Jornal Povo

MÁRIO FRIAS DEFENDE CLOROQUINA, CRITICA MORO, ATACA GLOBALISMO E QUESTIONA STF

Nomeado para o cargo de secretário da Cultura, vinculado ao Ministério do Turismo, por Jair Bolsonaro, nesta sexta-feira (19), o ator Mário Frias pouco fala sobre sua área. Em suas redes sociais, o artista é um ferrenho defensor das ideias pregadas pelo presidente e tem se concentrado em pregar o uso da cloroquina no tratamento da Covid-19, condenar as medidas de isolamento social como forma de frear o avanço do coronavírus e atacar adversários do governo.

Frias endossou a nomeação da atriz Regina Duarte para a pasta que agora ocupa. O ator esteve na posse da atriz, em 4 de março. Na ocasião, escreveu que ela merecia estar no cargo e acrescentou que a atriz “anteviu tudo o que viria acontecer com o Brasil sob a catastrófica passagem do lulopetismo”.

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Mas assim que Regina Duarte começou a balançar no cargo, Frias logo se colocou à disposição para assumir o cadeira. Em entrevista à CNN Brasil, no dia 6 de maio, o novo secretário foi questionado se aceitaria o cargo.

“Sem dúvida. Não tenho medo disso, não. Tenho vontade, tenho conhecimento e não tenho pretensão nenhuma de ser o dono da verdade. Se essa oportunidade vier para mim, vou montar um time de primeira”, respondeu.

Militância

Nas três semanas após o anúncio de que Regina Duarte sairia do cargo, Frias não fez qualquer postagem sobre a área de cultura em seu Instagram. Neste período ele se dedicou ao papel de militante, com defesa do presidente Bolsonaro e críticas à imprensa, aos protestos antifascistas, ao “globalismo” e aos governadores e prefeitos que têm adotado medidas de isolamento social.

Em 31 de maio, Frias participou de um protesto com pautas antidemocráticas em Copacabana. Na mesma data ele postou um vídeo da marcha antifascista organizada por torcidas organizadas de São Paulo e as classificou como “crime organizado”. Nos dias seguintes fez campanha para que esses grupos sejam considerados terroristas.

As operações policiais contra as fake news e contra o governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), também mobilizaram a atenção do novo secretário. Witzel era um alvo antigo de Frias, que dias antes da busca e apreensão no Palácio da Guanabara escreveu que “A casa DESABOU WW (Wilson Witzel). Rivotril vai ver o sol nascer quadrado!”.

Sobre a investigação a respeito da divulgação de notícias falsas e promoção de linchamentos virtuais, Frias alegou que nunca provaram nenhuma fake news publicada pelos aliados de Bolsonaro. “Até o momento a Folha, Globo, Estadão… não apontaram uma só Fake News produzida pelo tal ‘gabinete’”, escreveu, em relação ao grupo conhecido como “gabinete do ódio”. Ele também postou um vídeo do Jornal Nacional e escreveu que no programa jornalístico “mentem descaradamente”.

Frias ainda republicou um vídeo do deputado Carlos Jordy (PSL) no qual acusa o petista Fernando Haddad, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e investidor George Soros de terem um “esquema de disseminação da agenda globalista”. “Metacapitalistas financiam as esquerdas (marxistas e fabianos) para difundir ‘boas práticas’ (aborto, desarmamento, gênero, lgbt, feminismo, movimentos antifas…)”, diz o texto.

Governismo

Regina Duarte não era a única ministra do governo que Frias tinha admiração. Ele tem foto publicada com o ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, e tratava como herói nacional o ex-titular da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. No entanto, ele passou de apoiador a crítico do ex-juiz.

Em dezembro de 2016, o ator publicou um pedido para que todos os seus seguidores trocassem a foto de perfil no Instagram pela imagem do então magistrado titular da 13ª Vara Federal de Curitiba. Era uma forma de homenagear o “nosso maior herói dos últimos tempos, o juiz patriota e justo Sérgio Moro, que tem botado muitos corruptos na cadeia”, conforme a legenda da postagem.

