Candidato à reeleição, o presidente do Vasco, Alexandre Campello, acredita que conseguiu profissionalizar a gestão do clube nos últimos três anos. Por isso, Campello defende ser o mais preparado entre os nomes que estarão disponíveis para voto dos sócios no pleito de 7 de novembro.
– Meu projeto é palpável, ele pode ser visto. Os dos outros candidatos são projetos que qualquer um pode prometer qualquer coisa, né? Existe uma diferença entre prometer e entregar. Eu entrego, eles prometem – afirmou o dirigente.
Campello abre a série de entrevistas do ge com os candidatos à presidência do Vasco. A partir desta sexta, será publicada uma por dia, sempre no início da manhã. As conversas também são gravadas em áudio.
Leia a entrevista
Como todos os clubes grandes, o Vasco tem como carro-chefe o futebol. E o futebol vive problemas desde o início do século. Qual é o balanço do futebol nesse triênio? O que deu certo e o que deu errado no futebol nesses três anos?
– O futebol é o resultado de tudo que acontece no clube. Não se pode pensar no futebol de forma isolada, é reflexo da gestão. Se você tem um clube com boa gestão, que consegue aumentar a captação de recursos e tem um resultado financeiro bacana, é natural que você tenha um futebol competitivo e resultados esportivos. Nós sabemos que os resultados são decorrência do investimento. É fácil se observar isso se você analisar os resultados esportivos, seja lá em qual liga, campeonato ou federação. Normalmente, os clubes com melhor resultado são aqueles com maior investimento. Costuma-se dizer que o resultado esportivo está duas casas acima ou abaixo em relação ao nível de investimento. Então, para exemplificar, se o clube é o terceiro em investimento, esse clube poderá chegar em primeiro, mas ele também poderá chegar em quinto. Duas casas para cima ou para baixo.
Quando você tem um clube que está endividado e não está bem estruturado financeiramente, há um consumo dos recursos do caixa e resta pouco para que se invista no futebol. O Vasco vem assim há mais de duas décadas, um clube muito endividado, com uma dívida muito grande com perfil de curto prazo, que impacta diretamente no caixa do clube. Portanto, não sobram recursos para se investir no futebol e, obviamente, com isso, a gente vem de péssimos resultados nessas duas últimas décadas. Não bastasse o pouco recurso para se investir, muitas vezes, esses investimentos ainda não são realizados da melhor maneira possível, com o melhor planejamento.
Então, é nessa tecla que eu tenho batido e que o torcedor vascaíno precisa entender o sacrifício que temos que passar por alguns anos para que a gente volte a ter equipes vitoriosas. Nós precisamos fazer um sacrifício de ter austeridade no controle dos custos, nos gastos que o clube vem realizando, para que depois de alguns anos, já com a dívida controlada, a gente readquira a capacidade de investimento no futebol. Com sorte, desde que eu assumi em 2018, nós pegamos um clube que tinha um custo com o futebol acima dos R$ 5 milhões e conseguimos baixar para R$ 4 milhões e usar melhor esses R$ 4 milhões. Então, hoje, tanto em 2019 quanto 2020, nós temos uma equipe mais competitiva do que a que encontramos em 2018. Obviamente, está longe do ideal, longe daquilo que não só eu, como todo torcedor vascaíno, espera do Vasco. Mas esse é um sacrifício que nós temos que passar para que ali na frente a gente consiga investir bastante no futebol e, com isso, alcançar os resultados que esperamos.
Seguindo essa linha do futebol, pensando já no próximo triênio, caso o senhor vença a eleição, já tem definido o nome do vice-presidente de futebol e do diretor executivo? A ideia é manter os nomes que estão no momento ou pode haver alguma mudança?
– A tendência é de manutenção daqueles que vêm trabalhando nessa gestão já de longa data. Obviamente, alguns ajustes serão feitos. Nós recebemos a adesão de alguns apoiadores e, em um momento oportuno, vamos sentar e reorganizar a gestão. Mas, sem dúvida alguma, nós não vamos mudar a forma de dirigir o Vasco, de conduzir o Vasco, que é uma gestão profissional. Nós temos à frente de cada departamento sempre um profissional competente e isso não vai mudar. Poderá mudar um diretor aqui e outro ali, mas a forma como se está conduzindo o clube, que é priorizando essas decisões através de um colegiado, de um comitê de gestão que reúne os profissionais de cada área, isso deve ser mantido.
Um dos problemas da sua gestão, que já acontece no Vasco há tempos, foi o atraso de salários. Como o senhor planeja conduzir isso, caso seja reeleito? Até porque, no seu plano de gestão, há uma previsão de aumento da folha salarial do clube de R$ 4 milhões para R$ 6 milhões. Como fazer isso, se o Vasco tem dificuldade de arcar com esses custos?
