SÉRIE OURO TAMBÉM SERÁ AFETADA PELA FALTA DE DINHEIRO PODENDO DIMINUIR A QUALIDADE DAS FANTASIAS
Enquanto as escolas de samba ainda não receberam a subvenção prometida pelo governo estadual e pela prefeitura para o carnaval deste ano, já há especulações sobre a folia seguinte. O motivo é que o número de agremiações do Grupo Especial — que atualmente é de 12 — poderia aumentar para 15 em 2026, com três escolas da Série Ouro (segunda divisão do carnaval) subindo ao fim da apuração deste ano, e não uma, como o que prevê o regulamento atual.
Pela primeira vez, a elite do carnaval se apresentará em três noites (domingo, segunda-feira e terça-feira). A chegada de três agremiações faria que o número de escolas por noite passasse de quatro, como está previsto para este ano, para cinco. O martelo sobre o assunto não está batido, tampouco se esse acesso levaria em conta apenas a classificação, ou se escolas tradicionais seriam convidadas a subir da Série Ouro para o Grupo Especial. No entanto, para que o número chegasse a 15 escolas, a última colocada não poderia ser rebaixada.
Hugo Júnior, presidente da LigaRJ, entidade que organiza a Série Ouro, admite que “há diálogo” com a Liga Independente das Escolas de Samba (Liesa) sobre esse aumento, mas ainda sem nada definido ou formalizado. Já o prefeito Eduardo Paes (PSD) disse desconhecer conversa para maior número de agremiações. A Liesa, por sua vez, afirma que “segue focada na preparação para o carnaval 2025” e descarta tratativas sobre o regulamento de 2026 neste momento.
PREVISÃO DE REPASSES NOS PRÓXIMOS DIAS
Enquanto não se concretiza essa possível mudança na configuração dos desfiles, as escolas de samba já veem seus componentes lotando os ensaios de rua, ou decorando os sambas enredo, focados neste carnaval, que acontecerá no início de março. A questão é que, dentro dos barracões, as cifras milionárias que foram prometidas pelo poder público ainda não chegaram.
O governador Cláudio Castro, por exemplo, anunciou em dezembro que liberaria um investimento recorde nos desfiles da Sapucaí, destinando R$30 milhões às escolas do Grupo Especial (R$2,5 milhões para cada uma), além de R$10 milhões à iluminação do Sambódromo.
A movimentação do estado agradou às escolas, apesar da área ter forte ligação com Eduardo Paes, que venceu a última eleição em meio a um embate com o governador, e que dá o ar da graça entre os desfilantes com seu chapéu panamá, especialmente na sua escola, a Portela.
— Estou tratando do carnaval deste ano. A subvenção em outros anos chegou a sair no mesmo ano (que o desfile) — afirmou Paes após uma coletiva de imprensa, nesta quarta-feira.
No ano passado, por exemplo, o dinheiro foi liberado no fim de novembro, após algumas escolas de samba terem interrompido os trabalhos em ateliês por atraso financeiro. Nos bastidores, o atraso é atribuído, por exemplo, ao novo mandato do prefeito, que mudou o presidente da Riotur, com Bernardo Fellows assumindo a cadeira em 1º de janeiro.
De acordo com a Liesa, a entidade vem realizando encontros frequentes com a prefeitura e o estado para definir essas questões financeiras. A expectativa, informa a liga, é que os valores prometidos sejam transferidos para as contas bancárias das escolas entre cinco e dez dias.
Segundo a Riotur, o processo de pagamento dos repasses às escolas do Grupo Especial e da Série Ouro “está em fase final, aguardando apenas o trâmite burocrático para pagamento”. Já o Governo do Estado do Rio informa que os R$40 milhões serão repassados à Liesa “tão logo sejam cumpridos os critérios técnicos e normas bancárias, com a devida transparência”.
André Rodrigues, um dos carnavalescos da Portela, escola que mais vezes levantou o título do carnaval carioca, criticou o atraso nos repasses estadual e municipal. Em postagem no X em dezembro, ele ressaltou que mesmo após anúncio de apoio financeiro, “nada” tinha chegado do estado. E foi além. “Não se tem memória de quando a prefeitura deixou de pagar a primeira parcela antes da virada do ano, como agora”, afirmou. “Um completo horror e o custo é alto.”
Já na Série Ouro, o tradicionalíssimo Império Serrano — também de Madureira, como a azul e branco — é uma das escolas que está precisando se reinventar para montar seu próximo carnaval. O presidente Flávio França, conhecido como Flavinho, relata que, neste momento, destinado à confecção de fantasias, a demora na transferência de repasses “afeta em muita coisa”.
— A gente se sente desvalorizado. Mais uma vez, a cultura está sempre como pauta no cenário global, mas está sem fomento aqui. Como desenvolver (o carnaval), sem apoio financeiro? Isso definha nosso projeto, é um momento delicado. É uma falta de respeito e consideração com a cultura — afirmou Flavinho.
Segundo o dirigente, até a qualidade da vestimenta dos desfilantes deve sofrer interferência, com a opção por materiais mais baratos ou reciclados. A falta de recursos afeta boa parte das agremiações, que já vivem um contexto pior que o das escolas do Grupo Especial, especialmente por trabalharem em barracões espalhados pelo Centro e pela Zona Portuária, sem a mesma estrutura da Cidade do Samba. A promessa da prefeitura é que barracões sejam construídos no terreno da antiga estação da Leopoldina, onde será fundada a Cidade do Samba 2, voltada à Série Ouro.
Os valores destinados às escolas pela Riotur será o mesmo de 2024, informa o órgão. O montante de R$25,8 milhões será dividido pelas 12 agremiações (R$2,15 milhões, cada) do Grupo Especial, enquanto as 16 escolas da Série Ouro recebem R$14,83 milhões (pouco mais de R$900 milhões para cada uma).
Apesar de estarem de fora do investimento recorde anunciado pelo estado, as escolas da Série Ouro recebem “premiações” do edital “Não deixe o samba morrer 4”, da Secretaria estadual de Cultura. Cada agremiação ficará com R$80 mil, totalizando R$1,28 milhão repassado. Neste caso, o dinheiro ainda não foi liberado, pois o prazo de envio de documentação será encerrado na sexta-feira (10). Só depois dessa data que os recursos serão transferidos às beneficiárias.