Jornal Povo

Rio está em situação de alerta para infestação pelo Aedes aegypti, transmissor de dengue, zika e chikungunya, aponta levantamento

A cidade do Rio está em situação de alerta para a infestação pelo mosquito Aedes aegypti, transmissor das arboviroses, como dengue, zika e chikungunya. É o que aponta o primeiro Levantamento de Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) realizado no município após a pandemia de Covid-19, feito por amostragem pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) entre 4 e 8 de abril. A pesquisa constatou que o Índice de Infestação Predial (IPP) do Rio está em 1,1%, dentro da faixa de alerta, que vai de 1% até 3,9%. Entre as quase 250 áreas pesquisadas, seis estão com um índice superior a 3,9%, ou seja, em nível de risco. Quatro delas ficam na Zona Oeste.

O LIRAa é realizado em todos os municípios do Brasil, em geral nas mesmas épocas, quatro vezes por ano. Nos últimos dois anos, o levantamento foi suspenso pelo Ministério da Saúde devido à pandemia.

No Rio, a pesquisa é feita da seguinte maneira. O território da cidade é dividido em 248 estratos, segmentos para fins estatísticos que não coincidem com os limites geográficos dos bairros. Cada estrato tem entre 8,2 mil e 12 mil imóveis com características semelhantes, dos quais 20% são visitados por agentes de vigilância ambiental para inspeção de possíveis criadouros do mosquito.

Na primeira edição da pesquisa no Rio após a retomada, 97.283 imóveis foram vistoriados, de acordo com a SMS. Os estratos na faixa de risco ficam nos bairros de Campo Grande, Guaratiba, Pedra de Guaratiba, Cosmos, Paciência e Santa Cruz, na Zona Oeste, além de Gamboa e Cidade Nova, no Centro, e Campinho e Madureira, na Zona Norte. A SMS informa que reforçará as ações de controle ao vetor nessas regiões.

Mosquito em microscópio no laboratório da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro. Foto: Mauro Pimentel / AFP
Mosquito em microscópio no laboratório da Fundação Oswaldo Cruz no Rio de Janeiro. Foto: Mauro Pimentel / AFP

Dos estratos restantes, mais da metade (132) ficou com IPP “satisfatório”, abaixo de 1%, e 110 ficaram em nível de alerta.

Para o subsecretário municipal de Vigilância em Saúde, Márcio Garcia, a cidade como um todo teve um bom resultado na pesquisa, apesar de estar em nível de alerta. Na última edição do LIRAa antes da pandemia, em fevereiro de 2020, o município se encontrava na mesma faixa, com IPP de 1%.

— Estamos numa pandemia, o sistema de saúde foi prejudicado porque todas as atenções se voltaram para a Covid. Pensando nisso, é um bom resultado. Quando olhamos a distribuição do LIRAa, é importante assumir que, embora o resultado para toda a cidade seja bom, temos áreas que nos chamam atenção e que precisam de mais cuidado — diz Garcia.

Tendo em vista que as arboviroses transmitidas pelo Aedes aegypti têm uma forte influência sazonal e que o mês de maior atividade do vetor (abril) já passou, as chances de uma nova epidemia num futuro próximo são baixas, avalia o subsecretário. Ele lembra ainda que as arboviroses são multifatoriais, ou seja, não dependem apenas da presença dos criadouros, mas também do mosquito e do vírus.

Contudo, a preocupação com áreas específicas da cidade permanece. De acordo com o painel Epi-Rio, o município contabiliza 848 casos de dengue em 2022, sendo 254 apenas na Área de Planejamento 5.3 (Santa Cruz), onde fica um dos estratos de risco identificados pelo LIRAa. A Área de Planejamento 5.2 (Bangu) tem o segundo maior número de casos da doença este ano (164) e a maior quantidade de estratos de risco de todo o município (3).

— A gente tem, sim, uma preocupação, porque 44% do município está em alerta. É muito importante que a população colabore, prevenindo a proliferação do mosquito, deixando que os agentes entrem nas casas e façam a inspeção… Além da questão dos recipientes domésticos, temos o problema do lixo, da sucata e dos ferros-velhos, muito presente em Bangu, por exemplo. São espaços propícios para o surgimento de focos — explica Garcia.

Vasos de planta e outros recipientes domésticos concentram larvas

Uma função importante do LIRAa é descobrir quais os depósitos mais comuns de larvas do Aedes aegypti. De acordo com a nova edição do levantamento, os criadouros do mosquito continuam localizados predominantemente em imóveis particulares, sendo 30% deles instalados em recipientes móveis, como vasos de planta, pingadeiras, vasilhas de degelo de geladeiras, bebedouros e vasilhames de objetos religiosos.

Nesses casos, a SMS orienta que o morador cubra o recipiente com areia ou faça a limpeza dele com bucha ou esponja uma vez por semana, esfregando bem as paredes internas.

— Desde março, neste período de chuvas e calor, que contribuem para a maior incidência dessas doenças, temos intensificado as ações de campo e de orientação da população sobre as formas de controle do mosquito. Para que a prevenção das arboviroses seja eficiente, é fundamental o envolvimento de todos — afirma o secretário municipal de Saúde, Rodrigo Prado.