Jornal Povo

“AUTOEXTERMÍNIO COM EXPLOSIVO”: AÇÃO TERRORISTA NO STF PODE TER RELAÇÕES COM OS ATAQUES DE 8 DE JANEIRO

Um vídeo do circuito de segurança do STF (Supremo Tribunal Federal) mostra a ação do homem que detonou explosivos em frente à sede da corte no começo da noite de quarta-feira (13) — Foto: Reprodução

TERRORISTA FOI PRESO EM FLAGRANTE POR LESÃO CORPORAL EM DEZEMBRO DE 2012, MAS FOI LIBERADO APÓS O PAGAMENTO DE FIANÇA EM 2013

O catarinense Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, morreu após ser atingido por um artefato explosivo acionado por ele mesmo em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF), em Brasília.

Luiz já foi preso em flagrante por crime de lesão corporal na cidade de Rio do Sul (SC). Francisco é apontado, até o momento, como único suspeito de duas explosões registradas na noite nas imediações da Praça dos Três Poderes, na noite desta quarta-feira.

Após a prisão, em dezembro de 2012, Francisco Wanderley Luiz foi liberado mediante pagamento de fiança. Meses depois, em maio de 2013, foi condenado à pena de 3 anos e 3 meses pelo crime, com suspensão condicional da pena (quando não há cumprimento da pena privativa de liberdade) até abril de 2014, ocasião em que a Justiça determinou que ele cumprisse regime aberto até o fim do cumprimento da sentença, em agosto do mesmo ano.

O QUE SE SABE SOBRE O CASO?

A Polícia Federal e a Polícia do Distrito Federal investigam a morte de Francisco Wanderley Luiz, nas proximidades da sede do Supremo Tribunal Federal (STF), na noite desta quarta-feira. Quase ao mesmo tempo, um carro explodiu a cerca de 500 metros dali, no estacionamento da Câmara.

A primeira explosão ocorreu por volta das 19h30, quando o carro estacionado no Anexo IV da Câmara, onde ficam localizados os gabinetes dos deputados, foi incendiado. O veículo tem placa de Santa Catarina e carregava explosivos amarrados com madeira, além de fogos de artifícios no seu interior.

A investigação preliminar aponta que, após deixar o STF, Francisco caminhou até a Praça dos Três Poderes, tentou entrar na sede da Corte, mas não conseguiu. Foi então que ele se dirigiu até a entrada do prédio e se postou a alguns passos da estátua da Justiça. Ele teria acionado os explosivos no carro por meio de um detonador.

De acordo com um segurança da Corte, que prestou depoimento à Polícia Civil, Luiz carregava uma mochila e estava em atitude suspeita em frente à estátua. Ele retirou alguns artefatos de dentro da bolsa e lançou em direção ao prédio. Em seguida, se deitou e explodiu uma bomba junto ao seu corpo. As imagens mostram que a explosão atingiu parte da sua cabeça e uma de suas mãos.

O documento da polícia diz que uma testemunha “relatou ter ouvido cerca de duas explosões no sentido do estacionamento da Câmara dos Deputados”. De acordo com a Polícia Militar do Distrito Federal, houve um “autoextermínio com explosivo”.

Francisco Wanderley Luiz, de 59 anos, chegou a ser candidato a vereador em sua cidade natal, Rio do Sul (SC). Ele teve 98 votos e não foi eleito — Foto: Reprodução

IDENTIDADE DO HOMEM-BOMBA

Luiz chegou a ser candidato a vereador em sua cidade natal, Rio do Sul (SC), nas eleições municipais de 2020. Ele teve 98 votos e não foi eleito.

Na ocasião, Luiz declarou ter um patrimônio de R$263 mil, incluindo a posse de três veículos, uma moto e um prédio residencial de dois pavimentos na região urbana de Rio do Sul.

As redes sociais de Luiz mostram ameaças a autoridades referentes a uma explosão em Brasília. O homem, que declarou a Justiça Eleitoral ser chaveiro, também postou uma foto dentro do plenário do STF, em agosto, e escreveu na legenda que “deixaram a raposa entrar no galinheiro”.

Em uma das imagens postadas, ele diz que a Polícia Federal tem “72 horas” para “desarmar a bomba” e cita a casa de políticos e autoridades. Em outra, o homem cita o dia 13 de novembro, esta quarta-feira, e fala em “grande acontecimento”.

RELAÇÃO COM O 8 DE JANEIRO

O inquérito aberto para apurar o caso ficará a cargo do ministro Alexandre de Moraes, do STF, pois a Polícia Federal avalia que podem existir conexões com as investigações sobre os atos de 8 de janeiro e das milícias digitais. O episódio reforça o debate sobre a proteção da sede dos Três Poderes um ano e dez meses após os ataques golpistas .

O caso é considerado “grave” e a decisão de a PF entrar no caso foi tomada rapidamente. Ela se justifica pelo fato de o ataque ter ocorrido em órgão público federal.

Os investigadores ainda não sabem se ele agiu sozinho ou teve a ajuda de outras pessoas. A Polícia Civil do Distrito Federal identificou que Francisco alugou uma casa em Ceilândia há duas semanas. Investigadores também estão à procura de um trailer que foi rebocado pelo carro do autor das explosões.