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Frias já não demonstra mais apreço por Moro, que deixou o governo no dia 24 de abril com denúncias contra Bolsonaro. O novo secretário tomou partido e ficou do lado do presidente. Frias criticou seu ex-ídolo, disse que no momento o mais importante é deixar o ego de lado e cobrou “comportamento ético” do ex-ministro Moro em sua saída do governo. 

Após a divulgação do vídeo da reunião ministerial de 24 de abril, Frias aproveitou para reforçar os ataques a Moro, publicou o trecho no qual o ministro Weintraub afirma que odeia o termo “povos indígenas” e postou um frase afirmando que o conteúdo divulgado vai ajudar a reeleger Bolsonaro.

No âmbito político, o alinhamento com o bolsonarismo aparece nas críticas ao Supremo Tribunal Federal e ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). O STF é acusado por Frias de tentar “desestabilizar um governo legítimo”, em uma postagem no Instagram. E

Maia é chamado de “Nhonho” por Frias. Trata-se de uma referência, pejorativa, a um personagem obeso da série Chaves. “Sua casa está desabando NHONHO vou viver pra dar boas risadas assistindo vc fazendo companhia para o Cabral”, escreveu Frias em uma rede social.

Coronavírus

As declarações de Frias a respeito do enfrentamento à pandemia de Covid-19 também corroboram com as teses propagadas por Bolsonaro. Assim como o presidente, ele advoga pelo uso da cloroquina e faz críticas às medidas de isolamento social. Ele também tenta tirar de Bolsonaro qualquer responsabilidade pelas mortes provocadas pelo coronavírus.

Frias alegou, em uma postagem de 9 de junho, que o Supremo Tribunal Federal “afastou Bolsonaro do controle da COVID, dando esse poder para governadores e prefeitos”. A informação é incorreta, pois a decisão do ministro Alexandre de Moraes sustenta apenas que não cabe ao presidente derrubar decisões dos gestores estaduais e municipais e pede união de todos os poderes no enfrentamento à pandemia, o que inclui o governo federal.

Em 17 de maior, Frias argumentou que perder o direito de escolha sobre ficar ou não em casa, cumprindo medida de isolamento social, é mais grave do que a própria Covid-19.

“O vírus existe e precisamos lidar com ele. Mas temos que ter o direito de escolher se vamos morrer de fome ou de Covid. Se devemos ou não ficar em casa. Se perdermos o direito de escolher perderemos tudo, vamos perder muito mais do que uma pandemia pode nos tirar. Perderemos o direito de viver nossas vidas de acordo com o que acreditamos. Será a morte da democracia”, escreveu.

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Sobre o lockdown, Frias compartilhou um vídeo no qual um norte-americano faz críticas às medidas adotadas nos Estados Unidos. Em certa altura, o homem diz que “se me dissessem que por causa do coronavírus eu perderia minha empresa, e eu tivesse que voltar a ser empregado, recomeçar a vida, eu preferia morrer de coronavírus! Sério! Ou pelo menos tentaria a sorte”. Na legenda do vídeo, Frias escreveu: “Faço minhas suas palavras”!

Vírus chinês

Em um outro vídeo compartilhado por Frias, no dia 12 de maio, um homem chama o coronavírus de “peste chinesa” e afirma que o Brasil está “rumo ao abismo com essa picaretagem de isolamento horizontal e lockdown, coisa que até o sem noção da OMS não defende mais”.

Ao contrário do que diz o vídeo compartilhado por Frias, a Organização Mundial de Saúde mantém a recomendação de isolamento social como forma mais eficaz de evitar a propagação do coronavírus.

Frias consente com a utilização da cloroquina. Em 8 de abril, o novo secretário de Cultura afirmou que certamente usaria a susbtância em alguém de sua família. No dia seguinte, Frias publicou um meme do personagem Zé Pequeno, do filme Cidade de Deus, com o texto: “Cloroquina é o caralho, meu nome agora é remédio do Bolsonaro”. O medicamento não tem eficácia comprovada para tratamento de Covid-19.

Fonte: Época