– Bom, acho que ocorreu um equívoco porque, na realidade, a nossa ideia é aumentar de R$ 4 para R$ 5 milhões. É o que eu tenho dito. Vale lembrar que muitas das receitas deste ano foram empurradas para frente por conta da pandemia. Então, só das cotas de televisão, 60% daquilo que nós tínhamos que receber serão pagos somente em 2021. Então, dá para perceber que em 2021 nós vamos ter uma receita maior do que 2020. Isso por si só já justifica esse aumento de investimento.
Por outro lado, quando você fala de atraso salariais, eu posso te dizer que existem duas maneiras de enxergarmos essa questão. É aquela questão do pessimista e do otimista, né? Do meio copo vazio ou do meio copo cheio. Eu te diria que a nossa gestão pagou 37 salários em 33 meses. Então, na realidade, a gente já vem diminuindo essa dívida com os nossos funcionários e com os atletas. Hoje, o Vasco deve um mês de salários para os jogadores e dois meses para os funcionários, que a gente pretende até o final desse mês diminuir essa diferença, pagando os funcionários e colocando todos na mesma linha. Ou seja, tanto funcionários quanto os nossos jogadores permanecerão com um mês de atraso salarial. Então, a ideia é que, ao longo do tempo, a gente acabe zerando o nosso débito com os nossos funcionários e os atletas. Nós devíamos quatro meses de salários e oito a dez meses de imagem em janeiro de 2018, quando eu assumi. Hoje, nós não devemos imagem e temos apenas um mês de atraso salarial.
Então, acho que já houve uma evolução muito grande e, no período que foi mais difícil, no primeiro ano de gestão, um ano muito conturbado, nós assumimos o clube sem o conhecimento pleno do endividamento, e a partir daí, nós começamos a organizá-lo. Apesar de enfrentar essa pandemia em 2020, a gente conseguiu manter o pagamento dos salários, diminuindo o endividamento. Acho que isso demonstra o êxito dessa gestão e nos dá a certeza de que, em 2021, nós vamos conseguir de uma vez por todas acabar com esse problema de atraso salarial. Então, é como eu te disse: eu prefiro olhar o meio copo cheio do que olhar o meio copo vazio, que é a visão daqueles que torcem contra.
Presidente, não é uma questão de pessimismo ou otimismo. E todos os seus adversários falam que pretendem colocar os salários em dia. A gente pegou entrevistas suas logo que foi eleito, e você fala claramente: “Nosso primeiro objetivo é colocar os salários em dia”. O que pode ser feito diferente? Porque eu estou pensando no funcionário do Vasco, que espera contar com o pagamento no dia 5 ou no dia 20, pelo acordo. O que pode ser feito de diferente? Ou a administração pretende manter o que foi feito nesse triênio, já que foram pagas 37 folhas em 33 meses?
– Como eu disse, se a gente não tivesse os efeitos da pandemia, já estaria com o salário em dia. Estou dizendo que, apesar de todas essas dificuldades enfrentadas, a gente reduziu o endividamento com o nosso funcionário. Se não fosse esse atraso todo salarial, nós hoje estaríamos com os salários em dia. Volto a dizer: 60% do que nós temos a receber foi empurrado para frente. Eu deveria estar recebendo, por exemplo, dinheiro da televisão desde abril e não recebi. Eu deveria ter continuado a receber dinheiro de patrocinadores e não recebi durante a pandemia porque esses contratos foram suspensos. Não recebi da televisão porque o campeonato começou em agosto em vez de começar em abril, e também todos esses recebimentos foram jogados para frente. Mas, apesar disso, a gente conseguiu diminuir esse endividamento.
Então, se não fosse esse efeito da pandemia, de parada da entrada de recursos, nós certamente estaríamos com os salários em dia. E o que se pensa, como eu disse, em 2021, com a entrada dessas receitas e mais as que vamos receber relativas ao próprio ano de 2021, eu tenho a plena certeza de que a gente vai conseguir, de fato, equalizar essa questão salarial. Obviamente, você faz um planejamento e lá não está previsto que vai ter uma pandemia. Então, quando isso acontece, você tem que redirecionar, corrigir o curso, criar outras soluções. E eu acho que, nesse aspecto, nós fomos muito efetivos porque os números comprovam. O Vasco foi um dos poucos clubes que não aumentaram o endividamento. Saiu uma matéria recente do Rodrigo Capelo em que demonstrava que o Vasco, no primeiro semestre, foi o único clube que teve zero de aumento de endividamento. Tiveram outros que também foram muito bem administrados e que tiveram um endividamento pequeno de R$ 1 milhão, R$ 2 milhões, mas o Vasco foi o único com zero de endividamento. Isso demonstra a capacidade de gestão, o quanto a nossa equipe está comprometida.
