Jornal Povo

Irã lança ataque contra Israel com drones e mísseis e diz que ação conclui retaliação a bombardeio de embaixada; vídeo

O Irã realizou um ataque retaliatório contra Israel, lançando “dezenas de drones e mísseis” em direção ao território do Estado judeu, confirmaram a Guarda Revolucionária do Irã e as Forças Armadas israelenses neste sábado, marcando uma grande e perigosa escalada de tensões no Oriente Médio. Horas depois, a missão do Irã na ONU afirmou que a ofensiva foi uma resposta à agressão do regime sionista contra as instalações diplomáticas iranianas em Damasco, acrescentando que, com a ação deste sábado, “o assunto pode ser considerado concluído”. É a primeira vez que Teerã lança um ataque direto, a partir de seu território, contra Israel.

O regime teocrático iraniano ameaçava Israel com um ataque direto há semanas, desde que um ataque atribuído às forças israelenses contra o anexo consular da embaixada do Irã na Síria causou a morte de membros da Guarda Revolucionária, força de elite iraniana, incluindo o general Mohammad Reza Zahedi, comandante das Forças Quds. A consumação da retaliação cria um cenário ainda mais complexo e conflituoso na região.

Os Estados Unidos, que começavam a pressionar Israel de forma mais incisiva pela operação militar em Gaza, saíram em defesa do principal aliado na região, prometendo “dar apoio à defesa de Israel contra o Irã”. Em contrapartida, aliados do país dos aiatolás demonstraram apoio. O movimento libanês Hezbollah e os rebeldes Houthis, do Iêmen, lançaram foguetes e drones contra Israel, em uma ação coordenada partindo de diferentes frentes do chamado Eixo da Resistência.

Em uma série de notas emitidas por autoridades militares e diplomáticas, o Irã descreveu a ação inédita contra Israel como expressão de “legítima defesa”, em acordo com as regras definidas pela ONU, citando o bombardeio à embaixada na Síria.

“Nós lançamos uma operação usando drones e mísseis em resposta ao crime da entidade sionista de alvejar o consulado iraniano na Síria. A operação foi realizada com dezenas de mísseis e drones para atacar alvos específicos nos territórios ocupados [como o Irã se refere a Israel]”, disse um comunicado da Guarda Revolucionária Islâmica.

A missão permanente da nação persa na ONU justificou a ação com base no Artigo 51 da Carta das Nações Unidas, mencionando uma “resposta à agressão do regime sionista” contra as instalações diplomáticas em Damasco. O comunicado, contudo, diz que “o assunto pode ser considerado como encerrado” após a retaliação, ameaçando uma escalada em caso de novos desdobramentos.

“Se o regime israelense cometer outro erro, a resposta do Irã será consideravelmente mais severa. É um conflito entre o Irã e o criminoso regime israelense, do qual os EUA DEVEM FICAR DE FORA!”, diz o texto.

As Forças Armadas israelenses também confirmaram o ataque iraniano lançado contra o país. Logo após o registro do disparo dos mísseis, o porta-voz das Forças Armadas, Daniel Hagari fez uma declaração televisionada, confirmado o lançamento de drones do território iraniano contra Israel e disse que o país estaria “trabalhando em estreita cooperação com os Estados Unidos e nossos parceiros na região para agir contra os lançamentos e interceptá-los”.

Além dos drones citados por Hagari, a inteligência israelense também detectou o lançamento de mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos do Irã e do Iraque. Segundo funcionários israelenses ouvidos pelo New York Times, as áreas de impacto esperadas eram as Colinas do Golã e uma base da Força Aérea Israelense no Deserto do Neguev.

O impacto do ataque aéreo massivo não ficou imediatamente claro, e foi motivo de uma disputa narrativa entre fontes iranianas e israelenses. Hagari afirmou que os ataques iranianos causaram pequenos danos a uma base militar, sem revelar o nome ou a localização exata, mas afirmou que uma menina ficou ferida. A mídia estatal do Irã, por outro lado, disse que os bombardeios desferiram “golpes pesados” na base aérea de Neguev.

