área exclusiva para a circulação dos trens, há redução de velocidade na via férrea, atrasando as viagens. O acesso indevido ainda põe em risco a vida do pedestre, do maquinista e dos passageiros, por conta de uma frenagem brusca e porque o trem ainda pode percorrer até 300 metros depois de acionado o freio de emergência.Ao longo dos 270 quilômetros da malha ferroviária, a concessionária enfrenta dificuldades, como instalações de barracas ao longo dos trilhos para o tráfico e consumo de drogas; ladrões que acessam a via para furtar; tiroteios, já que os criminosos, muitas vezes, atravessam a linha férrea para fugir ou se proteger; moradias construídas junto à linha do trem; lixo jogado na via; pedestres que usam as passagens clandestinas para atravessar irregularmente de um lado para outro da ferrovia; além de pessoas que abrem buracos ou pulam grades e muros para andar até as plataformas das estações e embarcar no trem sem pagar passagem.
“A SuperVia se preocupa com esse cenário no qual o trem do Rio de Janeiro está inserido, lamenta por todos esses casos que colocam em risco a vida dessas pessoas. A concessionária informa, com frequência, às autoridades competentes sobre a situação, inclusive com imagens, para que sejam tomadas as medidas cabíveis pelos órgãos responsáveis. As medidas necessárias para mudar essa realidade dependem da atuação do poder público, por envolverem construção de passarelas, desapropriações e programas sociais”, afirmou a Supervia, em nota.Em 2015, a empresa já estimava que existiam até 180 passagens clandestinas e, naquela época, quatro delas eram fechadas pela concessionária por mês, mas três eram reabertas em seguida. No ano de 2014, o Governo do Estado chegou a anunciar a construção de 15 viadutos, 31 passarelas e 27 quilômetros de muro ao longo dos ramais, mas o projeto não saiu do papel e os problemas continuaram acontecendo. Em nota, a atual gestão da Secretaria de Estado de Transportes informou que a “Central de Logística está desenvolvendo estudos para a melhoria da infraestrutura ferroviária, que podem incluir a construção de muros e passarelas.”