Quando você fala “qual é o seu planejamento para pagar os salários?”, o planejamento é continuar com o custo do clube baixo – e isso nós estamos mantendo. Por exemplo, no ano eleitoral, nós não enfiamos os pés pelas mãos, fazendo contratações malucas, de ocasião, pensando no ponto de vista eleitoral. Nós mantivemos nosso rumo, com os custos do clube sob controle e trabalhando para aumentar receita. Não existe outra fórmula de colocar as coisas em dia, a não ser controlando os custos e aumentando as receitas. E isso nós estamos fazendo, tanto é que em 2019, nós tivemos um aumento de mais de R$ 40 milhões em receitas recorrentes. O que isso significa? Que nós bolamos mais de R$ 40 milhões do chamado “dinheiro novo” para dentro do clube. Isso demonstra gestão e planejamento.
Presidente, o senhor fala em “dinheiro novo”, o Vasco tem apenas a 11ª arrecadação entre os clubes da Série A, com R$ 215 milhões. Por que o clube com a quinta maior torcida do país está tão longe do seu potencial de arrecadação?
– Vamos lá, por que o Vasco foi o 11º? Muito por conta de não ter feito venda de ativos no ano passado. O Vasco foi o único clube entre os dez maiores que teve venda de ativos abaixo dos R$ 40 milhões. Teve um clube, se não me engano foi o Corinthians, que vendeu R$ 45 milhões; e todos os outros venderam acima de R$ 100 milhões. A venda de ativos não passa muito pelo planejamento de gestão. O que passa por esse planejamento é o aumento de receitas recorrentes, como eu disse. Se nós pegássemos todos os dez clubes e tirássemos a venda de ativos, você veria que o Vasco não estaria na 11ª posição. Estaria lá em cima. Obviamente, não estaria entre os quatro, cinco primeiros, mas certamente não estaria em décimo.
Então, se nós tivéssemos a sorte de vender algum jogador, certamente estaríamos entre os seis primeiros. Obviamente, isso não é o que a gente deseja, que é estar entre os três ou quatro primeiros, mas isso não acontece da noite para o dia. Para você aumentar as receitas, é necessária toda uma reestruturação do clube e da gestão. E isso acontece ao longo do tempo, não da noite para o dia. Não adianta você apenas entrar na gestão e dizer “a partir de agora, eu vou faturar mais”. Não. Primeiro, você tem que valorizar a sua marca. O Vasco era um clube que tinha a sua marca e imagem bastante comprometidas, isso não se muda da noite para o dia. A credibilidade é muito importante para aumentar as receitas, e a gente foi aumentando bastante a credibilidade do clube. Tanto que, quando nós assumimos, nós não tínhamos nenhum patrocinador, e hoje nós temos sempre os nossos espaços preenchidos com os patrocinadores. É preciso trazer a torcida, e nós fizemos esse exercício. Tanto que saímos de 7 mil adimplentes para 185 mil sócios-torcedores e estatutários. É preciso mudar a filosofia da base para se produzir mais e melhores atletas, que são os nossos ativos, para que eles sejam vendidos. Hoje, a gente sabe que a venda de ativos é responsável por uma parcela significativa na arrecadação do clube. Mas todo trabalho que você faz hoje vai surtir efeito daqui a três ou quatro anos.
Só para concluir, eu gostaria de lembrar que, nos dois anos anteriores à minha gestão, o Vasco teve receita de R$ 200 milhões. Tanto em 2016 quanto 2017. E esses R$ 200 milhões incluíam vendas de ativos, e vendas importantes, como o Douglas, o Luan, Mateus Pet. Em 2018, nós batemos R$ 265 milhões, um aumento de 30%. Para um primeiro ano, é um aumento bem significativo. Em 2019, nós faturamos R$ 215 milhões, como você disse, mas só R$ 14 milhões foram de ativos. Ou seja, mesmo em 2019, nós conseguimos ter uma receita equivalente à receita de 2017 e de 2016, que contavam com vendas de ativo. Então, isso também demonstra que a gestão foi efetiva no aumento de recursos, ao trazer receitas para o clube. Faltou, como eu disse, a venda de ativos.
O senhor falou que infelizmente não conseguiu atingir a expectativa da venda de ativos. Houve proposta pelo Talles, né? Por que o Vasco não vendeu? Considerou baixa?
– Houve uma proposta, sim, do Leste Europeu. O atleta não queria ir, e nós consideramos que a proposta era aquém daquilo que nós entendemos que o jogador vale.
