Jornal Povo

MEGAOPERAÇÃO NA ROCINHA: TRAFICANTES DO CEARÁ FORMARAM UMA ‘COMUNIDADE’ EXCLUSIVA NA PARTE MAIS ALTA DA FAVELA NO RIO

Casa do Doze, um dos traficantes cearenses que estão na Rocinha — Foto: Reprodução

LOCAL SERIA NO FINAL DA VIA DIONÉIA COM PRÉDIOS E RESIDÊNCIAS PARTICULARES

A Polícia Militar em parceria com o Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), nesta terça-feira (17), realizou uma operação na Rocinha, na Zona Sul do Rio, com 34 criminosos do estado do Ceará e dois de Goiás, associados à facção do Comando Vermelho (CV), como alvos.

Segundo o diretor do Departamento de Polícia Judiciária do Interior Norte (DPJI-Norte), Marcus Aurélio, os criminosos montaram uma comunidade de traficantes cearenses no final da rua Dionéia, na parte mais alta da favela — o local teria prédios e residências exclusivas. 

Nove casas foram alvos de busca e apreensão, mas, na operação de ontem, os policiais só encontraram as mulheres e os filhos dos traficantes cearenses — os suspeitos teriam conseguido fugir pela mata da favela. Nenhum dos presos na operação estavam entre os alvos do Ceará.

Ao decorrer da investigação vimos que todos os 34 traficantes que fugiram do Ceará estão centralizados em um mesmo local na Rocinha. E são casas com conforto de piscina, banheiras e luxo, mostram um poder aquisitivo bem acima da média. Através do nosso levantamento, vimos que estão todos centralizados morando escondidos em um espaço de 200 metros no final da rua Dionéia na Rocinha — explica Marcus Aurélio.

Segundo o diretor da polícia do interior, ainda não há evidências de qual acordo é feito entre os traficantes do Ceará e do Rio para a moradia deles na Rocinha.

Conhecendo o modus operandi do CV, acreditamos que existe algum tipo de prestação de contas. Os do Rio não iam permitir a chegada e a permanência de um grupo tão grande sem uma prestação, mas na investigação ainda não identificamos esse arrendamento.

O diretor do DPJI-Norte informou que há cerca de um ano a polícia do interior do Ceará começou a perceber crimes que antes não aconteciam naquelas regiões, como os de homicídio, extorsão a moradores e ameaças a políticos. Investigando caso a caso, eles perceberam que todos tinham algo em comum: os suspeitos fugiam para o Rio de Janeiro.

Quando a gente pedia a prisão dos suspeitos víamos que tinham fugido para o Rio. Assim começamos a identificar que as lideranças do Ceará estavam fazendo isso. Suspeitamos de um apoio do CV do Rio e começamos a investigação, até chegar a conclusão de que não eram casos isolados e sim um apoio do CV carioca porque tinha uma sequência, uma leva de bandidos da região do norte do Ceará que estavam escondidos no Rio. E não apenas no Rio e na Rocinha, estão no mesmo lugar juntos em um mesmo quarteirão formando uma comunidade de bandidos cearenses que vivem no Rio.

Assim como no Ceará, o líder ou “01” deles na comunidade da Rocinha é o ZN que é natural da cidade do Canindé no interior do estado de origem. A diferença é que na favela carioca o vulgo dele mudou, ficou conhecido como Cigano ou Bin Laden. Abaixo dele, a liderança é feita pelo Doze, como era conhecido no Ceará, ou Fiel, como ficou conhecido no Rio — ele, que é da cidade de Santa Quitéria, é o responsável por comandar o tráfico de drogas de 40 municípios do interior do Ceará e agora também outras atividades ilegais.

O que temos percebido é que eles estão extrapolando o tráfico de drogas no Ceará e indo além, ainda mais no interior isso não era comum. Lá os traficantes só traficavam drogas mesmo, agora eles estão migrando para outros crimes como extorsão, homicídios e ameaças até a políticos. Acreditamos que isso está acontecendo pelo conhecimento adquirido no tráfico de drogas do Rio de Janeiro, levando essas outras práticas criminosas para obter lucro por lá.

Marcus Aurélio contou ainda que, nas últimas eleições, os traficantes chegaram a intervir no consenso eleitoral.

Nossas investigações mostram que o Doze até bancou campanha de candidatos. Ele mandou até um traficante do Rio para lá para tumultuar, ameaçar quem não queria apoiar o candidato dele e não deixava nem colocarem adesivos de um candidato a prefeito, por exemplo. Esse tipo de coisa agora passou a ser comum lá no interior e antes isso não acontecia.

Desde setembro deste ano, a polícia do Ceará concluiu a ligação do tráfico de drogas entre os dois estados e em seguida procurou o Ministério Público do Rio de Janeiro para a ação em conjunto. Em outubro começaram a estudar a região e continuam fazendo análises geográficas da comunidade na Dionéia.