Jornal Povo

‘Ele foi covardemente assassinado”, diz sobrinha de jardineiro morto na Zona Norte do Rio; corpo é sepultado em Inhaúma

O corpo do jardineiro Gilcemir da Silva, de 47 anos, foi sepultado no fim da tarde desta segunda-feira no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio. Ele morreu após ter sido baleado no começo da madrugada de domingo, no Morro do Dezoito, em Água Santa. Segundo os parentes, a vítima estava em um bar perto de casa, quando policiais militares do Batalhão de Operacões Especiais chegaram atirando.

— A gente está cansado disso acontecer. Não foi uma história, foi de verdade. Não tinha tráfico, porque há dois dias estava tendo operação (do Bope) na comunidade. E todo mundo sabe que nesse caso bandido não fica no local. Só tinha morador. Ele foi covardemente assassinado. Deram tiros a esmo, para qualquer lugar e, infelizmente acertaram ele — desabafou Camila Souza, de 33 anos, sobrinha de Gilcenir, acrescentando que havia muita gente na rua.

Gilcenir trabalhava com reflorestamento na comunidade, segundo parentes
Gilcenir trabalhava com reflorestamento na comunidade, segundo parentes Foto: Reproduçao

Os parentes de Gilcemir afirmam que agentes do Batalhão de Operações Especiais (Bope) chegaram atirando durante a madrugada. Já os policiais militares disseram, em depoimento, que foram atacados a tiros e que não fizeram nenhum disparo. O irmão de Gilcemir, Glicério da Silva, passou a manhã em um cartório no Méier, na Zona Norte, tratando da documentação para o enterro.

O velório começou por volta do meio-dia e o enterro foi às 16h. Mais de cem pessoas levadas em dois ônibus compareceram ao cemitério. Segundo a sobrinha de Gilcenir, o tio era muito querido e o aluguel dos veículos foi cotizado por amigos.

Camila disse que a família ainda está muito abalada com o que aconteceu e espera passar o impacto da morte do parente para saber que atitude tomar. A sobrinha disse não a família não descarta recorrer à Justiça, para limpar a memória do tio.

— No momento está todo mundo cansado. Vamos botar a cabeça no lugar. Mas com certeza a gente vai colocar o Estado na Justiça. Não vai ficar impune. Ele vai ser mais um na estatística, mas não vai ser mais um que vai morrer como bandido — prometeu.

Em protesto pela morte do jardineiro, manifestantes interditaram um trecho da Linha Amarela, na altura de Água Santa, na tarde desta segunda-feira. Mais cedo, moradores em protesto também fecharam a via. No final da manhã, a Polícia Militar informou que que a Corregedoria Interna da corporação abriu um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a conduta dos agentes.

Gilcemir era jardineiro e trabalhava com reflorestamento na parte alta da comunidade. Ele era casado e deixou um filho já adulto e um neto de dois anos.