Falando sobre os CTs, o profissional e o da base. O profissional já foi inaugurado, o time já treinou lá. Caso o senhor seja reeleito, vai terminar a obra por lá? Qual é seu plano para o CT profissional e para o da base, em Caxias?
– Nós entregamos o CT e tivemos o nosso primeiro treino lá. Hoje, passei no clube e estavam todos lá trabalhando. Mas o nosso projeto não para por aí. É muito maior do que essa entrega que nós fizemos. Nós já iniciamos a segunda etapa. Nesse momento, o que está se fazendo é uma colocação de aterro em uma área que é quase o dobro da que nós ocupamos hoje, que também é do Vasco. E a ideia é que, ao término desse trabalho de aterramento daquela área, se iniciem as obras das instalações definitivas de vestiário, alojamento, departamento médico… Esse é o projeto completo do nosso centro de treinamento. Ele engloba um total de sete campos de futebol, sendo um deles um miniestádio, e toda uma área de construção para abrigar não só o futebol profissional, mas as categorias sub-17 e sub-20.
Existe uma previsão de contar com a ajuda da torcida novamente para a arrecadação para o CT ou o Vasco já busca outras formas de arrecadação? Como o Vasco pretende financeiramente terminar esse CT, que ainda tem um longo caminho até o fim da obra?
– Sem dúvida alguma, nós vamos continuar contando com a torcida. Isso é fundamental, é importantíssimo que a torcida esteja sempre lado a lado com a gestão do clube para a construção do centro de treinamento ou qualquer outro patrimônio que venha a compor nossos equipamentos. Isso é uma característica do nosso clube, sempre realizar com o apoio da nossa torcida. Obviamente, essa próxima etapa não vai ser realizada apenas com a contribuição do torcedor – como também não foi essa primeira etapa. A participação do torcedor foi fundamental, mas nós tivemos ali também a entrada de recursos que não tiveram como origem as doações do torcedor. Tiveram como origem as parcerias com patrocinadores e recursos do próprio clube. Na segunda etapa, que é ainda maior do que a primeira, nós vamos, sim, com a ajuda do torcedor, mas a ideia é que a gente entre com recurso próprio. Meu planejamento é que cada ativo que o Vasco vender ou todo e qualquer recurso que venha, por meio do mecanismo de solidariedade, parte dele seja destinado ao CT.
Já tem definido um percentual?
– Ainda não tenho, mas certamente vamos fazer isso. Talvez 10%, 15% se utilize para isso. A gente já tem o compromisso de destinar uma parte para o pagamento de dívidas de credores. Então, acredito que talvez algo em torno dessa porcentagem vá para a construção do CT e o restante vá para o custeio do clube e para o pagamento de dívidas também. Com relação ao centro de treinamento de Caxias, as obras estão avançando muito. Acredito que, nas próximas semanas, a gente possa inaugurar. Nesse momento, já se terminou a drenagem e a irrigação dos campos, vamos começar a espalhar areia para, depois, fazer o plantio da grama. Acredito que em mais algumas semanas, a gente consiga inaugurar o centro de treinamento de Caxias.
Sobre estádios, quais são os planos para a reforma de São Januário? E o relacionamento com o Maracanã?
– Bom, São Januário nós também estamos avançando muito. Assinamos o memorando de entendimento e, depois disso, várias reuniões já foram realizadas. Avançamos no entendimento da parte jurídica, da parte de engenharia e da questão fundiária. Já foi feito um estudo topográfico de São Januário. Então, essas questões já estão avançando e começamos a discutir alguma coisa sobre fundos de investimento, com alguns interessados. E estamos muito próximos de assinar o contrato definitivo.
Com relação ao Maracanã, nós estamos aguardando. Tínhamos uma ação contestando a cessão do Maracanã para o Flamengo e para o Fluminense. A gente vai continuar nessa luta, entendendo que o Maracanã não pode ser de um ou outro clube, tem que ser do Estado e de todos os clubes do Rio de Janeiro.
Caso o senhor não seja eleito, esse memorando de entendimento para ampliação de São Januário, caso o próximo presidente tenha alguma divergência, como é que fica? Ele é obrigado a continuar? Não é? Depende do próximo presidente?
– Obrigado a continuar não é. Se eu assinar o contrato definitivo antes de eu sair, o contrato está feito e existe a obrigatoriedade de continuar. Se, porventura, não houver tempo para eu assinar antes do término da minha gestão, vai ter que ser assinado por quem entrar. Se outro entrar – eu não acredito – esse outro certamente terá que arcar com as suas decisões. Eu acho que ele deveria pensar no clube e continuar com o projeto. A gente entende que é um projeto excelente, que não deveria ser interrompido por mera vaidade. Mas vai depender de quem sentar na cadeira.
