Jornal Povo

EM ALTA:”Ator da Baixada Fluminense vai interpretar delegado de polícia em ‘Quanto mais vida, melhor’, próxima novela das sete”

Com 24 anos de carreira, o ator e agitador cultural – como ele se define – Cridemar Aquino, de 42 anos, nascido e criado em São João de Meriti, vai interpretar o delegado de polícia Nunes na próxima novela das 19h da TV Globo. “Quanto mais vida, melhor” tem estreia prevista para 22 de novembro. O delegado Nunes faz parte do núcleo cômico da novela junto com o parceiro, subdelegado Prado, interpretado por Pedroca Monteiro.

— A gente faz um núcleo cômico, mas com um certo cuidado porque não pode perder a seriedade que a polícia tem que ter. Estou muito feliz. É um personagem muito bom, onde vou poder passear em todos os núcleos da novela e contracenar com todos os atores da trama, principalmente os protagonistas — explica o ator.

“Quanto mais vida, melhor” tem como protagonistas os atores Vladimir Brichta, Giovanna Antonelli, Mateus Solano e Valentina Herszage. Segundo Cridemar Aquino, o delegado Nunes atua investigando as “tretas” dos personagens principais.

— A novela tem muito humor, é leve e divertida. Nesse momento de pandemia, é essencial que a gente traga conteúdo mais leve para a televisão. Acredito que vai ser legal e bom para o público ver um delegado negro fazendo humor na televisão brasileira, sem focar na questão da violência — afirma.

Os testes para a novela foram feitos antes da pandemia, o ator conta que chegou a fazer tantos testes, e com a paralisação das atividades por conta da Covid-19 demorou tanto a retornar aos estúdios, que chegou a se esquecer de que tinha feito teste para o elenco da nova novela das 19h.

— Já fiz inúmeras novelas, mas eram participações pequenas. Essa é a primeira vez que faço uma novela inteira no elenco principal. Recebi esse convite com muita alegria e satisfação. Tinha feito uma bateria de testes antes da pandemia, e esse teste surgiu poucas semanas antes de começar a pandemia, e eu tinha esquecido absolutamente — diz.

Cridemar foi convidado para participar do elenco da novela em setembro do ano passado. Um mês antes ele já tinha voltado aos estúdios para gravar o especial Covid-19 da série médica “Sob Pressão”, também da TV Globo, em que interpreta o socorrista Paulo.

— Foi um período muito difícil para nós, artistas, porque fomos o primeiro setor a parar (na pandemia).

O ator conseguiu passar pelo período de paralisação do setor cultural com uma reserva financeira que juntou dos trabalhos na TV e no cinema. Também no próximo mês, Cridemar vai marcar presença nos cinemas. Ele faz uma breve participação no longa-metragem “Medida Provisória”, estreia de Lázaro Ramos como cineasta. O filme tem a participação de Taís Araujo, Seu Jorge e do ator londrino Alfred Enoch.

— O Lázaro teve a ideia de trazer alguns atores de teatro do Rio para criar um núcleo dentro do filme. Faço uma participação afetiva, mas que é importante para mim. Tem vários artistas incríveis fazendo participações no filme para marcar o momento do cinema que lida com atores pretos dando representatividade e visibilidade aos seus personagens. É uma participação pequena, mas emocionalmente muito grandiosa para todos os atores negros que participaram desse longa — explica Cridemar.

Com trabalhos na televisão, cinema e teatro, o ator meritiense enfrentou, de início, resistência da família pela profissão.

— É muito difícil para um menino preto, pobre, da Baixada Fluminense ter grande perspectiva em se tornar artista, porque não tem muitas referências. O investimento em arte e cultura na Baixada é muito pouco. Minha família achava que não era a melhor opção porque estava longe da minha realidade — lembra.

Mas Cridemar conseguiu vencer essas barreiras com a família, que segundo ele, foi essencial para que pudesse ter uma carreira estruturada.

— Aos poucos foram entendendo que aquilo era importante para mim. Com apoio, ajuda na organização, indo assistir as peças… a gente tem famílias estruturadas com possibilidade de investir no futuro dos seus filhos na Baixada.

BX São de Meriti (BX) 15/10/2021 Cridemar Aquino morador de São de Meriti mostra seu trailer que está fechado há anos . Foto Domingos Peixoto / agência o Globo
BX São de Meriti (BX) 15/10/2021 Cridemar Aquino morador de São de Meriti mostra seu trailer que está fechado há anos .

Há oito anos, ele chegou a abrir uma lanchonete em um trailer na porta de casa para ajudar quando as contas não iam bem, mas há quase quatro anos ele não precisa mais recorrer ao trailer para completar a renda.

— A gente sabe que é muito difícil se manter na arte e na cultura de forma tranquila, a ‘lancheria’ foi uma forma de sobreviver quando eu não estava fazendo peça nem filme. Sei que as oportunidades para artistas negros são mais difíceis, então a gente precisa ter uma fonte de renda, de sobrevivência — diz.

O ator, que é uma referência positiva entre a sua vizinhança e também presidente da associação de moradores do bairro onde mora, trabalha com o objetivo de aumentar a representatividade da população negra no audiovisual:

— Aqui as pessoas me apontam na rua como “aquele menino que trabalha na Globo”. E eu, por ser um homem negro, sinto redobrada essa responsabilidade de trazer para o público personagens mais profundos. Me sinto responsável em levar para a televisão alguma coisa que as pessoas se identifiquem. Os atores negros não estão fechados em um nicho de interpretação específico. A gente pode interpretar quem quiser, e isso ajuda a criar novos imaginários para quem assiste nosso trabalho — afirma.