Jornal Povo

Próximo de Adriano da Nóbrega, Bernardo Bello fez miliciano ‘virar a casaca’ na guerra da contravenção no Rio

Denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro como mandante do assassinato de Alcebíades Paes Garcia, o Bid, em fevereiro de 2020, o contraventor Bernardo Bello, segundo os promotores, tinha uma relação muito próxima com o ex-capitão do Bope, Adriano da Nóbrega, que era chefe da milícia conhecida como ‘Escritório do Crime’, responsável por diversos assassinatos. A ascensão de Bernardo ao comando da família Garcia, inclusive, passa pela relação com Capitão Adriano.

Ex-marido de Tamara Garcia, filha de Waldemir Paes Garcia, o Maninho, assassinado em 2004, Bernardo se aliou ao concunhado, José Luiz de Barros Lopes, o Zé Personal, marido da outra filha de Maninho, Shanna Garcia, e que assumiu o controle dos negócios do clã após a morte do Patriarca Waldomiro Paes Garcia, também em 2004. Na época, Zé Personal ganhou a queda de braço com o outro filho de Miro, Alcebíades Paes Garcia, o Bid.

Na época, Adriano da Nóbrega estava preso no Batalhão Especial Prisional da Polícia Militar, mas era o responsável por designar a segurança de Bid. Ao deixar a prisão, em 2006, ele foi procurado por Bernardo Bello, que o convenceu a mudar de lado e cuidar da segurança de Zé Personal. Adriano então indicou Wagner Dantas Alegre para fazer a segurança de Bernardo.

Acuado, Bid então foi embora do Rio de Janeiro, o que deixou o controle total nas mãos de Zé Personal, que foi assassinado em um terreiro de Umbanda, na Praça Seca, em 2011. Segundo o MP, neste momento Bernardo Bello assume o lugar de comando e estreita ainda mais relações com o ‘Escritório do Crime’.

Alvo. O miliciano Adriano da Nóbrega, que ficou foragido da polícia mais de um ano até ser morto na Bahia
Alvo. O miliciano Adriano da Nóbrega, que ficou foragido da polícia mais de um ano até ser morto na Bahia Foto: Foto reprodução / Agência O Globo

— O Bernardo e o Adriano passaram a ter uma relação muito próxima, tanto que ele indicou o Wagner Dantas Alegre, ex-policial militar, excluído a bem da disciplina, com quem tinha uma ligação forte e passou a ser segurança dele (Bernardo) — explicou o promotor Carlos Eugênio Laureano.

Em 2019, Shanna Garcia sofre um atentado em um shopping na Barra da Tijuca, e acusa Bernardo Bello de ser o mandante. Neste mesmo período, após anos fora, Alcebíades retorna disposto a assumir os pontos de contravenção sob controle de Bernardo, que incluem a Zona Sul e região da Tijuca. De acordo com os investigadores, Bid, que antes não era bem visto pelos antigos chefes da contravenção, consegue fazer alguns aliados, o que levou Bernardo Bello a tomar a decisão de matá-lo, conforme escutas telefônicas utilizadas pelo Gaeco para descobrir a autoria do crime e anexadas às denúncias.

— Bernardo lança mão do serviço de dois membros do ‘Escritório do Crime’, os irmãos Leandro Gouvêa da Silva e Leonardo Gouvêa da Silva, vulgos Med e Tonhão e eles passam a fazer o que faziam de melhor que era o monitoramento do alvo, mapeando as vulnerabilidades na rotina. O Bid então anuncia a retomada de alguns pontos para si e contrata como seguranças o Thyago Ivan da Silva e o Carlos Diego da Costa Cabral. Só que eles estão a serviço do ‘Escritório do Crime’. Na noite do dia 24 para o dia 25 de fevereiro invés do carro blindado do Bid, todos vão em uma van assistir aos desfiles. Na volta, o Thyago ‘se perde’ do grupo e volta de táxi, enquanto na van o Carlos pega o celular do motorista e manda a localização em tempo real para o Wagner Alegre e os demais, que tiveram meia hora para montar a emboscada — disse o promotor Bruno Gangoni, coordenador do Gaeco/RJ.

Bernardo Bello foi preso na Colômbia nesta sexta-feira
Bernardo Bello foi preso na Colômbia nesta sexta-feira Foto: Divulgação

Na data escolhida para a execução do crime, Adriano da Nóbrega já estava morto. Identificado pela polícia, ele havia fugido do Rio de Janeiro e após um período foragido, morreu após um cerco em uma fazenda na cidade de Esplanada, no interior da Bahia. A força-tarefa não tem indícios de que ele tenha tomado parte no planejamento da morte de Bid.