O senhor falou da questão do Maracanã, envolvendo Flamengo e Fluminense. Aproveitando o gancho sobre o rival, os três primeiros anos da gestão do Bandeira de Mello foram ruins no futebol e depois teve um investimento maior. Isso pode acontecer também com o Vasco?
– Olha, talvez. Eu tenho certeza daquilo que a gente vem fazendo pela gestão. Eu tenho certeza de que o caminho de reconstrução é esse. Eu acho que todos os candidatos prometem aquilo que a gente está fazendo. Todos os candidatos prometem que vão entregar centro de treinamento, que vão fazer reforma e ampliação de São Januário, prometem que vão profissionalizar gestão. Talvez eles não saibam que já está profissionalizada. Todas as áreas do Vasco são tocadas por profissionais e que decidem, de maneira coletiva, todas as diretrizes, projetos e ações. Elas não são decididas de maneira isolada, são decididas dentro de um comitê de gestão. Todos os candidatos também falam que vão trabalhar pelo equacionamento financeiro, e nós já estamos fazendo. Pagamos mais de R$ 90 milhões no primeiro ano, mais de R$ 150 milhões no segundo e, este ano, certamente estamos pagando mais um volume grande de dívidas.
Mais do que isso, nós estamos organizando a dívida do Vasco, que era de curto prazo, e transformando em dívida de longo prazo. Conseguimos colocar de pé um novo ato trabalhista, e as dívidas trabalhistas foram organizadas nesse novo ato. As dívidas cíveis, que a gente não conseguiu fazer um ato, criamos um pool de credores, depois de ter tentado colocar de pé o chamado FIDC, que é o Fundo de Investimento Creditório, e a gente entendeu que isso não era possível porque não existem garantias que se possa dar a esses fundos de investimento. Nós, então, resolvemos criar esse pool de credores, que tem dado muito certo. Eu tenho certeza de que o caminho é esse. Ele não é fácil, não é um caminho tranquilo, mas ele está sendo percorrido. Estamos trilhando aquilo que é necessário para que o clube entre em um círculo virtuoso, com mais receitas, maior capacidade de investimento no futebol, com maiores conquistas esportivas, que vão acabar gerando mais receitas.
Este ano, houve dois momentos em que houve maior contestação sobre a relação Vasco-Flamengo. A primeira foi a viagem a Brasília para o encontro com o presidente da República e, depois, houve a questão da MP do mandante, que teve liderança do Flamengo, e o Vasco também defendeu. Fluminense e Botafogo foram contra. O senhor acha que houve uma proximidade muito grande entre as duas diretorias? E, de alguma forma, isso é prejudicial ao Vasco?
– Absolutamente, não existe nenhuma proximidade entre as duas diretorias. Mas, se o Flamengo diz que um jogo de futebol é disputado em dois tempos de 45 minutos, não é porque o Flamengo que está dizendo isso que vou dizer que não é. Quando nós fomos a Brasília, estávamos como representantes do futebol carioca. Botafogo e Fluminense tinham uma opinião divergente. Não sei por que cargas d’água eles não queriam que o futebol voltasse. Nós, não só Vasco e Flamengo, nós do futebol carioca, ou seja, todos os outros clubes, gostaríamos que o futebol voltasse. E desses, quem tem representatividade? Vasco e Flamengo. Aí eu pergunto ao torcedor vascaíno: eles gostariam que só o Flamengo fosse lá e tivesse protagonismo? Não. O Vasco foi lá como protagonista. Foram Vasco e Flamengo até a Presidência da República da mesma forma que discutimos juntos com a Prefeitura, com o Governo do Estado e com as autoridades sanitárias. Não quero saber quem está ocupando o poder, eu preciso conversar com o Poder Público, seja lá quem tiver sido eleito. Se for um presidente de direita, de esquerda, não importa. O que importa é que eu tenho de falar de maneira institucional. E foi isso que foi feito. Nós divergimos do Flamengo em várias coisas. Sempre que for do interesse do Vasco e eu tiver que divergir, eu vou divergir. Se os interesses forem no mesmo sentido, paciência, vamos juntos. Vamos trabalhar por aquilo que vai ser bom para todo mundo.
Com relação à MP, Botafogo e Fluminense foram contra, mas a maioria dos clubes foi a favor. Veja bem, o Fluminense disse que não ia assinar, mas que não era contra. O Grêmio disse que não ia assinar e que precisava pensar melhor… Não é uma decisão de Vasco e Flamengo, é uma decisão da ampla maioria porque no nosso entendimento é bom para os clubes, especialmente os maiores, nos quais eu acho que o Vasco está incluído.
