Por: Hyago Santos
Campo Grande, Zona Oeste do Rio, lugar que guarda boas histórias do futebol. Lá está o estádio Ítalo Del Cima, que já foi palco de importantes partidas do Campo Grande Atlético Clube em seus tempos de ouro e que por anos levou momentos de alegria a população daquela localidade. Hoje, apesar de seu valioso legado, o clube luta para se reerguer das cinzas.
O nome do estádio é de seu fundador, o imigrante italiano Ítalo Del Cima, comerciante que morava em Campo Grande e cedeu o terro para a construção da casa do Campusca, como é conhecido o Campo Grande Atlético Clube. Mas foi na gestão de Ilídio Rodrigues Silveira, que o local começou a ganhar uma nova perspectiva. Em meados dos anos 70, o empresário assume o clube e faz uma reforma no espaço onde era o estádio, transformando numa estrutura a frente de sua época. Chegou a ser o segundo maior estádio particular do Rio de Janeiro na época e o terceiro maior do Estado, ficando atrás do São Januário e Maracanã, respectivamente.
José Ricardo Silveira tem 52 anos e também é empresário. Ele acompanhou de perto a gestão do pai como presidente do Campo Grande Atlético Clube e relembra momentos importantes da época.
“Quando reformou o Ítalo Del Cima, meu pai colocou uma placa de fora a fora com a frase: ‘Povo, comércio e indústria fazem desse estádio um exemplo. Lembro de cada momento e dos importantes nomes do futebol que passaram pelo clube na gestão dele. Bons tempos, não só para o time, mas para Campo Grande como um todo”, relembra ele.
Taça de Prata
Em 1982 o clube disputou a Taça de Prata e levou o título de campeão da competição. Em sua estreia, o Campusca marcou 2 a 0 em cima do Americano, com a o ítalo Del Cima lotado e um jogo pautado pela emoção. Depois enfrentou o Portuguesa, que já contava com jogadores mais experientes. Mas isso não foi empecilho para que o Campo Grande ganhasse aquela partida por 3 a 0, mais uma vez dentro da Zona Oeste, com gols de Jacenir, Lulinha e Aílton.
O elenco se manteve firme no campeonato. Em Minas Gerais fora duas partidas que só consolidaram a trajetória do Campo Grande: Um empate de 1 a 1 com o Uberaba e uma vitória de 2 a 0 sobre o Atlético Mineiro no Mineirão, com gols de Luís Paulo e Tuchê.
O time chegou na última rodada na primeira colocação do grupo, quando empatou no jogo de volta no Ítalo Del Cima com o Comercial-MS por 1 a 1.
A final foi entre o Campo Grande e CSA, em 21 de abril de 1982. Nesse dia, o estádio Ítalo Del Cima recebeu um público recorde de 16.842 pessoas. O alvinegro bateu no CSA por 3 a 0, com dois gols de Luizinho e um de Lulinha. O título garantiu a participação do Campusca na Taça de Ouro, em 1983. Mas antes disso, ainda haveria um Campeonato Carioca a ser disputado.
Nos anos 90 o Campusca chegou a ficar páreo a páreo com os grandes times do Rio e do Brasil, jogando contra o Flamengo, Corinthians e São Paulo.
O agito da região
Além de trazer nomes importantes para o futebol, os eventos realizados no estádio também traziam grandes artistas para Campo Grande. Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Elba Ramalho e Roberto Leal estão entre os grandes nomes que já se apresentaram no local. Nessas ocasiões, José Ricardo relata que o bairro ficava mais movimentado. “Quando aconteciam essas festas aqui, lotava. Dava movimento, as famílias de Campo Grande já sabiam onde se divertir. Era um tempo maravilhoso”, disse.
Do sucesso ao declínio
Apesar de seus grandes momentos no futebol a nível nacional, o Campo Grande passou por situações que o fizeram cair no esquecimento. O estádio Ítalo Del Cima, que sediara jogos de grandes escalões, começou a receber os jogos da terceira divisão e, posteriormente, se deteriorar. O local chegou a virar depósito de móveis, colchonetes e lixo. A falta de infraestrutura afundou o Campusca num lamentável período de crise. O time não disputa uma partida oficial desde 2014. Atualmente joga pela quarta divisão e paga os jogadores com uma ajuda de custo próxima a um salário mínimo.
Mesmo com a nuvem negra pairando sobre o Ítalo Del Cima, a atual gestão do Clube quer resgatar a equipe colocá-la e volta nos altos patamares do futebol.
“Campo Grande não é mais como era antigamente depois que o clube caiu e o estádio ficou como está. Precisamos colocar nosso Campusca no lugar de onde ele nunca deveria ter saído”, disse José Ricardo.