Jornal Povo

Mãe de menina morta por bala perdida no Turano passa mal e não vê o enterro da filha

Apesar de ter sido baleada no colo da mãe, a menina Alice Pamplona da Silva de Souza, de 5 anos, foi sepultada sem a presença dela. Franciely da Silva se passou muito mal cerca de 40 minutos antes do horário previsto para o enterro. Cerca de cem pessoas acompanharam o cortejo do corpo da menina, no Cemitério do Caju. Alice foi atingida no pescoço, quando assistia aos fogos com a família, no Morro do Turano, na noite de réveillon.

Franciely chegou ao cemitério por volta das 11h15. Cerca de uma hora depois, se sentiu mal e foi socorrida em um hospital, sendo liberada em seguida. Minutos depois, a avó materna de Alice também passou mal. A Secretaria municipal de Saúde havia informado antes que Franciely da Silva tinha saido da unidade antes da conclusão do atendimento e sem receber alta médica.

Muito emocionados, familiares e amigos entoaram cânticos religiosos. No local do sepultamento, o caixão foi aberto e a madrinha de Alice, Mayara Aparecida se Souza, lembrou da alegria da menina:

— Não foi descuido, senhor. Ela morreu nos braços da mãe dela. Era uma criança que adorava dançar.

A ONG Rio de Paz registrou, no ano de 2020, 12 crianças mortas vítimas de armas de fogo no estado do Rio. O presidente da ONG, Antonio Carlos Costa, disse que é preciso uma política de segurança pública:

— Alice teve sua vida interrompida por bala perdida, não por força de ação da Polícia Militar, mas do uso absolutamente irresponsável de armas de fogo. O que precisa ser feito é o Estado e a União terem uma política de segurança pública. Menos de 30 dias atrás, duas meninas pobres da Baixada Fluminense tiveram a vida interrompida por bala perdida. Hoje é uma menina moradora do Turano. Se essas mortes tivessem acontecido na Praça General Osório ou num condomínio da Barra da Tijuca, sociedade e poder público Continuariam a lidar com a indiferença com que lidam com essas mortes? Precisamos de implantação de políticas públicas nas favelas.

Inicialmente, o caso foi registrado na 6ª DP (Cidade Nova). As investigações vão ficar a cargo da Delegacia de Homicídios da Capital (DHC). A Polícia Civil informou que os pais da menina prestaram depoimento e que outras testemunhas serão chamadas para esclarecimentos. As investigações continuam para identificar de onde partiu o tiro que atingiu a criança e esclarecer os fatos. Por meio de nota, a Subsecretaria de Estado de Vitimados informou que ofereceu atendimento psicológico e social para a família de Alice e ressaltou que a equipe psicossocial da pasta esteve no enterro da menina e segue acompanhando o caso.

Um vídeo feito por Mayara, a madrinha de Alice, mostra o momento do tiro que atingiu a menina. A família estava assistindo os fogos do muro da casa dela e ela resolveu. Num trecho a menina fala “ai”. A mãe pergunta o que foi e em seguida fala para Mayara: “Corre, Mayara, acho que minha filha tomou um tiro.

Fonte: Jornal Extra