Jornal Povo

Vítima de Honda no Japão, Oswaldo lembra duelos com meia do Botafogo: “É um craque”

Keisuke Honda é o segundo astro internacional que chega ao Botafogo nesta década. Antes, em 2012, Clarence Seedorf elevou o patamar do clube. Naquela ocasião, Oswaldo de Oliveira era o comandante. Com duas passagens pelo Japão, o técnico campeão carioca pelo Alvinegro em 2013 enfrentou o meia em duas oportunidades e sabe o que um atleta desse nível pode acrescentar para a equipe.

“Quando vi que o Botafogo o contratou, achei maravilhoso, ele é um craque, joga muito”.

Os confrontos aconteceram em 2007, na primeira passagem do técnico pelo futebol japonês. Em 24 de junho, o Kashima Antlers, de Oswaldo, derrotou o Nagoya Grampus, de Honda, por 2 a 1. Já no dia 15 de setembro, o time do meia venceu por 3 a 0, com dois gols do astro alvinegro.

– Nós jogamos quatro jogos contra o time dele, o Nagoya, mas ele participou de dois e lembro que jogou de ala esquerda. Ele estava começando e já arrebentava. Foi um pouco surpreendente, um garoto ainda. Nesse jogo que eles venceram, ele fez dois gols, sendo um da intermediária. Me impressionou bastante. Logo começou a ser convocado para a seleção japonesa. Chama atenção que ele se destacou muito rapidamente. O povo japonês adora ele, até porque é o grande destaque do Japão em Copas do Mundo.

A segunda passagem de Oswaldo de Oliveira no Japão foi em 2018, à frente do Urawa Reds. O técnico, pelo conhecimento que tem da cultura japonesa, acredita que Honda será um exemplo positivo no futebol brasileiro e não duvida que ele se tornará um dos líderes do Botafogo em breve.

“Tem tudo para ser um exemplo. Com outra cultura, outro nível de prestígio, tecnicamente pode vir a ser um grande jogador aqui. Vai depender do nível de adaptação dele. Se conseguir, vai jogar muito aqui, tenho certeza disso”.

– Ele é um pouco diferente do japonês típico. O japonês é disciplinado e educado, mas pouco ousado. O Honda é disciplinado, educado e é ousado. O jogador japonês, quando tem essas características, se destaca muito. Ele perambulou pelo mundo porque tem essa valência enorme de coisas que pode fazer. E ele faz tranquilo, não se estressa. Forte, inteligente, habilidoso, era muito rápido.

Oswaldo de Oliveira foi o técnico do Botafogo nas temporadas 2012 e 2013, quando Seedorf chegou e se firmou no clube alvinegro, ajudando também a lançar jovens como Dória, Gabriel, Jadson e Vitinho. Veja abaixo o bate-papo com o ex-treinador alvinegro:

Papel de Honda no Botafogo

– Hoje, eu o vejo meio Seedorf no Botafogo, fazendo a função de cérebro do time, incontestável sua capacidade para isso, chegando na área, decidindo, batendo pênalti como foi contra o Bangu e, gradativamente, se transformando no líder do time. Ele tem todas as credenciais. É um cara extremamente disciplinado. Se adaptando bem, o Honda tem tudo para vencer aqui.

Comparação com Seedorf

– Em 2012/2013, o Seedorf foi muito bem ladeado por outros caras que vieram com muita personalidade: Jefferson, Marcelo Mattos, Bolívar, Rafael Marques, Fellype Gabriel, Andrezinho. Eram caras focados e deram uma coadjuvação muito boa para ele. Eu olhando de fora vejo o elenco atual nesse nível: o goleiro, estrangeiros, meninos que estão aparecendo. Vai depender de quem serão os pares dele, o que vai ser determinante.

Importância de Seedorf extracampo

– O Seedorf tinha uma característica: todos os dias antes do treino ele ia até minha sala conversar comigo, trocar ideias, falava o que achava dos jogadores e de ideias que ele tinha. Ele tinha essa coisa de preparar as atitudes que ia tomar. Não fazia nada por iniciativa própria, ele se embasava para conversar com os jogadores.

– Eu admiro o Honda pelo que eu vi ele jogar, mas não sei até que ponto ele pode interferir nesse aspecto. Uma coisa que o Paulo Autuori vai avaliar e vai dar linha para ele à medida que for importante. É coisa do japonês, ele está se esforçando para aprender português. Para se ter uma ideia, no clube que eu trabalhei no Japão, eles tiveram muitos treinadores e jogadores brasileiros, então muita gente no clube passou a falar português pela necessidade de lidar com o brasileiro. Japonês é muito focado. Não se surpreenda se em poucos meses ele estiver mais fluente e independente.

“Se ele exercer uma certa liderança, aos poucos ele vai contagiar os colegas”.

Título carioca de 2013

– Naquela época subimos acho que 16 jogadores e o aproveitamento foi excepcional. Gabriel, Dória, Jadson, Cidinho, Vitinho…

– O grande destaque foi o Rafael Marques, o craque do campeonato. Nesse aspecto técnico dentro do campo foi o Rafael. Fora de campo Seedorf, Bolívar, Jefferson… Era um grupo muito bom. Nós cruzamos quase que o ano todo com salários atrasados. E a manifestação deles para demonstrar insatisfação foi não concentrarem.

– Um dia, o Jefferson me procurou e disse que se concentraria, porque não dormiria bem em casa pois estava com neném novo. Para se ter uma ideia do nível daqueles caras, eram excepcionais. O jogador com salário atrasado fica perturbado, é uma insegurança muito grande. Eu disse: “Em algum momento vocês vão receber, mas não podem deixar isso fazer mal ao clube e à carreira de vocês. Encarem, façam da melhor maneira e depois a gente cobra”.

Oswaldo foi campeão carioca com o Botafogo em 2013 — Foto: Satiro Sodré/SSPress
Oswaldo foi campeão carioca com o Botafogo em 2013 — Foto: Satiro Sodré/SSPress

Clube-empresa

– O presidente dirige o clube por dois ou três anos e isso limita o horizonte dele. Raramente se encontra um cara que vai trabalhar para o projeto do próximo. Quando o cara trabalha a curto prazo, não mede esforços para as coisas acontecerem naquele momento. O clube-empresa pode ser solução para esse aspecto administrativo. O futebol administrado como empresa pode solucionar isso.

Fonte: Globoesporte