
OCORRÊNCIA NO ITANHANGÁ: LINHA PRECISOU FAZER TRAJETO ALTERNATIVO
Após viverem momentos de pânico durante toda a quarta-feira (16), devido ao sequestro de 9 ônibus para a criação de barricadas por grupos criminosos, os moradores do Itanhangá e das comunidades da Muzema, Vila da Paz e Tijuquinha. Com a presença do patrulhamento reforçado da Polícia Militar do Rio de Janeiro na região, moradores vivem a normalização da rotina nesta quinta-feira (17). Segundo a Rio Ônibus, a circulação na região foi normalizada.
Ontem, o secretário de segurança pública, Vitor Santos, afirmou que os traficantes tiveram a Tijuquinha como base de encontro para sequestrar os veículos e usá-los como barricadas, visando impedir a realização da operação policial conduzida pelo BOPE (Batalhão de Operações Especiais).
Segundo a Secretaria de Segurança Pública, após render os motoristas desses veículos, os criminosos usam os carros como barricadas e “desaparecem” com as chaves.

8 VEÍCULOS FORAM INCENDIADOS, 1750 VANDALIZADOS E 97 UTILIZADOS COMO BARRICADA
De acordo com a RioÔnibus, os locais mais afetados por essas ações têm se concentrado em Ramos, Vila Aliança, Cordovil, Muzema e Tijuquinha. As empresas concessionárias das linhas de ônibus já levantaram dados que apontam que, apenas em 2024, 8 veículos foram incendiados, 1750 vandalizados e 97 utilizados como barricadas.
A situação nessa região já levou o governo estadual a desencadear dois projetos. Em janeiro de 2022, o governador Cláudio Castro inaugurou o programa Cidade Integrada prometendo levar aos mais de 4,5 mil moradores da Favela da Muzema desenvolvimento econômico, infraestrutura e, principalmente, segurança pública. Na época, a comunidade era controlada por milicianos, que tinham uma forte atuação no mercado ilegal da construção civil. Passados dois anos, a paz continua longe de ser alcançada.
Em julho, a Secretaria de Segurança deu início à Operação Ordo — que significa ordem — em favelas onde há disputa territorial entre o Comando Vermelho e milícias. Ela acontece em pelo menos 14 comunidades dessa parte da Zona Oeste e mais de uma centena de suspeitos já foram presos.
Para controlar a situação na região no entorno da Estrada do Itanhangá, a PM mobilizou homens do Bope, do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes), do Batalhão de Rondas Especiais e Controle de Multidões (Recom) e do Batalhão Tático de Motociclistas. Para desbloquear a estrada, os agentes usaram dois caveirões, dois caminhões e até um trator. Na entrada da Muzema, na Rua C, era possível notar nas paredes pichações com as iniciais CV.
Quem mora no local ficou assustado com o que ocorreu, mas a maioria evita fazer comentários com medo de represálias.
— Só sei que isso aconteceu mais cedo. Mas não vi nada porque estava dormindo — disse um morador, antes de sair apressado.
A briga entre o Comando Vermelho e a milícia nessa região envolve o controle de um mercado lucrativo com a exploração de negócios ilegais, como a venda de sinal clandestino de TV a cabo e internet, de botijões de gás e de garrafões de água, além da cobrança de taxas de segurança e a construção de imóveis sem licença. Com a expansão territorial naquela região, o CV adotou a mesma prática de extorsões, que, antes, era uma marca da milícia.
A disputa por território entre o Comando Vermelho e a milícia foi ainda mais violenta na Gardênia Azul, no Anil, onde os traficantes conseguiram dominar a comunidade. A facção também já explora negócios ilegais em partes de Vargem Grande, Vargem Pequena e Recreio dos Bandeirantes.
Investigação da Polícia Civil aponta que a ordem para expansão partiu da cúpula da facção criminosa. Entre os chefes por trás dessa estratégia estão Edgar Alves de Andrade, o Doca, ou Urso, do Complexo da Penha, e Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, do Complexo do Alemão. Os dois estão com as respectivas prisões decretadas pelo Tribunal de Justiça do Rio e são considerados foragidos. Em nota, a PM informou que o policiamento ficará reforçado na região por equipes do 31º BPM e do Recom para evitar novos ataques.