KAMILA VITORIA APARECIDA DE SOUSA SILVA BRINCAVA NUMA QUADRA QUANDO FOI ATINGIDA
Por volta das 21h desta quinta-feira, uma menina de 12 anos morreu ao ser atingida por um tiro durante um confronto entre bandidos rivais na Favela da Guarda, em Del Castilho, na Zona Norte do Rio. Kamila Vitoria Aparecida de Sousa Silva brincava de queimado, na quadra, com outras crianças quando foram feitos os disparos.
— Ela gritou: pai! Pai! Eu não consegui correr. Falei pra ela: fica aí, fica abaixada. Ela sentou na quadra e depois deitou.
A menina foi socorrida pelo pai e vizinhos que a levaram de carro até o Salgado Filho. No caminho até o hospital, o pai disse que filha gemia muito e que durante o trajeto tentou ao máximo mantê-la acordada.
— A gente dizia pra ela: não dorme não! Não dorme!
O promotor de vendas Sandro Alves contou que a filha mais velha era uma excelente e esforçada aluna.
— Era uma boa garota, uma menina nota 10. Quando ela tirava alguma nota baixa na escola, ela chegava lá em casa e dizia: Pai, eu vou recuperar! Ela ia para escola pela manhã e à tarde para explicadora. A noite ficava estudando e quando tinha prova, realmente, ela tirava uma nota 10.
Kamila estava muito feliz porque recentemente tinha sido chamada para entrar num grupo jovem da igreja local para participar de um campeonato de vôlei. Apesar de estar empolgada com o convite, a menina disse para o pai que temia participar do torneio porque não sabia jogar. Mesmo assim, foi incentivada pelo pai a participar do campeonato.
— Ela me pediu de presente de Natal uma joelheira para jogar vôlei. Mas não deu tempo de eu comprar. Minha filha era cheia de sonhos que foram interrompidos pela violência — lamentou Sandro.
Na última quarta-feira, Kamila, a mãe e a irmã de apenas 5 meses foram ao shopping Nova América, para comprar uma caixa de bombom para o amigo secreto da escola. Ela ainda foi socorrida para o Hospital municipal Salgado Filho, mas não resistiu. O corpo foi levado para o Instituto Médico-Legal (IML).
A Polícia Militar informou que policiais do 3º BPM (Méier) foram acionados para a comunidade da Guarda após tiros serem disparados no local. Os agentes receberam informações de que os tiros foram resultados de uma disputa entre bandidos rivais — traficantes do Comando Vermelho (CV) teriam invadido a favela, que seria dominada por uma milícia.
A PM afirmou que, no momento da chegada das equipes, já não havia a presença de criminosos na Guarda. O policiamento permanece reforçado na região, segundo a corporação.
A morte da menina é investigada pela Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). Parentes de Kamila já foram ouvidos na especializada. Agentes estão também em busca de mais informações para identificar a origem do disparo que atingiu a criança e esclarecer as circunstâncias do crime.
Se confirmada a versão inicial de que a invasão à Favela da Guarda foi feita pelo CV, Kamila é mais uma vítima da guerra expansionista da facção criminosa. Guerra essa que tem provocado tiroteios constantes em Rio das Pedras, na Zona Oeste da capital, e no Morro dos Macacos e na Favela Cinco Bocas, em Brás de Pina, na Zona Norte.
No último dia 3, a Polícia Civil realizou uma operação no Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio, para capturar chefes do tráfico ligados ao CV responsáveis, segundo investigações, por ordenar e coordenar invasões em territórios de facções criminosas rivais: Edgar Alves de Andrade, o Doca ou Urso, e Juan Breno Malta Ramos Rodrigues, o BMW.
34 VÍTIMAS EM 2024
De acordo com um levantamento do Instituto Fogo Cruzado, em 2024 34 adolescentes baleados na Região Metropolitana do Rio. Dezesseis deles morreram e 18 ficaram feridos.
