Jornal Povo

Confronto em Desocupação na UERJ Termina com Prisão de Deputado e Estudantes

Rio de Janeiro — A desocupação do prédio principal da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), no Maracanã, Zona Norte da capital, na tarde desta sexta-feira (20), terminou em confronto entre estudantes e policiais militares. O deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ) e pelo menos três estudantes foram detidos durante a ação.

A ordem de desocupação foi emitida pela 13ª Vara de Fazenda Pública do Rio de Janeiro, determinando a saída imediata dos manifestantes que ocupavam as dependências da universidade em protesto contra cortes e mudanças no sistema de bolsas estudantis. A decisão judicial também autorizava o uso de força policial em caso de resistência.

Horas antes do confronto, a reitoria da UERJ havia divulgado uma nota pedindo que os manifestantes deixassem o local de forma “voluntária e pacífica”. Na mensagem, a instituição alertava que, diante do respaldo judicial, poderia solicitar apoio das forças policiais para cumprir a decisão.

“Após a decisão da juíza da 13ª Vara, expedida hoje, de que os réus e terceiros que estejam ocupando ilicitamente o prédio da UERJ o desocupem imediatamente, sob pena de auxílio de forças policiais, a Reitoria apela aos ocupantes que obedeçam à ordem judicial, desocupando voluntária e pacificamente o prédio João Lyra Filho”, dizia o comunicado.

Prisões e Confronto

De acordo com informações do PSOL, Glauber Braga estava no local para prestar apoio aos manifestantes. O deputado e os três estudantes detidos foram encaminhados para a Cidade da Polícia, no Jacarezinho, também na Zona Norte. Em nota, o partido lamentou as prisões e criticou a atuação policial.

“É lamentável o que aconteceu na UERJ hoje. O deputado Glauber Braga, jornalistas e estudantes foram presos em um episódio que jamais deveria ocorrer em uma universidade pública. Repúdio a qualquer forma de violência que impeça o diálogo e o avanço da educação pública. O PSOL vai trabalhar incessantemente para garantir a soltura imediata de todos os envolvidos”, declarou o deputado estadual Flávio Serafini.

Crise e Motivo da Ocupação

Os estudantes relataram que os atrasos nos pagamentos de bolsas e auxílios, como transporte e alimentação, vêm ocorrendo desde o início deste ano. Além disso, cortes anunciados nas bolsas permanência motivaram a ocupação. Cerca de 2,6 mil estudantes em situação de vulnerabilidade social têm direito a benefícios como auxílio-material de R$ 1,2 mil por semestre, auxílio-alimentação e transporte de R$ 300 mensais cada, e bolsa de apoio de R$ 706 mensais.

Pelas novas regras, o auxílio-alimentação será extinto, o auxílio-material sofrerá uma redução de 50%, e a bolsa permanência ficará restrita a estudantes com renda familiar de até meio salário mínimo per capita — anteriormente, o limite era de um salário mínimo e meio.

Os manifestantes criticam a reitora Gulnar Azevedo, que havia prometido a manutenção do pagamento em dia dos auxílios durante sua campanha. A sala da reitoria foi pichada com frases de protesto, incluindo “Fora Gulnar”.

Repercussão

O episódio gerou críticas de setores da sociedade e de representantes políticos, que questionaram o uso da força em um ambiente universitário. Organizações estudantis e movimentos sociais já preparam manifestações em apoio aos detidos e contra os cortes nas bolsas da UERJ.

O caso ainda está sendo investigado, e a UERJ informou que buscará diálogo com os estudantes para resolver a situação dos auxílios e assegurar que os compromissos assumidos sejam cumpridos.