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Cartão amarelo, vermelho, pênalti e escanteio: veja quais eram os lances exigidos para jogadores alterarem o rumo dos jogos

Ministério Público detalhou quais foram os 11 jogos que são alvos da segunda fase da operação que apura a manipulação de resultados de jogos de futebol. Três pessoas foram presas e 20 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.

Promotores do Ministério Público durante coletiva sobre Operação Penalidade Máxima 2, em Goiânia, Goiás — Foto: Danielle Oliveira

Cartão amarelo, vermelho, pênalti e escanteio estão entre os lances exigidos pelos apostadores e aliciadores para os jogadores investigados na operação que apura a manipulação de resultados de jogos de futebol. Segundo o Ministério Público de Goiás (MPGO), três suspeitos foram presos em São Paulo e 20 mandados de busca e apreensão foram cumpridos, sendo pelo menos nove deles em casas de atletas.

De acordo com o MP, dentre os suspeitos nesta segunda fase da Operação Penalidade Máxima, além de jogadores, estão pessoas suspeitas de integrar o esquema de apostas. A primeira fase da operação foi deflagrada em fevereiro deste ano e uma pessoa chegou a ser presa na época.

Até a última atualização, quatro atletas suspeitos de envolvimento nesta 2ª fase da operação já foram identificados, são eles:

  • Victor Ramos, ex-Palmeiras, Vasco e Vitória, e atualmente zagueiro na Chapecoense;
  • Igor Cariús, lateral-esquerdo do Sport Recife;
  • Kevin Lomonaco, jogador do Red Bull Bragantino;
  • Gabriel Tota, jogador do Esporte Clube Juventude.

A defesa dos jogadores não foi localizada até a última atualização desta reportagem.

Durante uma coletiva de imprensa na terça-feira, o Ministério Público detalhou quais foram os 11 jogos que são alvos da segunda fase da operação e explicou quais foram as ações pedidas pelos aliciadores para os jogadores envolvidos.

“Não necessariamente quer dizer que o atleta tenha, de fato, cometido ou tenha praticado a punição para qual foi oferecido o valor financeiro para tanto”, esclareceu o promotor Fernando Cesconetto.

Jogadores Victor Ramos, Igor Cariús, Gabriel Tota e Kevin Lomonaco️️️, investigados na Operação Penalidade Máxima, do Ministério Público de Goiás — Foto: Julia Galvão/ACF, Marlon Costa/Pernambuco Press e Reprodução/Instagram Gabriel Tota e Kevin Lomonaco️️️

Jogos investigados na 2ª fase da operação:

Campeonato Brasileiro:

  • Santos 1 x 1 Havaí – 5 de novembro de 2022
    • Pediram que um atleta do Santos tomasse um tomar um cartão amarelo;
  • Red Bull Bragantino 1 x 4 América-MG – 5 de novembro de 2022
    • Pediram que um atleta do Bragantino tomasse um cartão amarelo;
  • Goiás 1 x 0 Juventude – 5 de novembro de 2022
    • Pediram que dois atletas do Juventude tomassem cartões amarelos;
  • Cuiabá 1 x 1 Palmeiras – 6 de novembro de 2022
    • Pediram que um jogador do Cuiabá tomasse cartão amarelo;
  • Botafogo 3 x 0 Santos – 10 de novembro de 2022
    • Pediram que um jogador do Santos tomasse cartão vermelho;
  • Palmeiras 2 x 1 Juventude – 10 de setembro de 2022
    • Pediram que um jogador do Juventude tomasse cartão amarelo.

As quantias envolvidas para a cooptação dos atletas da Série A do Campeonato Brasileiro, conforme o promotor, para punição de cartão amarelo e vermelho giravam em torno de R$ 50 mil a R$ 60 mil, por atleta, para cada evento esportivo.

Campeonatos estaduais:

  • Goiás x Goiânia – 12 de fevereiro de 2023
    • Pediram a derrota do Goiânia no primeiro tempo.
  • Caxias x São Luíz-RS – 12 de fevereiro de 2023
    • Pediram que um jogador do São Luiz cometesse pênalti.
  • Esportivo x Novo Hamburgo – 11 de fevereiro de 2023
    • Pediram para jogador do Novo Hamburgo cometesse um pênalti.
  • Luverdense x Operário – 11 de fevereiro de 2023
    • Pediram manipulação no número de escanteios.
  • Guarani x Portuguesa – 8 de fevereiro de 2023
    • Pediram que atleta recebesse cartão amarelo.
Operação do MP investiga fraude em resultado de jogos do Campeonato Brasileiro, em Goiás — Foto: MP/Divulgação

Entenda como agia o grupo

O MPGO, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e da Coordenadoria de Segurança Institucional e Inteligência (CSI), já apurou que o grupo criminoso conseguiu manipular resultados de jogos de futebol após subornar jogadores. A investigação mostrou que os jogadores recebiam entre R$ 50 mil e R$ 100 mil para que realizassem ações específicas durante as partidas.

Na primeira fase, a investigação mostrou que o esquema funcionava da seguinte forma: os apostadores faziam propostas para atletas marcarem pênaltis nos primeiros tempos de cada jogo. Caso os jogadores aceitassem, era feito o pagamentos do “sinal”. Após a partida, caso o pênalti tivesse sido feito, os jogadores receberiam o restante do valor combinado.

