Jornal Povo

De São Paulo para o Rio com muito àṣẹ!

Herdeiro do Parque Fluminense, Bàbá Sandro explica como consegue conciliar os calendários e auxiliar tantas pessoas ao seu redor.

Bàbá Sandro no Plenário da Câmara dos Vereadores, na entrega da Medalha Pedro Ernesto (Arquivo pessoal)

Existe legado complicado de se dar continuidade, mas para todo peso acima da média, o criador escolhe alguém capaz de carregar.

Nascido em São Paulo e de família Candomblecista, Sandro Pinto, também conhecido com Pai Sandro de Òṣóògiyan, hoje tem sua vida dividida entre Rio e São Paulo, devido a herança deixada pelo seu avô Valdomiro Costa Pinto, a famoso e saudoso Valdomiro Baiano.

A tarefa de dar continuidade no Ilê Ogum Megege Axé Baru Lepe não é tão simples assim. Além da distância de sua moradia, Bàbá Sandro esbarra na importante história construída pelos líderes antecessores, mas mesmo assim, vai deixando sua marca na comunidade, por sua personalidade e inteligência diante das necessidades apresentadas.

No ano passado o Àṣẹ Parque Fluminense, em homenagem à Valdomiro Baiano (em memória), foi condecorado com a medalha Pedro Ernesto no plenário da Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, o que enalteceu ainda mais o espaço sagrado gerenciado pelo Bàbáloriṣá Sandro Pinto.

Na entrevista abaixo, o paulistano explica como faz para cumprir suas tarefas nos dois estados e também como dará continuidade ao Terreiro carioca.

Bàbáloriṣá Sandro D Òṣóògiyan

Nome e onde nasceu?

Sandro Pinto, mas conhecido como Bàbáloriṣá Sandro D Òṣóògiyan. Nasci em Santos-SP e me criei na mesma localidade.

Como chegou ao Candomblé?

Nasci em uma família de Candomblé. Conduzida pelo meu Avô (em memória) Valdomiro Costa Pinto, onde ao passar dos anos, houve a necessidade de que eu me iniciasse para os segredos do Candomblé. Assim começou a minha vida dentro da religião.

Qual a descendência de seu àṣẹ?

O Àṣẹ Parque Fluminense teve duas grandes ramificações:
Começando pela nação Ẹ̀fọ̀n, conduzida pelo saudoso (em memória) Pai Cristovão D Ògún, filho de santo de Dona Maria da Paixão, também conhecida como Maria de Oloroke e seu marido Tio Firmo ou Babá Erufa, ambos ex-escravos e fundadores do Axé Oloroke. Assim, meu avô Valdemiro Costa Pinto, deu início a sua trajetória. Anos passaram e houve a necessidade do mesmo migrar para nação Ketu, onde encontrou no Àṣẹ Gantois, o final da sua trajetória. Com toda essa bagagem e a fusão desses dois grandes àṣẹs erguer-se o Àṣẹ Parque Fluminense, onde a mais de 75 anos, se encontra em plena atividade.

Como é comandar um casa em São Paulo e outra no Rio de Janeiro (Parque Fluminense)?

Não é fácil. Minha residência fixa é aqui em São Paulo, onde minha família desenvolve suas atividades do dia-a-dia, tais como estudo e trabalho. É onde atendo aos clientes e filhos de santo em maior parte. No Rio de Janeiro a casa é formada pelos filhos do Àṣẹ, os Egbomis, meu Pai carnal e minha tia. Ficando o cumprimento do calendário das festividades, pré-estabelecidas. Isso torna mais fácil o ir e vir de São Paulo/Rio.

Qual o tamanho da responsabilidade em tocar o àṣẹ deixado por Pai Baiano, tendo em vista o peso do nome e os feitos realizados pelo mesmo?

É um grande desafio. Principalmente quando as pessoas tentam comparar a maneira que meu avô administrava, com a minha forma de conduzir o legado deixado por ele.

Pode nos dizer a diferença entre o Candomblé do Rio e de São Paulo?

No meu ponto de vista, existem algumas nuances que diferenciam o comportamento pessoal e cultural dos frequentadores de ambas regiões. Porém, dentro do Àṣẹ Parque Fluminense, tanto na sua sede no Rio, quanto em São Paulo (não incluo todas as ramificações da sede), não existem diferenças culturais ou dos filhos. Nem mesmo do comportamento dogmático do próprio Àṣẹ.

O que espera do Candomblé nos próximos anos?

Apesar das graves ocorrências nos últimos anos. Fatos de intolerância, discriminação, violência e preconceito que ora sofremos, só nos resta clamar as autoridades que reitere a efetivação de nossos direitos adquiridos pela constituição de um Estado Laico e que façam valer o cumprimento das leis que nos favorece, conscientizando a todos, que nossa prática é voltada para o bem-estar de toda a humanidade.

Deixe um recado para o povo de àṣẹ, por favor:

Que todos os irmãos de fé se unam em um só objetivo. A humildade é essencial para o progresso de nossa religião. Que deixemos as farpas, intrigas, vaidades, o orgulho e a suposta superioridade de lado e sigamos um novo caminhar de esperança e fé. Que Bàbá mi Òṣóògiyan abençoe a todos. Abença!

Contato Bàbá Joaquim D’Ògún

(21) 96991-4004
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