
DADOS DO ISP MOSTRAM QUE 21.251 CASOS FORAM REGISTRADOS NO ESTADO NOS NOVE PRIMEIROS MESES DE 2024
Um carro da comitiva de um ministro que estava no Rio para o G20, foi roubado na última quinta-feira e a rápida recuperação, ilustram estatísticas de um crime em crescimento na cidade. O roubo aconteceu em frente a um hotel, na Rua do Riachuelo, no Centro. A polícia foi mobilizada, e pouco depois o Toyota Corolla foi encontrado na favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, na Zona Norte.
Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) mostram que 21.251 veículos foram roubados no estado nos nove primeiros meses do ano. A comparação com o mesmo período de 2023 revela alta de 29%. Estatísticas do ISP mostram ainda que, de janeiro a setembro de 2024, foram recuperados 13.101 automóveis e motos: 19% mais do que no mesmo recorte do ano passado.
Apesar de não haver relação direta entre os dois números — o registro de recuperação pode não corresponder necessariamente ao de um veículo roubado no mesmo ano —, o levantamento traz dados importantes. Um deles são as áreas de circunscrição de 78 delegacias, a maioria no interior, onde os registros de recuperação de veículos superaram o número de roubos. Em 27 delas, nenhum carro ou moto foi roubado. A 151ª DP (Nova Friburgo) não teve registro de roubos nos nove primeiros meses do ano, mas 43 recuperações aconteceram.
Na Zona Sul do Rio, a 11ª DP (Rocinha) também não registrou roubo de veículos, mas quatro carros ou motos foram recuperados na região. Na capital, a maior diferença entre roubos e recuperações ficou com a 12ª DP(Copacabana), com sete veículos roubados e 15 recuperados. Guaratiba, Santa Cruz, Bonsucesso e Ilha também tiveram mais recuperação do que roubo.
Na outra ponta, estão 54 áreas de delegacias onde os roubos superam as recuperações. A maior disparidade foi na área da 18ª DP (Praça da Bandeira): 328 roubos e 39 recuperações, ou um recuperado a cada oito veículos roubados.
Foi nessa região, na Avenida Rei Pelé, no Maracanã, que no dia 16 de outubro a Lamborghini do cantor e ator Xamã, então dirigida por um funcionário dele, foi roubada. O carro, avaliado em R$4 milhões, foi recuperado em seguida, na Quinta da Boa Vista, em São Cristóvão.
Outras áreas com índices ruins são 9ª DP (Catete), 10ª DP (Botafogo) e 19ª DP (Tijuca), onde a média é de seis roubos para uma recuperação. A da 23ª DP (Méier) e a da 30ª DP (Mal. Hermes) vêm em seguida, com cinco roubados e um recuperado.
ESTRATÉGIAS
Para Robson Rodrigues, coronel PM da reserva, antropólogo e pesquisador do Laboratório de Análise da Violência da Uerj, a maior incidência de roubos em determinadas áreas indica mercado criminoso aquecido com vantagens e oportunidades, além de falhas no sistema de prevenção.
Segundo o especialista, as motivações para os roubos em algumas áreas podem ser diversas e vão de desmanche de veículo e venda clandestina de peças a roubo por encomenda ou até para “esquentar” carros e motos com documentos falsos. Segundo o oficial, os dados de recuperação de veículos são importantes para estabelecer estratégias de combate ao crime.
— O primeiro passo para uma investigação é ter um histórico de onde foi (o roubo) e para onde vai. Os dados de recuperação são valiosos porque mostram a rota mais usual desses criminosos, podem sinalizar algum tipo de dinâmica criminal, se estão roubando para atravessar, para levar drogas e armas etc. Números de recuperação enriquecem a análise criminal — disse o especialista.
NOVA FASE DE OPERAÇÃO
Procurada, a Polícia Civil informou que 80% dos roubos de veículos são ordenados por facções que atuam no tráfico de drogas. O objetivo seria obter recursos, uma vez que os automóveis são clonados e trocados por armas e drogas ou são cortados, para as peças serem revendidas em ferros-velhos e lojas de autopeças. Segundo a polícia, o dinheiro obtido financia parentes de presos das facções e é usado em aquisição de armas e munições para expansão territorial, proteção dos que já foram conquistados e cometer novos crimes.
Em nota, a corporação informou que, para interromper esse ciclo criminoso, a Polícia Civil iniciou em setembro a segunda fase da Operação Torniquete, que visa ao combate de roubos, furtos e receptação de veículos e de cargas. “Ao longo de quase dois meses, 160 criminosos foram capturados — cerca de 60% deles são reincidentes e ficam presos, em média, 14 meses”.