Jornal Povo

Pitty comemora 20 anos do primeiro álbum e conta como se livrou de amarras

Pitty comemora 20 anos do primeiro álbum e conta como se livrou de amarras. Foto: Caio Lirio/Divulgação

“Pane no sistema, alguém me desconfigurou. Aonde estão meus olhos de robô?”. A letra de “Admirável chip novo”, canção de Pitty lançada em 2003, já prenunciava o efeito do controle da mídia nas pessoas e o excesso de informações que viriam com a consolidação das redes sociais. Assuntos à frente do tempo sempre fizeram parte do repertório da cantora baiana, que desembarca no Rio de Janeiro amanhã, na Fundição Progresso, para celebrar os 20 anos de seu primeiro álbum.

— Amo tocar no Rio, é a minha segunda casa.

Em terras cariocas, a baiana revive o momento em que passou pela primeira vez no Rio, quando tocou em casas underground na Baixada Fluminense na fase em que ainda não era famosa. Quando despontou no cenário nacional, foi no Rio onde escolheu morar para cumprir seus compromissos no Sudeste.

Em sua origem, Pitty cresceu em um ambiente machista, em que até as roupas que vestia eram vistas com maus olhos. Hoje, aos 45 anos, ela se sente liberta de qualquer amarra.

— A conquista da autonomia no meu trabalho, meu crescimento como mulher e meu encontro com o feminino foram muito importantes. Também acho que a maternidade foi um ponto de virada — analisa Pitty, que é mãe da pequena Madalena, de 6 anos.

Discrição na vida pessoal

Discreta em sua vida pessoal, ainda mais quando fala de sua relação com o músico Daniel Weksler, com quem é casada há 12 anos, a cantora não posta fotos da família com frequência nas redes sociais. Apesar de a garotinha ter pais artistas, Pitty deixa claro que não pressiona sua filha para que ela siga os passos deles:

— Acho que a gente não deve ficar direcionando, senão a gente acaba jogando projeções nos nossos filhos. Quero que ela seja livre. Ela vai ser o que ela quiser. Madalena é comunicativa e gosta de atenção.

Reservada, a cantora, que recentemente esteve na casa do “Big Brother Brasil” fazendo um show para o elenco do programa, jamais se imaginou como participante de um reality show de tamanho alcance. Na ocasião, os confinados até se emocionaram com a presença dela, que precisou passar o som e ajeitar todo seu aparato técnico na hora.

— Não tive tempo de me preparar, então toquei meio de improviso. A música tem o poder de despertar uma catarse. Foi emocionante e intenso. Eu não tenho coragem de participar de um reality. Acho muita exposição. Acredito que eu não conseguiria aguentar a pressão de ser vista o tempo todo — diz.

Sem medo do cancelamento

Pitty comanda show em comemoração aos 20 anos de primeiro álbum — Foto: Lucca Miranda/ Divulgação

Mesmo avessa ao excesso de exposição, a artista encarou o desafio de estar toda semana ao vivo na televisão, durante cinco anos, como uma das apresentadoras do “Saia justa”, programa do GNT que debate temas essenciais e, muitas vezes, polêmicos. A magia de fazer TV fisgou tanto a cantora que ela não ligou para as possíveis críticas ou os tão famosos cancelamentos que eventualmente surgiriam por seus diferentes posicionamentos.

— Eu poderia ter sido muito cancelada por estar ao vivo na televisão, mas sempre fui CDF e estudava antes de o programa ir ao ar. Essa experiência foi incrível e ajudou com a minha oratória e escuta. Claro que já errei, mas procurei sempre ser responsável na hora de me comunicar. As pessoas confundem ser sincero com ser ofensivo. Nunca fui cancelada porque eu sempre tive cuidado — enfatiza.

Nos últimos anos, a cantora vem traçando seus próprios caminhos, inspirada por referências como Rita Lee, a eterna Rainha do Rock brasileiro. Sempre que pode, Pitty conta que manda uma mensagem de carinho para sua diva, mas descarta qualquer comparação com seu ídolo.

— Sou completamente apaixonada e me sinto honrada de ter cantado com Rita Lee. Ela é minha inspiração desde sempre. Não gosto muito desse papo de sucessão, rainha… Acho isso muito careta e esquisito. Não existe! As pessoas são únicas. Nunca vai haver outra Rita Lee, assim como não vai ter outra Pitty — afirma.

O público carioca esgotou os ingressos para a apresentação de amanhã na Fundição Progresso, na Lapa, poucos dias após o início das vendas. Pitty avisa que, apesar de cantar as músicas do início da carreira, o show não será preso ao passado.

— É uma homenagem aos 20 anos do “Chip novo”, mas não é um show saudosista, que só olha pra trás. Ele é bem contemporâneo. É uma ressignificação e uma celebração. Montando esse show, eu me baseei em coisas que têm a ver com aquela época, mas que se comportam muito bem também hoje em dia — resume Pitty.