Na segunda fase, o Ministério Público descobriu que o grupo investigado pedia também aos jogadores que eles tomassem cartões amarelo e vermelho, além do pedido para a derrota de um time. De acordo com o MP, há indícios de que as condutas solicitadas aos jogadores tinham como objetivo que os investigados conseguissem altos lucros em apostas realizadas em sites de casas esportivas, usando, ainda, contas cadastradas em nome de terceiros para aumentar o retorno financeiro.

A investigação começou em novembro de 2022 após uma denúncia feita pelo próprio Vila Nova, que é vítima no esquema, segundo o MP.

Foto mostra Ministério Público de Goiás em casa de investigado na Operação Penalidade Máxima — Foto: Divulgação/Ministério Público

Primeira fase da operação

A operação “Penalidade Máxima” foi deflagrada no dia 14 de fevereiro deste ano e, na época, cumpriu nove mandados de busca e apreensão, sendo dois deles em Goiânia e outros em quatro estados. Durante a ação, o empresário Bruno Lopez de Moura foi preso temporariamente, em São Paulo, suspeito de ser responsável pelas apostas e de intermediar contatos com jogadores. Bruno deixou a prisão após uma decisão do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO).

A investigação do Ministério Público apurou que um jogador do Vila Nova teria recebido um “sinal” de R$ 10 mil para provocar um pênalti no primeiro tempo de jogo. Se o pênalti fosse marcado – o que não aconteceu, ele receberia mais R$ 140 mil. Como a marcação não foi feita, o apostador teria começado a “cobrar” o jogador pelo prejuízo na aposta.

No dia 16 de março deste ano, após o Ministério Público de Goiás (MPGO) oferecer denúncia e a Justiça aceitar, os investigados em esquema que fraudava resultados de jogos do Campeonato Brasileiro se tornaram réus.

Ao todo, oito jogadores e mais seis integrantes de “núcleo de apostadores” foram denunciados por corrupção em competições esportivas, entre eles, o empresário Bruno Lopez de Moura, que chegou a ser preso em São Paulo, e o ex-jogador do Vila Nova Marcos Vinicius Alves Barreira, conhecido como Romário.

Ex-jogador do Vila Nova Romário e empresário preso em SP estão entre os denunciados pelo MP, em Goiás — Foto: Divulgação/Vila Nova e Reprodução/Redes sociais

Veja quem são os oito jogadores que se tornaram réus na primeira fase da operação:

  • Mateus da Silva Duarte, conhecido como Mateusinho (jogador do Cuiabá);
  • Marcos Vinicius Alves Barreira, conhecido como Romário (ex-jogador do Vila Nova);
  • Joseph Maurício de Oliveira Figueredo (jogador do Tombense);
  • Gabriel Domingos de Moura (atual jogador do Vila Nova);
  • Allan Godoi dos Santos (jogador do Sampaio Corrêa);
  • André Luís Guimarães Siqueira Júnior, conhecido como André Queixo (ex-Sampaio Corrêa, atualmente no Ituano);
  • Ygor de Oliveira Ferreira, conhecido como Ygor Catatau (ex-Sampaio Corrêa, atualmente no Irã);
  • Paulo Sérgio Marques Corrê (ex-Sampaio Corrêa, atualmente no Operário-P).

Até a última atualização desta reportagem, não foi possível localizar as defesas dos réus para que se posicionem. No dia 6 de março, Romário negou que faria um pênalti de propósito, mas admitiu ter aceitado dinheiro de aliciador que fazia esquema.

Print mostra como funcionava apostas investigadas por fraudar resultados de jogos — Foto: Divulgação/Ministério Público

‘Núcleo de Atuação’ de apostadores

Na primeira fase da operação, o MP contou que, entre os denunciados, seis são integrantes de grupo criminoso especializado na prática de corrupção em âmbito esportivo. Os outros oito são jogadores. O órgão descobriu que o grupo se dividia em “Núcleos de Atuação”.

Veja quem foram os outros denunciados na primeira fase da operação, que compunham “Núcleos de Atuação” dos apostadores:

  • Bruno Lopez de Moura, conhecido como BL (empresário preso em SP, que liderava as ações);
  • Camila Silva da Motta (mulher de Bruno e suspeita de atuar em Núcleo Administrativo das apostas);
  • Ícaro Fernando Calixto dos Santos (fazia parte de Núcleo de Apostadores);
  • Luís Felipe Rodrigues de Castro (fazia parte de Núcleo de Apostadores);
  • Victor Yamasaki Fernandes (fazia parte de Núcleo de Apostadores);
  • Zildo Peixoto Neto (fazia parte de Núcleo de Apostadores).

Segundo o Ministério Público, funcionava da seguinte forma: o “Núcleo Apostadores” era formado por responsáveis por contatar e aliciar jogadores para participação no esquema delitivo. Eles também faziam pagamentos aos jogadores e promoviam apostas nos sites esportivos.

Também havia o “Núcleo Financiadores” – ainda a serem identificados. Eles eram os responsáveis por assegurar a existência de verbas para o pagamento dos jogadores aliciados e também nas apostas manipuladas.

Além disso, havia o “Núcleo Intermediadores”, estes eram responsáveis por indicar contatos e facilitar a aproximação entre apostadores e atletas aptos a promoverem a manipulação dos eventos esportivos.

Também havia o “Núcleo Administrativo”, que era responsável por fazer as transferências financeiras a integrantes da organização criminosa e também em benefício de jogadores cooptados.