“A base aérea israelense mais importante no Negev foi alvo bem-sucedido do míssil Kheibar”, disse a agência de notícias oficial IRNA, acrescentando que “imagens e dados indicam que a base sofreu fortes golpes”.

Antes dos registros de interceptações, Hagari afirmou que o GPS não ficaria disponível em certas áreas como parte dos preparativos de segurança, acrescentou. Sirenes soaram nos locais de aproximação dos projéteis em meio à prontidão do sistema de defesa israelense.

— Pedimos que estejam atentos e sigam as instruções do Comando da Frente Interna. Entendemos essas ameaças e lidamos com elas no passado — disse Hagari.

Mais cedo, o primeiro ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, se dirigiu ao país e afirmou que Israel estaria preparado “para a possibilidade de um ataque direto” do país e convocou o Gabinete de guerra e o Gabinete de segurança para uma reunião.

— Nossos sistemas de defesa estão implantados, e estamos preparados para qualquer cenário, tanto na defesa quanto no ataque. Estabeleci um princípio claro: quem nos ferir, nós os feriremos. Defenderemos contra qualquer ameaça e faremos isso com calma e determinação — disse o premier.

O ataque “provavelmente se desdobrará ao longo de várias horas”, afirmou a porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, Adrienne Watson, em comunicado. Watson ainda reafirmou a posição americana de que o “apoio à segurança de Israel é inabalável” e que os EUA “estarão ao lado do povo de Israel e apoiarão sua defesa contra essas ameaças do Irã”.

O ministro da Defesa do Irã, Mohammad Reza Ashtiani, emitiu um aviso severo a qualquer país que permita que Israel utilize seu espaço aéreo ou território para atacar seu país, dizendo que enfrentarão uma “resposta decisiva”, informou a agência de notícias estatal Irna.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, condenou “fortemente” o ataque de drones do Irã contra Israel neste sábado como uma “grave escalada” e apelou a todas as partes para que evitem uma conflagração regional devastadora.

“Estou profundamente alarmado com o perigo muito real de uma escalada regional devastadora”, disse ele em um comunicado. “Exorto todas as partes a exercerem a máxima contenção para evitar qualquer ação que possa levar a confrontos militares em larga escala em múltiplas frentes no Oriente Médio”.

Retaliação por bombardeio

O Irã prometeu retaliar o Estado judeu pelo bombardeio ocorrido em 1º de abril contra seu consulado em Damasco, o qual atribuiu a Israel. Sete membros da Guarda Revolucionária, o exército ideológico da República Islâmica, foram mortos no bombardeio, incluindo dois com o posto de general.

O alerta sobre uma ofensiva levou à ordenação de uma série de medidas de segurança em território israelense neste sábado, com o fechamento das escolas em todo o país e a suspensão de atividades por razões de segurança.

Como parte dessas restrições, todos os centros recreativos também foram fechados e as excursões canceladas. Reuniões ao ar livre foram limitadas a 1.000 pessoas, com ainda menos nas regiões fronteiriças, onde as praias ficaram fechadas. As atividades comerciais, entretanto, não serão afetadas pelas medidas.

Israel já havia alertado que o Irã sofreria as “consequências por escolher agravar ainda mais a situação”, à medida que aumentavam os temores de um conflito mais amplo, mais de seis meses após o início da guerra de Israel contra o grupo terrorista Hamas.

Diante da ameaça, a Jordânia, o Líbano e o Iraque fecharam o seu espaço aéreo, assim como Israel.

O chefe da diplomacia da União Europeia (UE), Josep Borrell, condenou os ataques do Irã a Israel. “A UE condena veementemente o inaceitável ataque iraniano contra Israel”, escreveu ele na plataforma X (antigo Twitter). “Esta é uma escalada sem precedentes e uma grave ameaça à segurança regional”.