
SECRETÁRIO DE TRANSPORTES AFIRMA QUE SERÁ NECESSÁRIO ADIAR IMPLANTAÇÃO
A menos de um mês de o Jaé se tornar o único cartão aceito nos transportes municipais, o futuro das integrações com os modais sob a responsabilidade do governo estadual ainda patina. A prefeitura afirma que, a partir de 1º de fevereiro, os passageiros de ônibus que circulam na cidade, BRTs, vans municipais e VLT só poderão usar o novo sistema de bilhetagem. Mas a equação não foi resolvida até agora: o Jaé não passa em linhas intermunicipais, metrô, trens e barcas, que continuam a operar apenas com o Riocard, que é administrado pelos empresários de ônibus.
E a solução para o problema não está no horizonte. O secretário estadual de Transportes, Washington Reis, disse nesta terça-feira que não tem como integrar o atual sistema com o novo da prefeitura até a data estipulada:
— Terá que adiar esse prazo. Nessa data será impossível começar essa operação. Estamos licitando a bilhetagem do estado, que será 100% integrada.
A mudança da bilhetagem, de acordo a prefeitura, é para aumentar a transparência: saber, por exemplo, o número de passageiros em cada linha e a respectiva arrecadação. No entanto, apesar de a implementação ter começado em julho de 2023, o município tem enfrentado muitos obstáculos.
Um deles é a negociação com o governo estadual para garantir a integração — quando o passageiro paga um valor reduzido para usar dois modais. Sem essa conexão entre os sistemas, fica impossível conceder essa tarifa diferenciada. Se a negociação não avançar e a prefeitura mantiver seu planejamento, usuários que precisam usar um transporte municipal e outro estadual terão que recorrer a dois cartões — o Jaé e o Riocard — e pagar as tarifas cheias.
O que se busca é uma forma de conceder o desconto, mesmo que seja necessário usar dois cartões. Hoje essa tarifa reduzida é concedida para quem tem o Bilhete Único Intermunicipal (BUI), um Riocard cadastrado pelo governo estadual que passa tanto nos transportes municipais quanto nos estaduais. São cerca de 283 mil os passageiros diários que usam esse desconto.
Moradora de Ramos, na Zona Norte do Rio, Alessandra da Silva precisa do cartão para circular de ônibus pela cidade, mas ainda assim tem encontrado dificuldades para usar os validadores do Jaé:
— Em contato com a Jaé, me disseram que alguns cartões estão com problemas e que preciso usar o celular. Mas dependendo de onde estou, é um risco pegar o aparelho. Isso, fora o constrangimento de tentar embarcar e o validador dar erro.

INCERTEZAS DE INTEGRAÇÃO GERA OBSTÁCULOS E ATRIBULAÇÕES PARA EMPRESÁRIOS
O impasse também aflige empresários, que não sabem como pagar o vale-transporte do próximo mês. O presidente do SindilojasRio e do Clube de Diretores Lojistas do Rio, Aldo Gonçalves, diz que a falta de informações dificulta o planejamento das empresas justamente no início do ano fiscal e há o temor de que uma suspensão do BUI impacte no funcionamento do comércio:
— A transição do sistema de bilhetagem eletrônica do Riocard para o Jaé traz uma série de incertezas para os empresários e os trabalhadores do comércio do Rio. Essa mudança ainda carece de esclarecimentos sobre os impactos práticos no pagamento do vale-transporte — diz ele.
Presidente do Sindicato dos Comerciários do Rio, Márcio Ayer compartilha as preocupações e diz que a medida pode afetar contratações e demissões de funcionários:
— Uma parcela enorme dos trabalhadores reside fora do município do Rio e usa trens e ônibus intermunicipais, por exemplo. Se não tem o Bilhete Único Intermunicipal, a passagem aumenta, e o desconto pago pelo empregador também. Quem mora na Região Metropolitana teme não conseguir custear a passagem.
E não é apenas essas integrações que estão ameaçadas. Em meio a impasses, a Secretaria municipal de Transportes do Rio cobrou que o Metrô Rio instale os validadores do Jaé nas catracas das estações. Em um ofício enviado em novembro, o município diz que, se o pedido não for aceito, poderá encerrar a integração entre o modal e as seis linhas de ônibus que substituíram o serviço Metrô na Superfície.
Os usuários dessa integração metrô-ônibus pagam apenas a tarifa do metrô, não sendo cobrado para fazer o trajeto das estações de Botafogo e da Antero de Quental, no Leblon, até a Gávea. Caso termine a integração, o custo aumentará R$4,70.
METRÔ REBATE PREFEITURA
O MetrôRio reage ao posicionamento da prefeitura e afirma que essas tarifas de integração “são 100% custeadas pela concessionária, sem qualquer subsídio do poder público” e que o fim do serviço prejudicaria os passageiros ao impactar a mobilidade urbana.
No documento, a secretária municipal de Transportes, Maína Celidonio, diz que é preciso ter pelo menos três validadores do Jaé em cada estação do metrô até o fim de janeiro: “A inclusão dos validadores da Jaé no metrô era condição fundamental do acordo de integração proposto. Entretanto, passados cerca de três meses da publicação da resolução, o MetrôRio ainda se encontra inadimplente com o regramento”.
Procurada, a prefeitura do Rio informou apenas que “esse tema está em tratativas finais”. Já a Secretaria estadual de Transporte diz que negocia com o município “para garantir que as transações sejam processadas de forma segura e eficiente, após a implementação do Jaé”.