Na sua gestão, o Vasco não venceu o Flamengo nenhuma vez, pelo menos até agora. Queria saber se essa questão de enfrentamento nos clássicos de alguma maneira lhe incomoda ou se o senhor entende que é uma marca negativa?
– Olha, até onde eu sei a última vitória do Vasco contra o Flamengo foi em 2016. Coincidentemente, até um determinado ano, o Flamengo tinha um time fraco e que brigava lá embaixo. Foi o caso dos primeiros três anos do Bandeira, em que ele em nenhum momento esteve acima do 10º lugar. Na minha gestão, nós pegamos um adversário que ganha todos os campeonatos que disputa e a maioria dos clássicos, a maioria dos jogos. Então, não acho justo fazer esse tipo de comparação. Será que, se tivesse outra gestão aqui, iria fazer com que o nosso time vencesse o deles? Será que o Vasco não vence o Flamengo nos últimos três anos porque o presidente é incapaz? Ou porque o time deles, no ponto de vista da qualidade, no momento, é superior à maioria dos clubes brasileiros?
Mas é uma pergunta pelo sentimento de torcedor, não em relação ao presidente ser incapaz ou não. O torcedor não ganhar há quase cinco anos do maior rival, porque foi no começo de 2016, indiscutivelmente é muito ruim para o torcedor, não?
– Ninguém diz o contrário, eu também fico chateado. Não é uma questão da gestão. Eu acho que levantar isso agora é quase um argumento político. Não de vocês, isso vem de fora. Acaba impactando. Mas, por exemplo, os jogos que nós jogamos com eles foram sempre disputados. O 4 a 4 foi disputadíssimo. O jogo agora, 2 a 1, se não fosse o “VARmengo”, nós não teríamos perdido. Sem contar a condução do árbitro. Porque não é só na hora do gol que se conduz um jogo. Se conduz um jogo quando você para o jogo para um, não para outro; quando se dá amarelo para um, não dá para outro. E a gente não fez nenhuma vergonha. Nós disputamos todos os jogos. O 1 a 1 lá em Brasília foi disputadíssimo, então assim, não há o que contestar.
Mudando de assunto agora, quais foram os principais erros durante a sua gestão e o que o senhor jamais repetiria no próximo triênio?
– Nós, e aqui falo por todos que estamos na gestão, não cometemos nenhum grande erro. Óbvio, todo mundo erra, todo mundo acerta. Eu acho que talvez o maior erro tenha sido algumas escolhas políticas que foram feitas lá atrás, principalmente, no que diz respeito à Identidade Vasco.
Agora, eu queria voltar à noite de 19 de janeiro de 2018, uma das noites mais relevantes da história política recente do Vasco, que é a noite da eleição no conselho. Qual é o saldo daquela noite na política atual do Vasco? Durante a sua gestão, o quanto aquela noite impactou esse último triênio?
– Me desculpa, mas todo mundo só fala daquela noite. Na realidade, o que impactou não foi aquela noite, foi todo o processo, que culminou com aquela noite. As pessoas falam muito daquela noite, daquela noite, mas foi um processo. Quando eu falo das coisas que eu não teria feito, era me unir ao Julio (Brant), que era uma coisa que eu era contrário, mas fui convencido pela maioria de que isso era importante. E eu acabei aceitando essa argumentação, está certo? A gente passou por um processo muito tumultuado, uma eleição bastante conturbada e ali foi o clímax de todo o processo. Mas antes tiveram vários episódios que nos levaram àquele ponto. Agora, vale lembrar, o pessoal fala de eu ter colocado chapa, ter feito isso, ter feito aquilo, mas na eleição anterior, que ganhou o Eurico, o Julio também montou chapa dentro do Conselho Deliberativo para concorrer contra quem teoricamente foi a vontade do torcedor. Só não foi vitorioso. Então, assim, eu acho que analisar aquela noite dessa maneira é muito simplista. Aquilo foi fruto de um processo muito mais amplo.
Mas ela teve consequências na sua gestão, tanto a noite quanto o processo?
– Com certeza. Mas eu diria que não só aquela noite. Foi um processo que todo mundo errou. Ela certamente teve um impacto durante toda a minha gestão, isso eu não tenho dúvida. Mas, se você for analisar, muita coisa que aconteceu nessa gestão não é só (fruto) daquela noite. O racha que existe dentro do conselho não é fruto somente daquela noite, porque antes mesmo já existia um racha grande da chapa que foi vitoriosa no dia 7 de novembro, e isso não se pode atribuir a mim.
