
ALÉM DE NATALINO, OUTROS CINCO ALVOS JÁ ESTÃO PRESOS
Na manhã desta terça-feira, a Promotoria de Búzios e a Coordenadoria de Segurança e Inteligência do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) prenderam, o ex-policial civil Natalino Guimarães, em Campo Grande, na Zona Oeste do Rio, por organização criminosa.
A 1ª Vara Especializada em Organização Criminosa da Capital expediu mandado de prisão preventiva contra ele, que é acusado de invasão de terras, crimes ambientais e loteamento irregular em Búzios, na Região dos Lagos. Ele foi levado para a Cidade da Polícia. Além de Natalino, outros cinco alvos já estão presos. Doze pessoas foram denunciadas na Operação Nova Grilagem.
Ao chegar à Cidade da Polícia, Natalino disse que é inocente das acusações,
— Sou inocente de tudo. Esses fatos não são verdadeiros. Eu quero viver a minha vida ao lado da minha família. Eu não tenho nada a ver com isso. Vou procurar a justiça. Espero que a justiça faça a justiça que não fizeram comigo no passado. Nego completamente. Não tem empresa nenhuma em Campo Grande — afirmou ele, que foi transferido para a Polinter.
Ao todo, a operação da Polícia Civil e do MP visa a cumprir sete mandados de prisão preventiva e 12 de busca e apreensão contra integrantes da organização criminosa responsável pela prática de grilagem.
Os mandados expedidos pelo Juízo da Vara Especializada em Organização Criminosa da Capital estão sendo cumpridos em diversos endereços nos municípios de Búzios, Cabo Frio e Rio das Ostras, além da capital.
Desde junho de 2022, o Ministério Público de Armação dos Búzios e a 127° Delegacia de Polícia receberam uma série de notícias-crime sobre invasões de terras por grupos armados em diversos terrenos, na região da Estrada da Fazendinha, em Búzios.

DE ACORDO COM DENÚNCIA DO MP GRUPO AINDA ESTARIA EM ATIVIDADE
O grupo estaria em atividade desde 2020 e usaria práticas violentas e fraudulentas para ocupar e comercializar terrenos. Esmeraldo da Conceição e Silvan Escapini, supostos grileiros, estariam invadindo, com seguranças armados, terrenos na região da Estrada da Fazendinha. Eram desmatadas áreas protegidas e eram feitas queimadas. Os terrenos eram vendidos por duas imobiliárias: a Great Empire Administradora de Bens Ltda e a ÔmegaVille, localizada em Campo Grande.
A denúncia do MP destaca que o grupo criminoso se aliou a ÔmegaVille para promover o loteamento da área invadida e venda dos terrenos. Além disso, deu lotes a figuras conhecidas por envolvimento com a milícia em troca da prestação de serviço de segurança das invasões promovidas.
FUNDADOR DE MILÍCIA
Natalino, de 68 anos, é ex-deputado estadual e irmão do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho. Os dois irmãos são apontados como fundadores da milícia Liga da Justiça. O grupo criminoso — que mais tarde passou a ser chamado de Bonde do Zinho, após Luís Antônio da Silva Braga, hoje preso, assumir seu controle — age na Zona Oeste do Rio.

QUEIMA DE ARQUIVO
Jerominho foi morto em agosto de 2022, segundo o Ministério Público por ter traçado um plano para reassumir a milícia que ajudou a fundar. No enterro do irmão, Natalino afirmou que morreria no lugar dele:
— Ele era um irmão muito querido. Ficou dez anos preso injustamente. Quando eu fui baleado, ele me carregou no colo. Se eu estivesse lá, na hora da execução, morreria por ele.
A Liga da Justiça foi criada em meados dos anos 1990 e tinha um morcego como símbolo. Ele era pichado nas ruas para demonstrar que a região era controlada pelos paramilitares. No início, a milícia atuava com foco na exploração do transporte clandestino e tinha ex-policiais militares como seus principais integrantes — Ricardo Teixeira Cruz, o Batman, preso em 2009; Toni Ângelo de Souza Aguiar, preso em 2013; e Marcos José Lima, o Gão, preso em 2014.
OUTRA AÇÃO EM 2023
Em junho do ano passado, o MPRJ realizou uma operação contra um grupo armado que expulsou moradores de terrenos em Búzios. Os criminosos então colocaram as propriedades à venda com a ajuda de uma empresa localizada em Campo Grande, na Zona Oeste da capital, que negocia imóveis da milícia que age no bairro.
Foram apreendidos, na ocasião, uma espingarda calibre 12; munição calibre 12; duas motosserras sem licença, usadas para a prática de danos ambientais; documentação tratando de negociações imobiliárias, achadas nas residências dos alvos; e quatro telefones celulares.
Segundo as investigações, a quadrilha começou a agir em Búzios em 2021. Até 2023 eles haviam expulsado moradores de pelo menos oito terrenos na Baía Formosa. Documentos encontrados na ação desta quarta indicam que as áreas eram vendidas por preços diferentes: os contratos variam de R$30 mil, de R$50 mil e de R$60 mil. Os valores eram parcelados.