Jornal Povo

OPERAÇÃO NO COMPLEXO DE ISRAEL: PÂNICO E DESESPERO NA AVENIDA BRASIL

Passageiros e motoristas tentam se proteger durante intenso tiroteio  — Foto: Reprodução/Fabiano Rocha

QUINTA-FEIRA MARCADA PELO MEDO

Hoje pela manhã o Complexo de Israel, na Cidade Alta, foi alvo de operação da Polícia Militar com o objetivo de prender criminosos envolvidos em roubos de carros e cargas na região.

A manhã desta quinta-feira (24) foi marcada por momentos de desespero na Zona Norte do Rio de Janeiro, quando um intenso tiroteio na Cidade Alta ocorreu no fechamento da Avenida Brasil por mais de duas horas. 

Após ser baleado na cabeça, um homem de 60 anos morreu, e outros cinco ficaram feridos. Três baleados foram levados para o Hospital Municipal Dr. Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias, onde a vítima fatal já chegou sem vida. Outras três pessoas atingidas por tiros foram socorridas e encaminhadas para o Hospital Federal de Bonsucesso, incluindo um homem de 48 anos, também ferido na cabeça. 

Victoria Dantas, moradora de Guadalupe, Zona Norte do Rio, estava a caminho do trabalho e gravou um vídeo dentro do BRT, capturando os momentos de desespero e tensão vividos pelos passageiros. 

Ela conta que entrou no BRT ainda na estação de Guadalupe, já observando a superlotação. 

“A estação estava muito cheia lá em Guadalupe. Eu entrei e tinha um pessoal comentando dentro do ônibus que tava tudo fechado, que tava tendo tiroteio na Cidade Alta. Mas tem gente que às vezes fala besteira e não é nada” — relatou.

No entanto, ao avançar pelo trajeto, Victoria percebeu que a situação era mais grave do que imaginava. — “Quando a gente saiu de Vigário Geral para chegar na Cidade Alta, já comecei a ouvir o tiroteio. Nisso, todo mundo já baixou dentro do ônibus” — descreve. 

Segundo ela, o motorista parou o BRT no meio da pista, sem condições de avançar ou sair do veículo, e informou aos passageiros que teriam que esperar. 

“Ele falou que ia ter que esperar o tiroteio acalmar. Todo mundo deitou no chão e ficou lá. A gente ficou mais ou menos uns 40 minutos assim” — relembra.

Devido a uma operação, uma parte da Avenida Brasil se encontra fechada. — Foto: Reprodução/Fabiano Rocha

PESSOAS ATINGIDAS

Na Avenida Brasil, o passageiro Renato Oliveira, de 48 anos, que estava no ônibus 493 (Central x Ponto Chic), da empresa Tinguá, foi baleado na cabeça e levado para o Hospital Federal de Bonsucesso. O estado de saúde dele é gravíssimo. Outros dois, de 27 anos, tiveram ferimentos no antebraço e nas nádegas, informou a diretoria da unidade.

Outros três feridos foram levados para o Hospital Municipal Dr Moacyr Rodrigues do Carmo (HMMRC), em Duque de Caxias, segundo a Secretaria de Saúde daquele município. 

As vítimas do tiroteio são: Paulo Roberto de Souza, de 60 anos, que chegou à unidade já morto, com um tiro na cabeça; Geneilson Eustáquio Ribeiro, de 49 anos, também ferido na cabeça, foi entubado e tem quadro gravíssimo; Alayde dos Santos Mendes, de 24 anos, baleado na coxa direita, em estado de saúde estável e em acompanhamento médico.

O caos foi intensificado quando um policial das forças especiais apareceu e ordenou que os passageiros saíssem do BRT. — “Ele exigiu que a gente descesse e fosse para a calçada, para não ficar no meio da pista, porque o outro BRT, no sentido Campo Grande, já tinha duas pessoas baleadas — contou Victoria, destacando o medo e a incerteza naquele momento.

Outro relato veio de Mariana Lopes Andrade, de 24 anos, estudante de enfermagem da UFRJ, que também foi surpreendida pela situação. Grávida de sete meses, ela estava no ônibus da linha 388 (Cesarão-Candelária), a caminho da faculdade, quando tudo parou subitamente.

Passageira de ônibus registra o caos no caminho do trabalho na Avenida Brasil — Foto: Reprodução

“Estava no caminho da faculdade quando tudo parou. Tive que descer no meio da Avenida Brasil e vir para o ponto de ônibus porque o trânsito não andava” — disse Mariana, que precisou chamar um carro por aplicativo para tentar chegar à universidade.

“Agora tô aqui esperando um Uber para ver se chego a tempo de pegar alguma aula ainda, mas já perdi as primeiras do dia” — lamentou a estudante.

O fechamento da Avenida Brasil ocorreu por volta das 7h20, afetando tanto o trânsito quanto o transporte público. Segundo a Polícia Militar, a operação no Complexo de Israel enfrentou forte resistência de criminosos, que utilizaram valas para dificultar o avanço dos policiais. 

Houve relatos de tiros disparados por criminosos em fuga, o que forçou a interrupção do fluxo de veículos na principal via da cidade.

Criminosos chegaram a incendiar veículos e construir barricadas na tentativa de impedir a chegada das forças policiais. Com o aumento da violência, motoristas e passageiros tentaram se proteger atrás de muretas ao longo da Avenida Brasil, temendo serem atingidos.

A Rio Ônibus informou que 26 LINHAS DE ÔNIBUS tiveram que desviar suas rotas devido à operação, enquanto a SuperVia anunciou a suspensão de cinco estações de trem: Penha Circular, Brás de Pina, Cordovil, Parada de Lucas e Vigário Geral. O ramal Saracuruna operava apenas no trecho entre Central do Brasil e Penha, com intervalos de 30 minutos.

Além do trânsito e transporte que foram afetados, a operação policial causou transtornos em serviços essenciais na região. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o Centro Municipal de Saúde Iraci Lopes e a Clínica da Família Heitor dos Prazeres suspenderam o funcionamento na manhã desta quinta-feira por motivos de segurança. O CMS José Breves dos Santos, que também havia interrompido suas atividades, voltou a operar mais tarde.

O impacto também foi sentido nas escolas. A Secretaria Municipal de Educação (SME) informou que pelo menos três unidades escolares nas comunidades de Cinco Bocas e Pica-Pau foram afetadas, além de outras cinco em Vigário Geral e Parada de Lucas. Na Cidade Alta, oito escolas foram impactadas pela operação policial, forçando o fechamento temporário.

A operação no Complexo de Israel segue em andamento. Agentes do 16º BPM (Olaria) continuam atuando nas comunidades de Cinco Bocas, Pica-Pau e Cidade Alta, buscando capturar os responsáveis pelos crimes na região. A PM afirmou que a resistência encontrada durante a operação atrasou o avanço das tropas, mas que a ação será mantida até a CONCLUSÃO DOS OBJETIVOS.

Enquanto isso, moradores da região e passageiros dos transportes coletivos seguem enfrentando as consequências, que tornaram esta quinta-feira mais um dia marcado pela violência urbana no Rio de Janeiro.

 “Atravessei a passarela da Avenida Brasil correndo porque a bala tava vindo aqui na Cidade Alta”, relatou um morador nas redes sociais, descrevendo o pânico vivenciado por quem tenta seguir com a vida normal em meio à violência cotidiana.

A cidade permanece em estado de alerta, com a CET-Rio e a Polícia Militar monitorando a situação de perto e buscando retomar a normalidade nas vias e nos serviços públicos afetados.