Jornal Povo

Teresa Cristina fala de preparação para desfilar em cinco escolas e revela ansiedade: ‘Sonhando que cheguei atrasada’

O carnaval nem começou, e Teresa Cristina já está acordando no meio da madrugada. A culpa é da ansiedade. Além da alegria com a volta da folia, a sambista está envolvida mais do que nunca, de alma e corpo. E haja corpo! Ela vai desfilar em cinco escolas (Beija-Flor, Império da Tijuca, Mangueira, Portela e Viradouro), tem show marcado no Terreirão do Samba, na quinta-feira, vai cantar em três camarotes e termina o domingo em um festival em Itaipava.

Cantora Teresa Cristina Foto: Ariel Cavotti/Divulgação

— A gente está num momento que não vai se repetir. Ficamos 700 dias sem carnaval. Este vai ser um para não esquecer. Quero aproveitá-lo. Agora, meu sono é algo em que tenho que prestar atenção. Eu procuro dormir oito horas, estou tentando dar uma acalmada e descansar minha voz. Mas estou até sonhando que não consigo desfilar porque cheguei atrasada e a escola já entrou na Avenida (risos). Sou ansiosa. Não quero decepcionar ninguém nem fazer feio — conta a cantora.<MW><YR>

A artista até brinca que “parece ser algo humanamente impossível” cumprir essa agenda apertada, mas que tem se organizado para dar conta:

Cantora Teresa Cristina.
Cantora Teresa Cristina. Foto: Ariel Cavotti/Divulgação

— Estou tentando fumar menos. Academia, para ser sincera, eu não gosto do clima. Faço ginástica em casa. E quanto à alimentação, estou procurando não comer muita fritura, fazendo mais escolhas saudáveis, comendo menos bobagens para aguentar o tranco.

E no meio dessa correria, será que dá para curtir mesmo ou tudo é encarado como trabalho?

— Sim! Tudo isso é trabalho, mas eu amo, me dá prazer e eu me realizo. Sem contar que já vivo o carnaval antes mesmo das datas. Fiz até um bloco só para cantar samba-enredo antigo — diz, citando o BREC, o Bloco Recreativo Enredo Carioca.

Mais do que pela farra, ela tem aceitado tantos convites por causa das temáticas dos sambas, que a tocam profundamente. A maioria deles está relacionada à resistência negra.

Cantora Teresa Cristina
Cantora Teresa Cristina Foto: Ariel Cavotti/Divulgação

— Todos esses sambas são muito importantes para mim. São assuntos do século. Falamos em reparação histórica, e a gente ainda encontra quem ache que exista racismo reverso. Temos muito que aprender ainda. A pandemia separou ainda mais as classes. Veja quantas dificuldades passaram aqueles que dependem do carnaval. Ter ficado um período sem o evento fez com que as escolas olhassem para dentro. E elas entenderam onde está a força delas, na comunidade. Acho que vem daí a necessidade de falar sobre todos esses temas — analisa.

Seguindo essa linha, se pudesse, Teresa desfilaria para muitas outras escolas.

— Infelizmente, tive que recusar o convite do Salgueiro. Eles entram logo depois da Mangueira. Realmente não seria viável para mim — lamenta a artista.

Memórias de outros carnavais

Um samba-enredo marcante

“União da Ilha, de 1981. Um carnaval em que eu estava virando gente. Fase de começar a paquerar, era bonito e seguro brincar na rua… Eu me lembro do alto-falante tocando: ‘O mago, ô. Do tempo me apareceu em um sonho’. Sentei na calçada para ouvir. Sempre que canto essa, me vem a mesma imagem”.

Amor de carnaval

Cantora Teresa Cristina
Cantora Teresa Cristina Foto: Ariel Cavotti/Divulgação

“Sou pisciana. Já tive milhões. Eu me apaixono a cada 30 minutos (risos)”.

Arrependimento

“Desfilo desde 2001, mas teve um ano em que não saí na Portela, estava brigada com a escola. Me arrependi amargamente. Chorei muito. Depois, aprendi. Os dirigentes passam, e a escola fica. Não tenho motivo para deixar a Portela”.

A nova voz da Globeleza

Outro compromisso assumido por Teresa foi cantar a música tema do carnaval Globeleza, da Globo. A sambista procurou Jorge Aragão, o compositor da canção, ao saber que iria substituí-lo.

— Nós conversamos. Jorge Aragão disse que ficou muito contente com a escolha e falou em “passada de bastão”. Tenho uma admiração gigante por ele. Sem contar que ele é o culpado pelas trilhas sonoras das minhas dores de cotovelo (risos).

Para além da honra de substituir o amigo, a cantora celebra ser a primeira mulher a cantar na famosa vinheta.

— Fizeram muito bem em colocar uma mulher, preta, sambista. Depois de mim, espero que outras possam desempenhar a mesma função. E eu apareço ali cantando o samba, trazendo o carnaval com toda a alegria, independentemente de mostrar meu corpo ou não — reflete.

Foto: Fernanda Garcia/Divulgação

— Fizeram muito bem em colocar uma mulher, preta, sambista. Depois de mim, espero que outras possam desempenhar a mesma função. E eu apareço ali cantando o samba, trazendo o carnaval com toda a alegria, independentemente de mostrar meu corpo ou não — reflete.