Tentei de todas as maneiras uma saída conciliatória para que fosse amistosa, para que a gente pudesse seguir junto. E não foi possível. Então, eu acho que olhar só para aquela noite é fechar muito o foco e não entender todo o processo. Como esse que está acontecendo agora. Esse processo eleitoral já começa muitíssimo conturbado, com movimentos muitos claros, que, ao meu ver, levam para uma fraude eleitoral.
Quais movimentos?
– Por exemplo, de se tentar fazer uma eleição completamente fora do Vasco, dirigido por uma chapa, em vez de ser dirigido pelos poderes.
Qual chapa, presidente?
– A chapa da Sempre Vasco, que é com quem o presidente (da Assembleia Geral) Mussa está alinhado. Tem seu filho lá. Então, ele quer fazer uma eleição exclusivamente online, uma semana antes de uma eleição municipal, que vai ser presencial. Com uma empresa que ele escolhe, que ele quer contratar. Isso é absurdo.
O senhor defende a eleição híbrida, é isso?
– Eu defendo a eleição híbrida desde que a gente consiga ter uma eleição com a parte online segura. Segura. Eu enviei um ofício para a Coppe, da UFRJ, questionando se tem segurança, pedindo um aconselhamento. Qual é a posição da Coppe? Me responderam dizendo que não há segurança em fazer um processo eleitoral num curto espaço de tempo como esse, que é preciso um tempo muito maior, talvez de um ano para se preparar para uma eleição como essa. E eles querem fazer uma eleição nas coxas, desculpe a expressão, da noite para o dia, fora do Vasco.
Eu estou aqui agora neste momento dizendo que isso pode embolar todo o processo eleitoral. Isso pode culminar com uma série de processos judiciais. Estou tentando organizar isso há muito tempo, tentando aconselhar o presidente Mussa, que toda hora extrapola do seu poder, que toda hora usurpa outros poderes.
Qual é o seu diferencial em relação aos outros quatro candidatos que estão concorrendo com o senhor?
– Acho que a diferença é, primeiro, o meu conhecimento de Vasco porque não há termos de comparação entre os outros e eu. Conheço o Vasco há 35 anos, vivo o Vasco há 35 anos, enquanto os outros não têm essa experiência. O candidato Leven Siano, com todo respeito, não conhece o Vasco, entrou aqui pouquíssimas vezes, nunca participou de absolutamente nada dentro do clube. O Julio Brant até frequenta a (sede da) Lagoa, vem às sextas-feiras almoçar no Vasco, mas não conhece nada de Vasco. E o Jorge Salgado, apesar de grande benemérito, não chega a vir três vezes no ano a São Januário. Eles não têm nenhum conhecimento de clube, essa é que é a verdade.
Além de conhecer o clube, eu estou na gestão há três anos e, diferentemente de qualquer outro candidato que promete tudo, se você pegar qualquer entrevista minha, outro dia eu vi uma, falando do nosso projeto de gestão, você vai ver que eu estou entregando absolutamente tudo que eu prometi. Então, o meu projeto é palpável, ele pode ser visto. Os dos outros candidatos são projetos que qualquer um pode prometer qualquer coisa, né? Existe uma diferença entre prometer e entregar. Eu entrego, eles prometem.
Presidente, eu gostaria de saber a sua posição sobre o direito a voto do sócio-torcedor. O que o senhor pensa sobre isso? E sobre a reforma do estatuto, houve um processo político muito tumultuado, a coisa não andou, então queria saber o que o senhor pensa a respeito.
– Sobre o sócio-torcedor, eu não vejo nenhum problema de votar. Desde que isso seja feito com as mudanças estatutárias que são necessárias e com as garantias necessárias para que não haja nenhum tipo de uso indevido desse tipo de associação. A gente já passa por uma série de problemas. Então, assim, eu acho que o sócio-torcedor deve, sim, ter o direito de votar, ele contribui. Gostaria de ver essa mudança estatutária, desde que houvesse previsão no estatuto de um tempo mínimo de associação desse sócio para que pudesse votar. A gente deve evitar que as pessoas se associem apenas para votar.
Qual seria esse tempo mínimo? Quantos anos?
– Não sei, eu propus dois anos. Acho que seria um tempo razoável. Isso evita o chamado “mensalão”, que são manobras feitas para que pessoas sejam eleitas. Então, excluindo essa possibilidade, eu sou completamente favorável ao sócio-torcedor votar.
Então, a gente pode entender que o senhor, em caso de vitória, defende que haja uma reforma estatutária, não nos termos desse último processo que o senhor já falou que é contra, mas que haja uma reforma estatutária no próximo triênio?
