Jornal Povo

‘Não há lugar onde o estado não possa entrar’, diz Cláudio Castro, que irá retomar ocupação de favelas dominadas pelo tráfico e milícia

O governo do Rio decidiu retomar a ocupação das favelas do estado dominadas pelo tráfico e pelas milícias. Em entrevista exclusiva ao GLOBO e à revista Época, o governador em exercício Cláudio Castro anunciou qual será sua nova política de segurança, construída também em torno do reforço do programa Segurança Presente e do investimento em Inteligência para atingir financeiramente as organizações criminosas. “Na minha gestão não há lugar onde o Estado não possa entrar”, afirmou, acrescentando que ainda não há decisão sobre quais serão as primeiras comunidades a serem ocupadas. Castro também reafirmou sua inocência nas investigações de que é alvo, mas não quis falar sobre os detalhes das denúncias que o atingem. Ele explicou que não voltou atrás sobre a venda da Cedae, mas que apenas não quer fazer um “mau negócio”.

Como é a sua relação com o presidente Jair Bolsonaro depois de a gestão anterior, de Wilson Witzel, ter sido marcada por atritos com o governo federal?

Não tenho o telefone pessoal do Bolsonaro. O que acontece é uma coisa de perfil. Eu tenho um perfil de diálogo, pouco bélico. Então, assim, não foi só com o presidente, se você olhar, foi com o Legislativo, os deputados federais, os próprios senadores… A relação com o Bolsonaro está muito boa. Todo mundo quer que o Rio dê certo. O Rio não funciona sem o governo federal. Não temos como sobreviver com o tamanho do nosso rombo fiscal, com o tamanho das dificuldades que temos.

Se Bolsonaro for candidato à reeleição, o senhor votará nele?

Meu candidato será o presidente, vou votar nele.

Witzel, governador afastado, chegou a divulgar montagens em que aparecia com a faixa presidencial. O senhor tem alguma foto sua com faixa?

Será que eu fico bem nela? (risos). Não. Acho que a única faixa que eu quero é a de campeão da Libertadores e do Brasileiro de novo. Queria muito colocar uma faixa vermelha e preta aqui (referência ao Flamengo, time do governador interino).

Você planeja ser candidato a reeleição em 2022?

Não vou falar, mas não por pieguice. Na situação em que a gente se encontra, vai depender muito da conjuntura política. Eu hoje não estou pensando nisso. Até porque hoje sequer governador eu sou. Ainda tem o processo de impeachment (contra Wilson Witzel).

Há chances de Witzel voltar?

Processo é processo. Eu não tenho dúvidas que tanto os deputados quanto os desembargadores vão ser extremamente técnicos. Não tenho dúvidas de que vai ser um julgamento totalmente isento. E, se for totalmente isento, as chances de ele voltar existem.

Como está sua relação hoje com o Witzel?

A gente não pode se falar. Ele tem uma cautelar que o impede de falar comigo e com pessoas do governo. Nesses 70 e poucos dias, nunca nos falamos, nem através de interlocutores.

Ao contrário da relação de Witzel com a Alerj, que era bastante conturbada, o senhor tem dado muito espaço para os deputados estaduais. A ideia é agir diferente dele em relação a indicações políticas?

O governo do Witzel já tinha PT na secretaria, Solidariedade na secretaria, a gente já tinha o PL com secretaria, o DEM com secretaria, o PRB. Era um governo que tinha espaço pra política. A diferença é que talvez eu tenha feito uma política mais estadual, estou dialogando com os partidos. A gente está sendo muito transparente, pessoas com um CPF claro, que tenham um rosto claro. Não há dúvida para a população do que é o governo. A população hoje olha para o secretariado e sabe exatamente o que eu estou fazendo.

O senhor falou que está fazendo tudo para evitar um Covidão 2, inclusive proibindo compras emergenciais. Em nenhum momento, desconfiou das irregularidades que hoje estão sendo investigadas?

Vamos recordar uma coisa? Eu estava tocando a parte social, com um mutirão humanitário, outras pautas. Então, seguinte: hoje, falar é fácil. Mas na época a popularidade do governador Witzel estava lá em cima, todo mundo elogiando tudo, era um momento de gala. Depois é que veio a questão podre.

Em quem o senhor votará para prefeito no domingo?

Eu prefiro manter o voto do Cláudio em sigilo.

Como avalia a administração de Crivella?

Olha, enquanto vereador eu fazia muitas críticas. Acho que ele pegou um momento difícil mesmo, de muita recessão, pós-Olimpíada… No final, com a Covid, acho que ele deu uma melhorada, mas não é à toa que tem uma rejeição grande.

A segurança é uma grande questão do Rio. O senhor tem planos para as comunidades ocupadas pelo tráfico e pela milícia?

A ideia é no primeiro semestre do ano que vem apresentar para a população e a imprensa um grande plano de segurança pública mostrando para onde o estado vai. O conselho de segurança será fundamental. Estamos estudando a política de ocupação de territórios dominados por grupos criminosos. Pela primeira em dois anos, a Polícia Civil fez operação dentro da Maré, que é uma coisa que não vinha acontecendo. Na minha gestão, não há lugar onde o Estado não possa entrar. São três eixos. Vamos reforçar o efetivo policial, fortalecendo o Segurança Presente, investir em Inteligência para asfixiar financeiramente as organizações criminosas e ocupar áreas onde haja domínio de tráfico e milícia. O combate à milícia é uma superprioridade.

O senhor chegou a dizer que poderia desistir da privatização da Cedae. É isso mesmo?

O que vale nisso tudo é o povo ser bem atendido. Eu, como gestor, tenho que fazer conciliação entre o que é melhor para o povo e para o estado. O povo precisa de água tratada e esgoto e para isso o melhor hoje é a concessão que vai trazer vultuosos investimentos. Não disse que não farei o negócio. Eu disse que não farei um mau negócio. Tem perguntas que o BNDES tem que responder. Hoje não estou confortável sem as respostas que preciso ter, como, por exemplo, a Cedae que fica terá capacidade financeira de melhorar a produção de água, fazer Guandu 2, atender municípios que não aderiram e o estado tem contrato?

Mas a companhia foi dada como garantia a um empréstimo feito ao BPN Paribas de R$ 2,9 bilhões?

Mas e se eu conseguir renegociar o empréstimo? Estamos trabalhando a renegociação desse empréstimo de R$ 2,9 bi, que hoje temos que pagar 4,5 bi.

Fonte: Jornal Extra

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