
DOIS DELEGADOS DA POLÍCIA CIVIL DO RIO ESTÃO NA MIRA DAS INVESTIGAÇÕES
Delegados da Polícia Civil do Rio estão entre os alvos da operação deflagrada na manhã desta terça-feira. A investigação é conduzida pelo Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (Gaeco/MPRJ). E o objetivo da ação é cumprir mandados de busca e apreensão contra investigados por possíveis fraudes em contratos firmados com a Fundação Estadual de Saúde.
Segundo informações, existe a possibilidade de que servidores públicos e outros envolvidos tenham se beneficiado indiretamente dos recursos obtidos por meio do esquema criminoso. Entre os investigados estão o ex-chefe de Polícia Civil, Allan Turnowski, e o delegado Eduardo Clementino de Souza.
As investigações revelaram o direcionamento de contratos públicos em favor das empresas Vidgel Vigilância e Segurança e Vidgel Serviços Terceirizados. Os contratos foram celebrados nos anos de 2021 e 2022, para prestação de serviços no Hospital Heloneida Studart, em São João de Meriti, Hospital Estadual da Mãe, em Mesquita, e Centro Estadual de Diagnóstico por Imagem (CEDI – Rio Imagem), no Centro do Rio.
Os promotores de Justiça identificaram uma suposta triangulação financeira envolvendo as empresas Vidgel, que o delegado Eduardo Clementino é sócio, o pai de Turnowski e o próprio ex-secretário, indicando a prática de repasse financeiro indireto.
A participação de Turnowski no esquema passou a ser investigada em 2022. Durante a Operação Águia de Cabeça, que resultou na prisão do delegado, os agentes do Gaeco encontraram o recibo de uma das empresas investigadas no escritório dele. A suspeita é que o dinheiro chegava até o delegado por meio do pai.
Durante as buscas nesta terça-feira, os agentes do Gaeco apreenderam cerca de R$ 62,4 mil em espécie. O valor de R$ 27, 2 mil e US$ 600 foram encontrados na casa de um dos alvos, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Em outro endereço, em Copacabana, na Zona Sul, eles apreenderam R$35,2 mil.

FUNDAÇÃO SAÚDE E ÓRGÃOS INFECTADOS COM HIV
As irregularidades nas contratações da Fundação Saúde já foram apontadas em outros inquéritos policiais, como o caso do laboratório PCS Saleme, investigado pela contaminação de pelo menos seis pessoas por HIV após receberem órgãos transplantados. Na época, uma matéria do GLOBO mostrou que o que era para ser exceção virou regra na Fundação Saúde.
Desde 2021, contratações consideradas emergenciais — feitas pela instituição com dispensa de licitação que deveriam, pela lei, ser realizadas somente em caráter excepcional — superam as realizadas com concorrências públicas. Entre os fornecedores que receberam pagamentos do órgão nos últimos anos, estão empresas com ligações familiares com funcionários da Secretaria de Saúde ou cujos sócios ocupam cargos na própria fundação.
O PCS Saleme, por exemplo, tem como sócios Walter e Matheus Vieira, respectivamente tio e primo do ex-secretário de Saúde Doutor Luizinho (PP), que chefiou a pasta de janeiro a setembro de 2023 e hoje é deputado federal.
Os advogados Fernanda Pereira e Daniel Bialski, que defendem Allan Turnowski, informaram que seu cliente desconhece completamente a relação contratual entre a empresa Videgel e a Secretaria de Saúde. A defesa do ex-secretário de Polícia Civil disse ainda que o delegado teve apenas um celular e um computador apreendidos em sua residência e que não lhe foi dada cópia e nem leitura da decisão judicial que fundamentou e autorizou a busca e apreensão.
“O que se sabe até o presente momento, foi através do noticiado pela mídia. No mais, a defesa só irá se manifestar após o devido acesso à decisão judicial e aos autos do processo”, diz a nota.
Ex-secretário da Polícia Civil do Rio, Allan Turnowski foi preso em 2022, suspeito de integrar uma organização criminosa e de envolvimento com o jogo do bicho. Na ocasião, agentes apreenderam armas, incluindo um fuzil, na casa do delegado. Ainda naquele ano, Turnowski tentou se eleger deputado federal pelo PL, mas não obteve sucesso. O delegado deixou a prisão dias antes do pleito, graças a uma decisão do ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), e obteve pouco mais de 18 mil votos.
O delegado já havia sido chefe de polícia em 2010 e 2011, durante o governo de Sergio Cabral. Ele deixou a pasta durante uma investigação da Polícia Federal sobre um suposto vazamento da Operação Guilhotina, no qual chegou a ser indiciado por violação de sigilo funcional, acusado de ter vazado informações para um policial que era alvo da ação. O caso foi arquivado por falta de provas. Turnowski sempre negou haver qualquer irregularidade no caso.
Antes de assumir como secretário após convite de Castro, em setembro de 2020, o delegado já havia sido convidado anteriormente por Wilson Witzel, na época governador, para assumir o cargo, mas não aceitou. O delegado chefiava o Departamento Geral de Polícia da Capital (DGPC), responsável por todas as delegacias da cidade do Rio.