Jornal Povo

OPERAÇÃO NA ROCINHA: AÇÃO DAS FORÇAS ESPECIAIS DA PM E MINISTÉRIO PÚBLICO PROCURA PRENDER BANDIDOS DE OUTROS ESTADOS

Um blindado da num dos acessos à Rocinha — Foto: Reprodução/Gabriel de Paiva/Agência O Globo

INFORMAÇÕES DE QUE HÁ UM MORTO E DOIS FERIDOS NA COMUNIDADE

Na manhã desta terça-feira, as forças especiais da Polícia Militar realizam uma operação na Favela da Rocinha, localizada na Zona Sul do Rio de Janeiro, em parceria com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ). A ação mobiliza mais de 400 policiais militares, visando cumprir 34 mandados de prisão e nove de busca e apreensão.

Os alvos da operação são criminosos oriundos dos estados do Ceará e de Goiás, associados à facção Comando Vermelho, que utilizam a Rocinha como esconderijo. Logo na chegada das tropas, houve um intenso tiroteio. Até o momento, foi registrada uma pessoa morta e duas feridas.

De acordo com informações de policiais, o homem morto no confronto com os PMs é Vitor dos Santos Lima, conhecido como Playboy. Ele é apontado por agentes como segurança do John Wallace da Silva Viana, o Johny Bravo, chefe do tráfico na região.

Durante a operação, um morador foi atingido por bala perdida na Rocinha. Cristiano Souza Oliveira, de 36 anos, foi ferido por disparo no braço direito e na altura das costelas quando estava na localidade Dionéia. Ele foi atendido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da comunidade e já recebeu alta.

Forças especiais da PM entram em confronto com traficantes em operação na Rocinha

Participam da ação equipes do Batalhão de Operações Especiais (Bope), do Batalhão de Polícia de Choque (BPChoq), do Grupamento Especial de Salvamento e Ações de Resgate (Gesar), do Batalhão de Ações com Cães (BAC), do Batalhão Tático de Motociclistas e do Grupamento Aeromóvel (GAM).

A ação é coordenada pelo Comando de Operações Especiais (COE), do Grupo de Atuação Especializada no Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ) e Coordenadoria de Segurança e Inteligência (CSI/MPRJ). Os Grupamentos de Ações Táticas de 11 batalhões também estão no terreno. Foram apreendidos 40 tabletes de cocaína, dois revólveres e 50 munição. Equipes do BOPE também encontraram uma estufa utilizada para produção de maconha na parte alta da comunidade.

Cápsulas deflagradas no chão da comunidade — Foto: Reprodução/Bruno Itan

ROTINA AFETADA

A operação policial na Rocinha afetou a rotina de moradores e do comércio local. Uma mulher, que preferiu não se identificar, contou que há anos não se falava em operação policial na Rocinha. Segundo ela, os moradores estavam “desacostumados” com o barulho de tiro e tensão que marcaram a manhã desta terça:

Nossa, preciso forçar a memória para lembrar quando foi a última operação por aqui. Tem muito anos, se bobear foi na época que mudou de facção. Estávamos desacostumados com essa coisa de tiros, fogos. A Rocinha é muito tranquila, as pessoas gostam de morar aqui. Não temos problema com nada — disse.

A moradora também pontuou que, por volta das 7h, parte da comunidade já havia voltado ao “normal”.

— Soubemos bem cedo que estava tendo operação. Vimos pelas redes sociais e também pelo grupo da associação de moradores. Mas lá para as 7h já estava tudo bem, pelo menos na parte mais baixa, onde o comércio é mais concentrado.

Outra moradora, que trabalha como atendente numa loja na Rua General Olímpio Mourão Filho, compartilhou a mesma impressão sobre a operação na Rocinha. Natural do Ceará, ela conta que pelo menos desde 2020 não ouvia barulho de tiros ou se alarmava em sair de casa:

— Eu soube da operação porque recebi aviso do transporte escolar. Eles explicaram que não iriam buscar as crianças e que era para evitarmos sair de casa porque estava perigoso. Depois, eu deixei meus filhos com a avó e vim trabalhar. A gente fica apreensivo, claro, mas precisa seguir a vida.

Nas ruas, a circulação de moradores se manteve pela Estrada da Gávea, com filas em pontos de ônibus e preferência pelo metrô São Conrado. Carros e caminhões que deixavam essa estrada eram parados por policiais militares, concentrados em frente à Igreja Universal.

Devido à operação, nove unidades escolares — oito da rede municipal e uma estadual — suspenderam as aulas. O restaurante Mirante da Rocinha decidiu suspender o funcionamento pela manhã alegando que a situação amanheceu “delicada” na comunidade: “Aconselhamos que não venham por enquanto”.

Na região da Dionéia, o fotógrafo Bruno Itan registrou uma cena de guerra: dezenas de cápsulas deflagradas espalhadas pelo chão se misturavam ao sangue em uma das ruas da comunidade.

QUEM É PLAYBOY?

O homem morto na operação de hoje é Vitor dos Santos Lima, conhecido como Playboy. Ele foi identificado pela polícia como um dos integrantes de um grupo que torturou dois adolescentes em 2017, na Rocinha. Os jovens foram abordados pelo grupo, que Playboy também participava, em um dos becos da comunidade, enquanto se dirigiam a um projeto social próximo à estação de metrô de São Conrado.

Segundo relatos feitos à polícia, os adolescentes foram agredidos com pedaços de madeira antes de serem amarrados e levados para uma casa na comunidade. No local, os criminosos jogaram álcool sobre as vítimas e ameaçaram incendiá-las. A ação, no entanto, foi interrompida por agentes das Forças Armadas, que, na época, reforçavam a segurança na região.

Os adolescentes, que não tinham nenhuma relação com o tráfico de drogas, teriam sido confundidos com membros de uma facção rival.

Em 2021, Playboy foi preso pela polícia após informações repassadas pelo Disque Denúncia. Ele foi encontrado enquanto estava em um encontro amoroso na Via Ápia. Na época, ele já tinha cinco anotações criminais, incluindo por tráfico de drogas, associação para tráfico e tortura.

Segundo a Secretaria de Estado de Administração Penitenciária (SEAP), a prisão do Playboy foi revogada após decisão judicial. Ele foi posto em liberdade no dia 26 de junho de 2022.