Jornal Povo

Polícia Civil faz operação contra milícia da Muzema e Rio das Pedras

Operação ‘Blood Money’ cumpre 23 mandados de prisão temporária contra grupo usava empresas do ramo de construção para lavar dinheiro dos milicianos locais. Em 2019, prédios construídos pela milícia desabaram na Muzema e causaram a morte de 24 pessoas

Rio – A Polícia Civil realiza, na manhã desta quinta-feira (23), a operação ‘Blood Money’, contra um grupo suspeito de usar empresas para lavar o dinheiro das milícias que dominam as regiões da Muzema e de Rio das Pedras. A operação cumpre 23 mandados de prisão temporária e 63 de busca e apreensão, alguns em endereços em condomínios de luxo da Zona Oeste. Até o momento, 13 pessoas foram presas. Segundo as investigações da 18ª DP (Praça da Bandeira), liderada pelo delegado Moysés Santana, os suspeitos utilizavam diferentes ramos para lavarem o dinheiro fruto das atividades da milícia. Empresas do ramo de construção e até de investimentos em criptomoedas eram parte do esquema. Alguns dos investigados eram donos de uma construtora que levantou apartamentos no mesmo condomínio em que um prédio desabou em abril de 2019, na Muzema, causando a morte de 24 pessoas.”Eles eram os proprietários de uma construtora que atuava na Muzema e no Rio das Pedras, e que construíram apartamentos no mesmo condomínio que desabou em 2019. Foram apreendidos veículos, documentos, celulares. A gente já sabia que uma das técnicas pra lavar esse dinheiro seria a compra de criptomoedas, de joias, bens e imóveis”, afirmou o delegado Moysés Santana, em entrevista ao ‘Bom Dia Rio’.

Os principais alvos são Laerte Silva de Lima e Francisco das Chagas de Brito Castro. Laerte, apontado como miliciano da região e que já fora preso na Operação Intocáveis, e sua ex-esposa, Erileide Barbosa, presa na operação Intocáveis II, se filiaram ao PSOL em 2017, um ano antes da morte da ex-vereadora Marielle Franco, ainda investigada pela Polícia Civil.Segundo as investigações, Laerte e Francisco, juntos, movimentaram cerca de R$ 8,5 milhões em pouco mais de um ano. As transações eram realizadas com outros integrantes da milícia local, e os valores não são compatíveis com o trabalho formal de cada um. Francisco, que movimentou cerca de R$ 7,5 milhões, relatou trabalhar como encarregado de obras, com salário de R$ 4 mil. Laerte afirmou ter diferentes ocupações, “nenhuma delas capaz de justificar a movimentação de quase R$ 900 mil”, aponta a 18ª DP.

Parte do grupo responsável já foi investigado na Operação Intocáveis. Os suspeitos são responsáveis por diversos crimes típicos de milícia, como loteamento ilegal do solo, desmatamento, além de venda e aluguel de imóveis irregulares, uma das principais atividades nas comunidades da Muzema e de Rio das Pedras, apontada por especialistas como bairros de crescimento desordenado. A Polícia Civil pediu o bloqueio de contas bancárias e aplicações financeiras que chegam ao valor de R$ 8,3 milhões.