Jornal Povo

Belford Roxo Lidera:”Em seis anos, 35 políticos foram mortos na Baixada Fluminense, diz relatório do Fogo Cruzado”

Em seis anos, a Baixada Fluminense teve 35 políticos mortos. Dos 57 registros de políticos baleados na Região Metropolitana do Rio neste período, 74% deles foram na Baixada. Os dados são de um levantamento feito pelo Instituto Fogo Cruzado, que aponta que a região é uma das áreas mais perigosas para fazer política. Em Duque de Caxias ano passado, por exemplo, três vereadores foram assassinados.  

Para a diretora de programas do Instituto Fogo Cruzado, Maria Isabel Couto, são três os fatores que devem ser levados em conta para analisar a violência política na Baixada Fluminense: 

— A primeira é o contexto histórico. A Baixada é conhecida pela figura do Tenório Cavalcanti, um dos precursores da violência política na região. A segunda questão é a impunidade. Se é um fenômeno histórico e todo mundo sabe, por que nada é feito? Por que esses assassinatos continuam impunes? E o terceiro ponto é que a Baixada possui municípios pobres e ricos e demanda políticas sociais. Melhorar a vida dos moradores da região passa por políticos comprometidos com o bem-estar da população, e eles precisam sentir segurança para fazer política, o que infelizmente não tem — explica.  

Maria Isabel Couto sugere que seja criado um programa de prevenção aos homicídios contra políticos na região, e que as investigações possam apontar, de fato, os crimes que têm a ver com a atuação política das vítimas. 

— Tem que haver investigações rigorosas sobre o corpo político para entender quem tem relação com o crime, e criar um programa de proteção aos políticos da região. Enquanto a impunidade dos que assassinam políticos e dos que agem com corrupção continuar, vai ser muito difícil a vida na Baixada melhorar. As informações para resolver o problema existem, é uma questão de vontade política — afirma.

Segundo o levantamento, as cidades que registraram maior número de mortes de políticos entre 2016 e 2022 foram Magé, onde sete agentes políticos foram assassinados, Duque de Caxias, com sete mortes, e Nova Iguaçu, onde seis políticos foram mortos. Em Seropédica e em São João de Meriti, quatro políticos foram assassinados neste período em cada cidade. Em Belford Roxo, foram três. Japeri, Nilópolis e Queimados tiveram registros de homicídio de dois políticos cada.  

O relatório do Fogo Cruzado também contabilizou as chacinas (ocasiões em que mais de três pessoas foram assassinadas) ocorridas na região neste período. Em seis anos, a Baixada registrou 91 chacinas que deixou 344 mortos. A cidade com o maior número de violência do tipo foi Belford Roxo, com 26 casos que resultaram na morte de 100 pessoas. Nova Iguaçu teve 19 chacinas que deixou 69 vítimas. Já em Duque de Caxias, foram 18 casos que registraram, ao todo, 61 vítimas.  

— Nossos dados mostram que na Baixada, especificamente, tem uma chacina a cada três semanas, indicando que é um episódio recorrente. A capital do estado atrai muita atenção da imprensa e dos políticos. Que papel a Baixada ocupou nas principais políticas de segurança dos últimos anos? Entre as 38 UPPs, apenas uma foi na Baixada, a do Complexo da Mangueirinha. Uma das últimas a ser criada e uma das primeiras a ser fechada — explica Maria Isabel Couto. 

A pesquisadora classifica a Baixada Fluminense como um “espelho dos problemas de segurança pública do Rio de Janeiro”: 

— Tem problemas graves de facções disputando entre si, grupos de extermínio e avanço acentuado das milícias, além de crimes de rua com grande circulação de armas de fogo. Infelizmente, todas as dinâmicas de violência armada que a gente consegue pensar acontecem na Baixada, promovendo uma sensação de caos e abandono aos moradores — conclui.  

Fonte: Extra Online.