Caso Fluminense e Vasco não façam seu papel contra, respectivamente, América-MG e Ceará, às 17h, no Maracanã e em Fortaleza, terão que suportar muito mais do que as gozações dos rivais. Com a mudança nas regras que regem o contrato de televisionamento do Brasileiro, seus já combalidos cofres sofrerão um golpe para o qual não estão preparados.
Ao contrário do que ocorria até este ano, em 2019 a chamada “cláusula paraquedas” vai deixar de existir. Ou seja: os clubes habituados a frequentar a Série A receberão, na segunda divisão, a mesma quantia que os demais participantes da B.
Comparado ao que estão acostumados a embolsar, a redução será abrupta. Na próxima temporada, os integrantes da Série B receberão R$ 7 milhões pela transmissão dos jogos. O risco de não voltar logo em seguida nunca foi tão grande. Por isso, não é exagero dizer que tricolores e cruz-maltinos farão o jogo de suas vidas hoje à tarde.
A diferença no que será pago aos dois se deve à parte da cota de TV referente à transmissão no formato pay-per-view (exclusivo para a Série A), que se baseia em uma pesquisa de torcidas para dividir o bolo de R$ 650 milhões de acordo com seus respectivos tamanhos.
Nos pontos corridos, o Vasco acumula três rebaixamentos. Mas sempre disputou a Série B com uma cota de TV de membro da elite. Em 2016, último ano em que o clube de São Januário participou da divisão de acesso, a transmissão dos jogos lhe rendeu R$ 104 milhões. Já seus concorrentes contaram com uma quantia bem mais modesta: R$ 5 milhões. Esta diferença sempre foi alvo de críticas em torno do desequilíbrio que promove.
— Até agora, havia uma diferença abissal. A disparidade na folha do futebol fazia a volta ser praticamente automática — admite Adriano Dias Mendes, vice de controladoria do Vasco, preocupado com o novo contexto. — O formato desse novo contrato permite que os clubes ganhem mais, mas o risco do é maior. Nesse momento é um gerenciamento fica bem mais difícil, mas o planejamento não foi voltado para qualquer rebaixamento.
Mesmo com toda esta vantagem financeira, os clubes grandes que caem têm mostrando cada vez menos força na briga pelo acesso. O próprio Vasco é um exemplo. Em 2009, foi o campeão da Série B. Mas, em 2014 e 2016, subiu como terceiro colocado. No ano passado, o Inter-RS oscilou e foi vice para o América-MG. A partir do ano que vem, dentro desta nova realidade, a dificuldade dos grandes tende a aumentar.
Finanças dependentes da TV
O sofrimento, claro, não vai se limitar ao desempenho em campo. A cota de TV responde pela maior fatia no orçamento dos clubes. No balanço de 2017 do Vasco, correspondeu a 50,4% da arrecadação total. Nas Laranjeiras, a fatia é um pouco menor, mas também significativa: 46,5%. E, mesmo com este dinheiro à disposição, os dois já atravessam grave crise financeira.
Em razão de dívidas com ex-jogadores, agentes e outros clubes, o Fluminense está com a maioria de suas receitas penhoradas e deve quatro meses de direitos de imagem ao elenco. Fornecedores também estão na lista de credores do clube, que teve o serviço terceirizado de limpeza da sede suspenso.
Em São Januário, a corda no pescoço está menos apertada. Graças ao empréstimo de R$ 38 milhões que teve como garantia justamente as cotas de TV. Há dívidas do mês da gestão Eurico — salário de dezembro de 2017, 13° e um terço das férias. E parte das receitas previstas para 2019 já foram antecipadas.
Política também sofre com queda
No melhor estilo bola de neve, o rebaixamento e a piora do quadro financeiro impactarão no caos político, outro ponto em comum aos dois clubes. Isolado no Vasco, o presidente Alexandre Campello já deve sofrer, independentemente do resultado em campo, mais pressão interna em 2019. Há rumores de que a oposição tentará emplacar um processo de impeachment por gestão temerária. Uma redução tão drástica nas finanças cruz-maltinas serviria ainda mais munição às vozes que defendem o fim de seu mandato.
Nas Laranjeiras, o pedido de impeachment já foi feito. Atualmente, o processo aguarda a data da reunião de votação ser marcada. Mas, nos bastidores das Laranjeiras não há expectativa de que ele vá à frente, pois o presidente Pedro Abad conta com maioria no Conselho Deliberativo, órgão onde o afastamento será avaliado. O rebaixamento, no entanto, pode abalar a governabilidade do mandatário.
Mesmo que não promova uma reviravolta no processo de impeachment, a queda para a Série B no mínimo jogará ainda mais combustível na campanha pela renúncia movida pela oposição. As manifestações contra o presidente tricolor tem se tornado mais frequentes nos últimos dias. Procurado pela reportagem, o Fluminense não quis participar desta matéria.
REPRODUÇÂO MATERIA DO EXTRA ONLINE