Jornal Povo

PM ESTUDA INSTALAR BARRICADAS DE CONCRETO EM MAIS QUATRO COMUNIDADES ALÉM DA MARÉ PARA COMBATER ROUBOS DE CARGA NO RIO

‘Limitadores de velocidade’ já foram colocados em quatro ruas na Maré — Foto: Reprodução/Fabiano Rocha

AÇÃO É CONSIDERADA EFETIVA PELAS FORÇAS DE SEGURANÇA NO RIO 

No final de setembro, a Polícia Militar instalou blocos de concreto em quatro ruas do Complexo de Favelas da Maré, na Zona Norte, como parte da estratégia para combater os roubos de carga na região metropolitana. Chamados de “limitadores de velocidade” pela corporação, a medida foi tomada como forma de dificultar a entrada de caminhões de grande porte, como contêineres e caminhões cegonha, na região. Considerada “efetiva” pelas forças de segurança, a Polícia Militar estuda replicar o modelo em outras quatro comunidades.

Em ofício enviado à Secretaria da Polícia Militar, no final de novembro, o comandante do 22º BPM destacou a eficácia dos “redutores” e sugeriu a ampliação da iniciativa para outras localidades. Dados do Instituto de Segurança Pública (ISP) apontam que, na área do 22º BPM, que abrange o Complexo da Maré, foram registrados 39 casos em setembro. Após a instalação dos blocos, o número caiu para 22 em outubro, representando uma redução de 43,5%.

Para o secretário de Segurança Pública do Rio, Victor Cesar Carvalho dos Santos, a medida foi efetiva, mas enfrenta limitações para ser replicada.

A ação foi efetiva porque as grandes carretas, articuladas, não tinham mais espaço para entrar, o que facilitou nossas abordagens. Mas isso só foi possível porque as ruas da Maré são largas. Não é em qualquer lugar que podemos aplicar essa medida, pois ela pode prejudicar a entrada de veículos menores, o que não é o objetivo — explicou o secretário.

Apesar de ter considerado a medida positiva, o secretário disse que percebeu uma migração das cargas roubadas para outra comunidade:

Obviamente que aconteceu uma migração. A gente percebeu que as cargas passaram a ir com mais frequência para Manguinhos, por exemplo. Fizemos muitas abordagens naquela região desde então.

Na época da implementação, a ONG Redes da Maré criticou os bloqueios, afirmando que eles afetam “a livre circulação de veículos para abastecimento do comércio local, entregas para a população, bem como a atividade de construção civil e a mobilidade dos moradores”.

ROUBO NA LINHA AMARELA E AVENIDA BRASIL

No ofício enviado pelo comandante do 22º BPM, o policial elogiou a redução dos casos de roubo de carga na área onde os “redutores de velocidade” foram instalados, mas alertou sobre o aumento de roubos de carga em todo o estado.

Em outubro, o Rio registrou 378 casos, um salto de 87% em comparação com os 202 do mesmo período do ano passado. Em setembro, o aumento foi de 92%, passando de 177 para 340 ocorrências. Apesar do crescimento nos últimos dois meses, o acumulado do ano apresenta uma redução: de janeiro a outubro, foram registrados 2.518 roubos de carga em 2024, contra 2.759 em 2023.

Segundo o Tenente-Coronel Marcelo de Castro Corbage, os roubos ocorrem principalmente na Linha Amarela e na Avenida Brasil. Dados de inteligência da PM indicam que as mercadorias roubadas estão sendo levadas para comunidades dominadas pelo Terceiro Comando Puro (TCP), como Baixa do Sapateiro, Timbau, Vila do João e Vila do Pinheiro.

Para enfrentar o problema, o comandante sugeriu a instalação de plataformas de concreto em quatro pontos estratégicos que dão acesso às comunidades:

  • Linha Vermelha, próximo à subida da Linha Amarela (“Pontilhão”);
  • Praia de Inhaúma com Linha Amarela (“Fogo Cruzado”);
  • Linha Amarela com Rua Canal;
  • Linha Amarela, entrada da UPA da Vila dos Pinheiros

O gerente de Infraestrutura da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) aponta que a presença da polícia nas entradas das comunidades é fundamental para coibir as ocorrências, mas que é preciso ir além nas investigações.

A questão da ostensividade é fundamental, mas não é só a presença policial que resolverá o problema. A gente só deslocará as manchas criminais. Enquanto a raiz do crime, a cadeia de receptação, não for desmantelada, a gente não vai conseguir superar esse quadro — pontua Isaque Ouverney.

Procurada, a PM pontua que os “dispositivos foram instalados respeitando o direito de ir e vir da população, além da preservação de vidas de moradores que podem vir a ser atingidos por veículos em alta velocidade, conduzidos por criminosos em fuga”.

Em nota, a corporação reforça que essas estruturas “fazem parte de uma estratégia de segurança pública voltada para garantir a passagens de veículos de emergência, de saúde e de concessionárias de serviços públicos”, assim como “de caminhões de eixo simples e de até dois eixos traseiros que operam em empresas cedidas na comunidade e abastecem os empreendimentos da região”.