MERCEDES LOPEZ SOSA FOI CONDENADA A 47 ANOS DE PRISÃO
Nesta segunda-feira, a Polícia Federal prendeu a paraguaia Mercedes Lopez Sosa, condenada por tráfico de pessoas, redução à condição análoga à escravidão e estupro contra menor. Depois de prometer emprego e estudo para adolescentes conterrâneas, a mulher trazia as jovens de seu país para trabalhar numa creche, que funcionava em sua casa, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense.
As adolescentes trabalhavam 11 horas diárias, não recebiam remuneração e, ao fim do dia, ainda eram estupradas, conforme detalhado por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Além de Mercedes, que segundo o documento também participava dos abusos, seu marido, o carioca Rodrigo Moreira de Araújo, também foi alvo de mandado de prisão, após ambos serem condenados a 47 anos, 1 meses e 23 dias, cada. Os mandados foram expedidos no início de dezembro, após um recurso ter sido analisado pelo STJ e transitado em julgado.
A decisão ressalta que “todo estupro é repugnante, mas, no caso em exame, as adolescentes foram submetidas a intenso sofrimento enquanto estavam em poder do casal”. Além dos “trabalhos extenuantes”, o que incluía cuidados com mais de 15 alunos da creche, por quase metade do dia e sem a remuneração prometida. O almoço, por exemplo, tinha que ser feito depressa, além de proibições de sair à noite ou aos fins de semana, o que configurava a privação de liberdade.
VÍTIMAS ERAM AMEAÇADAS E SUBMETIDAS A INTENSO SOFRIMENTO
Os contatos com parentes eram monitorados e o silêncio das adolescentes era estimulado com ameaças, com Mercedes e Rodrigo usando o argumento de que as jovens viviam clandestinamente no Brasil. Se contassem do que eram vítimas, as meninas seriam levadas à polícia e presas, conforme eram ameaçadas, destaca a decisão do STJ.
Uma das jovens chegou a engravidar de um dos estupros, precisou interromper a gestação com remédios e sangrou por cinco dias. A primeira vítima esteve sob o poder do casal entre outubro de 2015 e o fim de 2016.
Esta jovem, que era vizinha da mãe de Mercedes no Paraguai, contou à polícia que decidiu fugir depois de saber que o casal queria levá-la a um prostíbulo que mantinha no Rio. A jovem recebeu abrigo de clientes da creche, responsáveis por levá-la à delegacia e ao Consulado paraguaio.
A segunda vítima, que ficou na residência do casal entre março e junho de 2017, foi estuprada por três pessoas, mediante pagamento a Mercedes, menciona o texto. Um dos homens abusou uma vez da adolescente, enquanto, outro, duas. O terceiro, segundo a decisão do STJ, é Rodrigo — que estava preso quando a vítima chegou ao Brasil, por violência doméstica contra Mercedes — e que, ainda assim, violentou a jovem “diversas vezes”.
Neste segundo caso, a vítima foi colocada para fora de casa após não ceder a uma investida de Rodrigo, sendo abrigada por uma vizinha.
“Como se vê, há convergência e harmonia no relato das duas adolescentes de que trabalhavam do alvorecer até o anoitecer, quase 12 horas diárias na ‘creche da Tia M’ (Mercedes) mantida na residência do casal, sem descanso ou remuneração, com seus documentos retidos e sempre vigiadas, seguindo-se estupros ao final do dia”, destaca a decisão.
“Não há como cogitar que as vítimas teriam combinado de dar uma mesma versão para incriminar os apelantes, eis que nunca se viram, nem conversaram, ao passo que foram molestadas em períodos distados de quase 6 (seis) meses.”
Mercedes; Rodrigo; o irmão de Rodrigo, Denyel Camilo de Araújo; e um vizinho do casal, Eder da Silva Carvalho, foram presos temporariamente em 2017. Na ocasião, a quadrilha foi alvo da operação Coiote, realizada pelas delegacias de Atendimento à Mulher de Belford Roxo (DEAM-Belford Roxo) em conjunto com a da Criança e Adolescente Vítima (DCAV).