– Ampla, ampla reforma. Eu não concordo com a que foi feita porque acho que é casuística, tem uma série de alterações que foram feitas com intenções políticas. E eu acho que o estatuto do Vasco deve ser feito não para beneficiar A, B ou C; ele deve ser um estatuto criado para 20, 30 anos de vida associativa. E não para privilegiar. Então, eu não gosto das alterações propostas e, se eu for eleito, eu vou propor uma nova formação de comissão de reforma do estatuto, que deverá ser feita de maneira equilibrada, pensando no Vasco para os próximos 30 ou 40 anos.
Presidente, no seu plano de campanha, o senhor se diz contrário ao nepotismo, mas o seu filho faz parte do departamento jurídico. Pode explicar a função dele dentro do Vasco?
– Meu filho é apenas diretor jurídico e apenas contribui. Contribuiu, inclusive, com a ideia da criação do pool de credores. Ele não tem nenhuma ingerência sobre nenhum departamento, ele não toma nenhum tipo de decisão. Ele não negocia absolutamente nada. E ele não é funcionário do clube. Então, não existe nepotismo. Ele é um torcedor, sócio do clube, aliás, elegível. E contribui aqui de forma amadora, sem remuneração, apenas com a capacidade intelectual.
Você disse aqui que foi contra a união com o Julio Brant na última eleição, que foi dez dias antes da eleição de São Januário. Estamos gravando aqui 12 dias antes da eleição, e o episódio vai ao ar oito dias antes da eleição. Existe alguma chance de abrir mão da candidatura este ano ou você garante que seu nome estará entre os candidatos?
– Eu garanto que no dia 7 de novembro o meu nome estará entre os candidatos. Eu tenho a obrigação de oferecer essa possibilidade ao torcedor vascaíno. Eu acho que a nossa gestão tem sido eficiente, está cumprindo tudo aquilo que prometeu, está entregando um Vasco muito melhor do que recebeu em janeiro de 2018 e, portanto, cabe ao torcedor julgar se ele quer continuar com a recuperação do clube ou arriscar, indo para aqui ou ali, baseado em promessas. Se o sócio vascaíno entender que vale a pena mudar, a gente vai respeitar, mas eu tenho a obrigação de oferecer essa possibilidade ao sócio.
E, caso o senhor não vença, como pretende conduzir a transição? Porque a posse do novo presidente é em janeiro, tem um tempo até lá. O senhor cogita fazer uma gestão compartilhada ou algo do gênero?
– A transição vai ser mais tranquila possível. A gente sempre tem que respeitar a decisão do sócio. Vou passar todas as informações, até porque acho que é uma obrigação. Eu penso sempre no clube em primeiro lugar. Então, óbvio que a gente vai tentar ajudar da melhor maneira possível para que a próxima gestão dê sequência ao processo de recuperação do clube. Tudo que estiver ao meu alcance será feito nesse sentido.
Mas o senhor cogita compartilhar decisões ou as decisões vão ser do senhor?
– Eu fui eleito para três anos de gestão. Então, vou exercer o meu mandato até o fim. Obviamente, sempre compartilhando informações, mas as decisões serão minhas.
E o que o senhor pretende fazer caso não vença? Lógico que tem a medicina, mas tem alguma outra coisa prevista para o dia a dia? E existe alguma chance de fazer parte de alguma outra gestão em caso de vitória?
– Bom, primeiro que vocês estão falando muito em não vencer, não vencer. Eu tenho certeza de que vou vencer. Mas, assim, minha vida segue. Eu tenho uma família, sou médico, tenho clínica. Tenho muito o que fazer. Minha vida vai seguir normalmente, caso não seja reeleito.
Não acho que deva participar de alguma outra gestão, posso ajudar no que for preciso, obviamente, se for solicitado. Mas acho que não cabe participar de nenhuma outra gestão. Não faz sentido deixar de ser presidente para vir a ocupar outro cargo. Então, assim, nunca passou pela minha cabeça. Caso venha uma decisão contrária, é desejar sorte para quem vier e estar à disposição para o que for preciso.
Para finalizar, gostaríamos que o senhor definisse os candidatos com uma palavra ou uma frase. O primeiro é Alexandre Campello.
– Falar da gente mesmo é mais difícil, mas pode ser “Mais preparado”.
Jorge Salgado
– Bom sujeito.
Julio Brant
– Miragem.
Leven Siano
– Fantasia.
Sérgio Frias
– Sonhador.
Presidente, você tem algum recado final para a torcida do Vasco?
– Tenho. Dizer para a torcida do Vasco que, se a gente quer um time forte, competitivo e vitorioso, é fundamental que a gente siga o caminho de reestruturação financeira, de organização do clube que nós estamos trilhando. Só assim nós vamos conseguir, de fato, montar o time dos sonhos.