Jornal Povo

‘A maior perda que a gente tem é de uma vida de alguém que a gente gosta’, diz sobrevivente de desabamento de prédio em Nilópolis

Após sofrer apenas arranhões com o desabamento do prédio onde morava com a mulher, Jorge Brandão, de 54 anos, voltou ao local do acidente ainda nesta manhã. Ele é uma das três vítimas sobreviventes da queda do edifício de três andares no bairro Olinda, em Nilópolis, na Baixada Fluminense, neste domingo. O acidente deixou um morto, o morador Gustavo Amorim, de 26 anos.

Jorge morava no terceiro andar com Nilceia Souza, de 62 anos, proprietária do imóvel e que também estava no local na hora do desabamento e sobreviveu. Ele foi o primeiro a ser retirado dos escombros, ainda por vizinhos, quando a construção caiu, por volta das 6h45. O casal estava no último andar, já o segundo estava vazio e no primeiro estavam dois irmãos, Giovana Amorim, de 19 anos, resgatada com vida, e Gustavo. A mãe deles não estava em casa no momento.

O prédio tinha três andares e ficava na Estrada Nilo Peçanha esquina com a Rua Coronel José Muniz, no bairro Olinda.

— Eu sobrevivi, e lamentavelmente tive uma perda muito importante, que foi desse rapaz. Meus dois carros ficaram lá, mas a maior perda que a gente tem é de uma vida de alguém que a gente gosta. Num piscar de olhos, perdemos tudo. Em relação a bem material, pra mim não perdi nada. Éramos amigos, conversávamos. Essa perda é muito lamentável. Eu e minha companheira tivemos um livramento — disse Jorge, ao voltar para tentar resgatar os documentos.

Jorge Brandão morava com a mulher no terceiro andar do prédio que desabou em Nilópolis na manhã deste domingo
Jorge Brandão morava com a mulher no terceiro andar do prédio que desabou em Nilópolis na manhã deste domingo Foto: Maria Isabel Oliveira / Agência O Globo

O vizinho Davi Cintra, de 40 anos, que estacionava o carro na garagem do prédio, conta que Gustavo era um rapaz reservado.

— É um garoto formado em TI, trabalhava como suporte técnico da rede de supermercado Mundial. Morava aqui há seis meses. Era um menino muito reservado, tinha boca e não falava, muito estudioso. A mãe falava super bem dele. Era de casa pro trabalho do trabalho pra casa — lembra.

Os vizinhos do entorno foram os primeiros a prestar socorro, foi assim que Jorge foi retirado dos escombros, pouco antes da chegada dos bombeiros. Um dos que ajudaram é Rodrigo Erbe, de 23 anos, dono de uma loja de material de construção atrás do prédio.

— Fui um dos primeiros a chegar no local. Por volta de 6h40 da manhã, ouvi um estalo muito forte. Quando olhei pela janela, não via nada. Só via poeira. Não tinha visão de nada. Quando a poeira baixou eu vi que estava o telhado no chão e faltando um prédio. Chegando lá, não vi o Jorge, que estava completamente debaixo dos escombros. Só ouvíamos a voz dele. Quando chegamos e conversamos com o Jorge, ele não sabia que já tinha desabado tudo. Ele estava sem noção de que ele não estava mais no terceiro andar. Então, ele pedia pra ninguém mexer, com medo de que alguma coisa que estivesse supostamente sustentando ele caísse — conta o vizinho.

Todos os sobreviventes, inicialmente, foram encaminhados para o Hospital Geral de Nova Iguaçu. Eles receberam classificação verde, menor nível de gravidade de acordo com avaliação inicial dos Bombeiros.

Há três dias, prédio tinha coluna exposta

Ainda não se sabe o que ocasionou a queda do prédio. Há três dias, moradores e vizinhos perceberam a exposição de uma das colunas da construção após uma fissura. Testemunhas relatam que o edifício veio abaixo após um forte barulho de estalo. Ao lado do prédio havia um estacionamento. Jorge acredita que algum carro bateu em uma das colunas, causando a fissura.

— Era um prédio antigo, mas era um prédio que não vinha ao caso dizer “ah, vai desabar”. Houve sim uma fissurinha numa coluna — destaca.

De acordo com uma vizinha, que preferiu não se identificar, eram perceptíveis danos à estrutura do edifício. O receio, agora, é de que outras moradias possam estar ameaçadas.

— Alguns moradores do prédio e uma vizinha que estacionava o carro ali disseram que já via rachaduras no prédio. Escutei um estrondo, parecia batida de caminhão, e saí pra ver. Aí vi muita poeira e pessoal gritando “o prédio caiu”. Uma coisa horrorosa. Depois disso, fui uma das primeiras a chamar os bombeiros. O meu sentimento é de medo. Fico me perguntando: será que meu prédio está em risco também? A Defesa Civil tem que colocar a gente a par disso — salientou.

Ao fim das buscas dos sobreviventes, por volta das 11h30, o secretário municipal de Defesa Civil, Douglas Alexandre da Silva, disse que as causas do acidente ainda serão apuradas:

— Ainda não se sabe a causa do desabamento. A Polícia Civil acabou de liberar a área agora para a equipe dos serviços públicos da prefeitura começar a mexer nos escombros. O que nós já vimos é que não houve impacto na estrutura da vizinhança. Até o fim do dia vamos tentar entender o que ocasionou o desabamento.