Investigação do Ministério Público Federal (MPF) e da Corregedoria da Polícia Federal indica que o escrivão Éverton da Costa Ribeiro recebeu R$ 360 mil de propina numa sacola. O pagamento feito por um empresário teria acontecido na garagem do prédio dos Correios, no Centro do Rio.
Éverton é um dos seis presos na Operação Tergiversação, nesta terça-feira, que mirou uma organização criminosa que atuava na Superintendência da Polícia Federal do estado. Além dele, o delegado de Polícia Federal Lorenzo Pompílio da Hora e um advogado também foram pegos.
Os promotores afirmam que Lorenzo e Éverton chefiavam o esquema, que consistia em extorquir de pessoas investigadas pela PF em outras operações. A polícia calculou, que junto com operadores do esquema, eles receberam pagamentos de até R$ 1,5 milhões.
Alvo de delação
A informação do dinheiro na sacola consta do inquérito e está em um depoimento feito por um empresário que decidiu fazer delação, homologada pela Justiça.
Na ocasião, Éverton era lotado na Delegacia da Polícia Federal no prédio dos Correios.
Lorenzo também foi um dos que acompanharam o depoimento do policial militar Rodrigo Ferreira, o Ferreirinha, no caso da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes.
A PF afirma que Ferreirinha agiu com o intuito de atrapalhar as investigações do atentado. O PM foi preso.
A Operação Tergiversação
Com o apoio de dois operadores, o escrivão e o delegado receberiam propina de empresários alvos de investigação feita pela unidade.
A juíza Caroline Vieira Figueiredo, da 7ª Vara Federal Criminal do RJ decretou a prisão preventiva dos policiais.
A operação prendeu mais quatro pessoas. Outros três estão foragidos.
Os alvos de extorsão dos agentes, segundo o MPF, seriam:
- Donos de empresas que fornecem material ortopédico para hospitais do RJ;
- Empresários envolvidos no fundo de pensão dos Correios, o Postalis.
Os denunciados vão responder por corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa e peculato.
Em seu pedido de prisão, o MPF enumerou à Justiça os motivos que justificam a prisão dos agentes. As investigações apontam que o esquema começou em 2013 e se manteve, pelo menos, até março passado.
“São tão graves os fatos revelados que o órgão ministerial houve por bem de examinar os inquéritos e movimentações dos agentes da Polícia Federal no Rio de Janeiro para confrontar as informações trazidas, concluindo que as declarações captadas são verossímeis”, escreveu a juíza Caroline.
Entre os motivos para pedir a prisão, o MPF enumerou alguns pontos:
- Delações de empresários investigados pela PF
- Depoimento de um delegado federal sobre irregularidades na delegacia que os policiais faziam parte
- Trocas de email do delegado Lorenzo com investigado ou com seu advogado
- Ida a encontro na casa de empresários sendo um deles investigado por ele
- Depoimentos dos empresários beneficiados não eram juntados ao inquérito
Para o MPF, esses elementos baseiam a prisão do delegado e do escrivão.
“É evidente, portanto, que além da prova da materialidade e indícios concretos de autoria, a decretação da prisão preventiva é necessária para garantir a ordem pública, dado o risco concreto de que, em liberdade, permaneça praticando fatos ilícitos, assim como é necessária a medida por conveniência da instrução criminal, tendo em vista que, em liberdade, possuirá toda a estrutura da Polícia Federal em seu favor, podendo atuar de forma específica na destruição de provas ou manipulação de terceiras pessoas”, escreveu a juíza Caroline Figueiredo em sua decisão.