Mais de 30 túmulos estão sem placas de identificação, cruzes e imagens em bronze. A maioria deles fica localizada na parte mais alta, longe do portão principal
Atos de depredação do patrimônio cultural e histórico da cidade para furtar peças em bronze não estão respeitando nem os mortos e seus familiares. Uma prova disso são os constantes ataques ao Cemitério São João Batista, em Botafogo, na Zona Sul, para furtar peças como placas de identificação, cruzes, brasões e imagens de santos. Muitas dessas ações de vandalismo são recentes e acontecem a poucos metros do portão principal.
— Estão levando os medalhões, aquelas peças redondas que ficam nas lápides, com imagens de santos ou relevo da imagem e informações do falecido, além de imagens de santos e símbolos militares. Eu tenho reparado isso nas últimas semanas, porque geralmente corto caminho pelo cemitério para ir para a casa dos meus pais que ficam do lado de Botafogo. Tenho reparado que isso acontece inclusive nas aleias principais do cemitério, no caminho que as pessoas passam — afirmou André Decourt, que denunciou os ataques mais recentes na página do SOS Patrimônio, numa rede social.
De acordo com a postagem, os furtos atingem diversos túmulos do cemitério e aponta que num passeio pelo local é possível ver que muitos desses objetos foram arrancados de forma recente, uma vez que existem massa e cimento caindo dos jazigos. Alguns desses ataques, segundo a postagem, acontecem nas aleias principais e no “caminho dos seguranças da Rio Pax”, referindo-se à concessionária que administra o cemitério.
No período de pouco mais de uma hora que esteve no cemitério, a reportagem — que em nenhum momento foi abordada por seguranças — pôde verificar que há pelo menos mais de 30 túmulos sem placas de identificação, cruzes e imagens em bronze. A maioria deles fica localizada na parte mais alta, longe do portão principal.
Os furtos mais recentes chamam atenção para a vulnerabilidade dos túmulos e mausoléus, como o da família do Marquês de Paraná,. Localizado próximo da capela histórica, chama a atenção pelo seu formato de pirâmide, com uma esfinge numa das entradas. Seu imponente portão de bronze, foi furtado durante a pandemia.
A peça que pedia 1,85 cm de altura por 70 cem de largura e pesava cerca de 70 quilos nunca mais foi localizada. Hoje quem passa pelo local, encontra o mausoléu aberto, com risco de sofrer depredações. O arqueólogo e historiador Cláudio Prado de Mello, que também é serralheiro, contou que chegou a se oferecer para confeccionar uma nova peça em ferro, mas que não teria sido autorizado pela concessionária, que exigiu dele uma autorização de descendentes do Marquês.
O historiador disse que chegou a fazer uma campanha na internet para localizar descendentes do marquês e que conseguiu entrar em contato com familiares dele, mas a conversa não evoluiu. Ele também disse ter denunciado o problema a Ministério Público Federal (MPF), que segundo ele remeteu a demanda ao Ministério Público Estadual. Ambos teriam relatado que não podiam intervir, por não se tratar de bem tombado.
No Mausoléu, segundo o historiador, estão o corpo mumificado de Honório Hermeto Carneiro Leão, o marquês do Paraná, e de seu filho Henrique Hermeto Carneiro Leão, o barão do Paraná.
— Dentro do mausoléu há peças decorativas de mármore, que são pequenas e podem ser facilmente levadas — afirmou Cláudio Prado de Mello.
Entramos em contato com a Concessionário Rio Pax, que ainda não se manifestou sobre o assunto.