Jornal Povo

Quando era vereador, governador Cláudio Castro pediu cargo para a cunhada

Mensagens trocadas com o empresário Marcus Vinicius Azevedo da Silva, preso na primeira fase da Operação Catarata, em março e abril de 2018, mostram que o governador interino Cláudio Castro cobrou do então secretário da Casa Civil do município, Paulo Messina, um cargo para uma de suas cunhadas. Os dados constam na investigação do Ministério Público que apura desvio de dinheiro público da Fundação Leão XIII.

No dia 21 de março de 2018, Marcus Vinicius, que era assessor da Mesa Diretora da Câmara Municipal do Rio, troca mensagens com Castro, que tinha mandato de vereador. Eles conversam sobre o pedido de uma vaga para uma cunhada de Castro. O nome dela não é citado. O registro do diálogo foi obtido pelo MP no celular de Marcus Vinicius, que chegou a ser lotado no gabinete de Castro na Câmara, em 2017. Procurado, o governador disse que não é investigado e que as mensagens mostram “apenas um pedido de emprego” que “não foi atendido”.

Messina, que também se elegeu vereador, havia sido nomeado chefe da Casa Civil de Marcelo Crivella. Na conversa por aplicativo, Castro pergunta a Marcus Vinicius: “Alguma novidade da minha cunhada? Messina disse que não fecha nada. Vai resolver tudo. Com dor, mas vai”.

Ao ler a mensagem, Marcus Vinicius responde com uma orientação: “Sexta, 9h ela vai procurar o Álvaro na sede da Central”. A referência é a Álvaro Basílio Neiva, responsável pela ONG Central de Oportunidades.

Neiva foi denunciado ao Tribunal de Justiça do Rio na semana passada por participação no esquema. Segundo o depoimento do colaborador Bruno Campos Selem ao MP, “quem controlava (a Central de Oportunidades) era Marcus Vinicius”. E a ONG era uma das que recebiam verbas da Fundação Leão XIII. Segundo a investigação do MP, o esquema se originou em contratos de assistência social firmados pela Prefeitura do Rio.

Ao responder a mensagem na qual Castro escreve “Messina me disse que não fecha nada”, Marcus Vinicius explica: “João (Mattos) disse hoje ao Flávio (Chadud) que cedeu mesmo 10k pra lhe atender. Pedido do Messina”. O MP acredita ser referência a R$ 10 mil.

Castro emendou na conversa reclamações ao então secretário Messina: “Hoje fui muito duro com o Messina. Eu disse ao Messina que ele não conte mais comigo até que esteja 100% cumprido comigo”.

Um mês depois, em 24 de abril de 2018, Cláudio Castro voltou a reclamar com Marcus Vinicius sobre a situação da cunhada: “Outra coisa… vai rolar a vaga da minha cunhada?” E outra vez recebe do ex-assessor a informação de que não há definição do caso:

“Com a indisponibilidade da vaga de nível superior na planilha, o plano é usar uma vaga de nível médio e completar o salário por fora”, relata Marcus Vinicius.

Gente graúda sob suspeita

Na semana passada, a Operação Catarata II trouxe nomes de peso entre os suspeitos de fazer parte do esquema de desvios em contratos de assistência social no estado. Foram alvo de mandado de prisão temporária o ex-secretário estadual de Educação, Pedro Fernandes; o empresário Flávio Salomão Chadud; o pai dele, o delegado aposentado da PCERJ Mario Jamil Chadud; e o ex-diretor de administração financeira da Fundação Leão XIII, João Marcos Borges Mattos. Ainda a ex-vereadora e ex-deputada federal Cristiane Brasil. Ao todo, o MP denunciou 25 pessoas e a 26ª Vara Criminal da Capital do Rio de Janeiro recebeu a denúncia do MP-RJ dando início ao processo criminal.

Procurado, o advogado João Mestieri Filho, que defende Marcus Vinícius, não retornou, assim como Paulo Messina. Em nota, o governador em exercício informou que “não é investigado”. Ressaltou que “o vazamento inescrupuloso de dados protegidos por sigilo é crime amparado pela nova lei de abuso de autoridade. Apesar de não poder se responsabilizar por diálogos de terceiros, sobre a troca de mensagens vazadas, explica que trata-se de um pedido de emprego que nunca chegou a ser atendido”.

Maquiadora omitia ser lotada no DER

Em junho, o “RJTV 2ª edição”, da TV Globo, mostrou que Elizabeth Parucker Rangel, cunhada do então vice-governador, estava lotada no Departamento de Estradas e Rodagem (DER), órgão ligado à vice-governadoria do estado do Rio, com um salário bruto de R$ 8.650. Ela foi nomeada em setembro de 2019.

Em suas redes sociais, Elizabeth, porém, diz ser maquiadora e designer de sobrancelhas. Ela não menciona a atividade no serviço público. Em julho deste ano, ela foi exonerada. Nesse período, Cláudio Castro ainda era vice-governador.

O João citado nas mensagens é o ex-diretor de administração e finanças (DAF) da Fundação Leão XIII, João Mattos. Segundo o MP, entre os anos de 2015 e de 2018, atuou como “homem de confiança” e “homem da mala” do então deputado estadual Pedro Fernandes sendo, inclusive considerado “presidente de fato” da Fundação Leão XIII.

Flávio Salomão Chadud, sócio da empresa Servlog Rio, é um empresário que seria o centro dos contratos fraudados para programas de assistência social no estado do Rio.

Já Marcus Vinicius Azevedo da Silva, sócio da empresa Rio Mix 10, apontada também no esquema de corrupção, chegou a ficar preso entre julho e agosto de 2019. Em setembro deste ano, ele fez um acordo de colaboração premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR) para revelar detalhes dos desvios de recursos públicos em contratos e também delatou deputados federais da bancada fluminense.

Fonte: Jornal Extra