Lívia Ramos foi presa no último dia 5 com outras 17 pessoas, durante uma operação da Polícia Civil contra um esquema de golpes de consórcio
Lívia Ramos de Souza, de 19 anos, presa no dia 5 durante operação da Polícia Civil contra um esquema de golpes de consórcio no Centro do Rio, foi solta na noite desta quarta-feira. A jovem estava presa há 16 dias no Instituto Penal Santo Expedito, em Bangu, Zona Oeste, nesta quarta-feira. Ao todo, 18 pessoas foram presas em flagrante na operação da Polícia Civil contra um esquema de golpes de consórcio. Segundo a mãe da jovem, Cristiane Pinto, de 51 anos, era o primeiro dia de emprego de Lívia. O alvará de soltura da jovem saiu na noite de terça-feira, após determinação da Justiça.
Cristiane esperou cerca de 10 horas em vão pela filha na porta do presídio. Sem esperanças de conseguir ver a menina ainda hoje, decidiu voltar para casa e, ao chegar lá, foi surpreendida com uma ligação de vídeo de Lívia, avisando que havia sido solta e que estava sozinha na rua.
— Os agentes falaram que o expediente já havia encerrado, que não haviam recebido mais nenhum alvará de soltura. Decidimos voltar pra casa. Quando cheguei, recebi uma ligação da Lívia desesperada em uma barraquinha perto do presídio, avisando que estava solta e pedindo para eu buscá-la. Fiquei revoltada! Foi mais um caso de injustiça contra a minha família — reforça Cristiane.
O último trabalho de Lívia havia sido como Jovem Aprendiz em uma escola municipal de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Ela estava desempregada há dois meses, quando, para ajudar a mãe com as finanças, passou a distribuir currículos. Foi assim que ela encontrou vagas abertas na empresa Icon Investimentos, no Centro do Rio.
— Ver a Lívia presa me deu uma angústia muito grande. Essa palavra “presa”… isso não combina com a minha filha. Uma menina doce, amorosa, carinhosa. Todos aqui no meu bairro, quando souberam, não acreditaram. “A nossa Lívia?”, perguntaram. Ela é uma menina que me ajuda em casa, que faz amizade fácil, amiga de todo mundo. Olha para o rostinho dela… Todo mundo falou: “Nossa, a gente não vê maldade nessa menina”. A gente não entendeu, sabe? Não passa nem reflexo de maldade na cabeça dela. Colocaram a Lívia num perfil totalmente ao contrário do que ela é — conta Cristiane.
Ela foi chamada à cede do local e, em apenas 4h por lá, foi presa em flagrante junto a outras 17 pessoas, acusada de estelionato e formação de quadrilha.
Além dela, outros 13 jovens, presos na mesma ocasião, também terão a prisão preventiva convertida em medidas cautelares. No documento, o desembargador José Muiños Piñeiro Filho, da 6ª Câmara, determina ainda que os jovens não prestem serviços para empresas “que tenham o mesmo objeto daquela que deu origem ao auto de prisão em flagrante”. Além disso, terão que comparecer ao juízo em até cinco dias, para informar onde poderão ser encontrados para os atos judiciais necessários.
Relembre o caso
A família de Lívia, de 19 anos, afirma que a jovem estava no escritório da empresa Icon Investimentos, apontada como alvo da ação, para realizar uma entrevista de emprego. Ela foi ao local pela primeira vez naquele dia e participava de um treinamento.
Segundo sua família, a jovem teria sido detida por engano. Junto a ela, outras 17 pessoas com idades entre 18 e 30 anos foram presas por suspeita de participação no esquema. Desde o dia da prisão, a auxiliar de serviços gerais Cristiane Pinto Ramos, de 51 anos, mãe da jovem, diz que não consegue entrar em contato com a filha.
Segundo Cristiane, a filha estava em busca de emprego após o término de um contrato como Jovem Aprendiz, e viu na empresa Icon Investimentos uma oportunidade de se inserir no mercado de trabalho para ter a carteira assinada. Ela seria admitida para vender consórcios e teria comissão sobre as vendas que efetuasse.
— Ela viu a vaga na internet, no site Infojobs. Chegando lá, já colocaram ela para fazer treinamento no computador. Não assinou nada, não chegou a fazer venda e não teve movimento de dinheiro entrando na conta dela, só estava treinando. Eu estava no trabalho, e quando foi 20 horas ela me ligou desesperada dizendo que estava presa — explica.
Lívia chegou ao escritório por volta das 10h. Às 14h, segundo Cristiane, os policiais chegaram e deram voz de prisão a todos. Horas depois, a jovem entrou em contato com a mãe e pediu para que ela fosse até a 58ª DP (Posse) para tentar tirá-la de lá, o que não foi possível.
Cristiane foi até a delegacia, onde falou com a filha pela última vez. Depois disso, não conseguiu mais contato. Segundo a mãe, um advogado da empresa afirmou que iria “pegar a causa” de todos os jovens presos.
— Quando vi que nada estava acontecendo, que o habeas corpus foi retificado e que ela não saiu na audiência de custódia, rapidamente separei um advogado particular para cuidar do caso da Lívia. O caso da minha filha é diferente, primeiro dia de emprego dela, não sabia nada sobre essa empresa. O juiz não libera ela, ninguém está entendendo — conta.
Além da mãe de Lívia, familiares de outros jovens presos na operação também defendem a inocência deles. Na internet, alguns parentes começaram a pedir justiça, afirmando que eles não sabiam dos golpes e se candidataram às vagas pelo mesmo site usado por Lívia.
Pai da jovem Kyara Rabelo, de 18 anos, Ubirajara Tavares diz que a filha trabalhava no local havia menos de um mês.
— É muito mole prender para investigar depois. Essa é a minha indignação. Estou há uma semana sem conseguir dormir, é só angústia. Criei minha filha dentro de casa, ela não era de rua. Sempre dei educação para ela, não tinha maldade. Sei como minha filha é, ela é muito inocente. Está difícil para caramba. Não sei expressar — disse.