HOSPITAIS FEDERAIS TERÃO AS EMERGÊNCIAS REABERTAS
O Ministério da Saúde descentralizou a gestão dos hospitais federais do Andaraí, na Zona Norte do Rio, e Cardoso Fontes, na Zona Oeste. Prefeitura do Rio assume administração, que receberá ainda este mês um repasse de R$150 milhões da União para investimento imediato. A promessa é que, com essa verba, as emergências dos dois hospitais reabram até o fim de janeiro, após anos fechadas.
Herança dos tempos em que foi capital do Brasil, o Rio tem a maior rede federal de saúde do país. Mas, nas últimas décadas, as unidades passam por uma crise com o fechamento de leitos e problemas de infraestrutura, devido à queda de investimentos.
A prefeitura já mapeou as principais demandas das duas unidades e tem planos para dobrar o número de atendimentos por ano em ambas. Um dos principais focos será recuperar a infraestrutura dos hospitais, para em até três anos conseguir a certificação de funcionamento do Corpo de Bombeiros — um dos problemas históricos de instalações de saúde do Rio.
No Hospital do Andaraí, apenas 169 leitos estão aptos hoje para receber pacientes, e o município quer ampliar a capacidade para 450 até janeiro de 2026. Uma das metas do novo gestor é concluir obras inacabadas. Uma delas é a do décimo andar do hospital, onde funcionava a maternidade Doutora Mercedes Regent. Imagens mostram que o local, que começou a ser reformado para virar uma enfermaria do setor de oncologia, está abandonado: as paredes estão quebradas, com canos e fiação expostos e o chão ainda no contrapiso.
ABUNDÂNCIA DE LEITOS FECHADOS
Um dos maiores gargalos na rede de alta e média complexidades do Rio é no atendimento de pacientes oncológicos. O planejamento da prefeitura é que o Hospital do Andaraí retome o protagonismo nessa especialidade com a criação de um setor de cirurgias minimamente invasivas. Está prevista ainda a inauguração do setor de radioterapia, reformado no ano passado pelo Ministério da Saúde, mas está fechado por falta de recursos humanos.
Em Jacarepaguá, o Hospital Cardoso Fontes é outro que sofre com a abundância de leitos fechados, a maioria por falta de profissionais. A unidade tem hoje apenas 111 vagas de internação, apesar das várias enfermarias trancadas com macas à espera de pacientes. Em outras, serão necessárias obras de adequação: por ser um prédio antigo, algumas alas sequer têm banheiro e local para lavar as mãos.
A recuperação do parque tecnológico também é um desafio: apenas um dos dois tomógrafos da unidade está funcionando. A especialista em saúde pública e sanitarista Lígia Bahia, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), diz que a transferência da gestão para o município pode ajudar na recuperação da rede federal:
— Mas uma das perguntas que ficam é qual será o perfil assistencial dessas unidades? Vai mudar e se tornarão generalistas? — questiona ela.
O secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, afirmou que nenhuma especialidade dos hospitais deixará de existir e que haverá a contratação de mais funcionários para reforçar o atendimento. Os profissionais temporários serão recontratados por, no mínimo, três meses pelo município, e os servidores de carreira do Ministério da Saúde podem optar por continuar na unidade ou ser transferidos.
A municipalização dos hospitais não é um remédio novo: há mais de 20 anos parte da rede foi entregue pela União à prefeitura, mas a falta de repasses culminou numa crise gravíssima e, em 2005, Lula, que era presidente da República na época, baixou um decreto de intervenção federal na assistência médica pública da cidade.