Jornal Povo

MP DENUNCIA DEPUTADO E PASTOR DANIEL CASTRO DO PARTIDO PROGRESSISTA QUE ACUSOU ESCOLA DE ‘RITUAL DE MAGIA’ EM AULA DE CULTURA AFRICANA

Deputado estadual Daniel Castro — Foto: Reprodução

JUSTIÇA PEDE QUE DEPUTADO FAÇA RETRATAÇÃO PÚBLICA, PARTICIPE DE UM CURSO DE LETRAMENTO RACIAL ALÉM DE PAGAR INDENIZAÇÃO

Foi protocolado uma ação civil pública pelo Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios (MPDFT) contra o deputado distrital Pastor Daniel Castro (PP) por expor uma professora gravada durante uma aula sobre cultura africana. Em uma gravação compartilhada nas redes sociais, em outubro, o parlamentar disse que ela fazia “rituais de magia em sala de aula”.

O vídeo de Daniel Castro foi publicado no dia 23 de outubro, e a gravação chegou ao conhecimento da escola Centro Educacional do Lago (CEL), frequentada por estudantes a partir dos 15 anos, dois dias depois. O processo foi instaurado no dia 18 de novembro.

Recebi várias denúncias no meu gabinete de uma professora do CEL que professa uma religião de matriz africana, levando para a sala de aula o nome de entidades, fazendo as crianças citar nome de seus deuses — diz o deputado na gravação, na qual afirma também ter levado ao caso ao Ministério Público. — Isso é um crime (…) Os pais estão assustados. As crianças estão chegando em casa desesperadas, chorando, porque a professora faz rituais de magia dentro de uma sala de aula.

No vídeo, os alunos aparecem, em trechos breves e intercalados com a fala do parlamentar, sentados com folhas espalhadas ao redor da sala. Nomes de músicas podem ser vistos escritas no quadro.

Na Justiça, o MPDFT pede que o deputado se retrate publicamente pelo episódio, além de participar de um curso de letramento racial dentro de seis meses. Ele também deve pagar uma indenização de R$100 mil. O montante seria revertido ao Fundo de Direitos da Criança e do Adolescente do DF e a “alguma instituição ou programa que verse sobre Políticas Públicas para a promoção da igualdade racial”.

Em nota, a escola esclarece os fatos e acusa o deputado de racismo e intolerância religiosa: “Na última semana, um deputado distrital publicou gravação sem autorização de atividades do Centro Educacional do Lago e teceu uma série de ataques, acusações caluniosas, racistas e de intolerância religiosa contra servidores públicos no exercício de suas atribuições. Tal afirmação não é apenas inverídica – uma vez que que ‘rituais de magia’, conforme dito pelo deputado, não acontecem nessa escola –, mas também expressa um preconceito contra as religiões de matriz afro-brasileira”.

Segundo a denúncia do MPDFT contra o deputado, a gravação foi feita por uma aluna durante uma atividade da disciplina eletiva de Cultura e História Afro-brasileira. No dia 9 de outubro, os pais haviam comparecido à escola para reclamar com a direção que os estudantes estariam sendo obrigados a realizar rituais em sala. A professora foi orientada a conversar com a aluna, mas ela começou a faltar às aulas.

A jovem só voltou a frequentar a disciplina no dia 22 daquele mês, quando a gravação foi feita, em um momento no qual os estudantes foram autorizados pela professora a usarem o celular. Os alunos realizavam um trabalho em grupo que seria apresentado em novembro, mês da Consciência Negra.

Na aula gravada, os estudantes aprendiam sobre músicas ligadas a religiões de matriz africana. As folhas no chão faziam referência aos elementos da natureza, segundo a escola.

Para o MPDFT, o deputado violou o direito à não discriminação religiosa. “Conclui-se que o requerido Daniel de Castro Sousa, agente político de significativa visibilidade, ao publicar vídeo em sua rede social, disseminou e reforçou o falso estereótipo de que as religiões de matrizes africanas estão associadas a algo ‘ruim’, ‘mal’ e ‘perigoso’, manifestação esta que, baseada em falsas e graves acusações, incita o preconceito e a discriminação contra referidas religiões, estigmatizando-as ilicitamente”, diz a ação do MPDFT.

Em nota, o deputado afirmou não ter tomado conhecimento do processo e disse que está protegido pela imunidade parlamentar. “Reitero que, em todas as minhas manifestações, sempre defendi a laicidade do Estado, princípio fundamental da nossa Constituição. Acredito firmemente que a escola não é lugar para a prática de qualquer religião”, sustentou.