Jornal Povo

Cedae confirma retorno de geosmina na água do Guandu

Os dados de monitoramento de qualidade da Estação do Guandu, coletados pela própria Cedae através de laboratórios terceirizados, confirmaram a presença de geosmina na água. De acordo com relatórios divulgados no próprio site da companhia, a concentração de geosmina e MIB — materiais semelhantes, que causam a mesma alteração no gosto e cor da água — aumentou a partir do dia 11 de janeiro. Os números, porém, são menores do que os registrados na crise do ano passado.

Estação de tratamento de água do Guandu Foto: Brenno Carvalho

No último dia 11 de janeiro, o mais alto do mês até aqui, os índices observados foram de 0,062 no ponto de captação da água e de 0,023 na saída de tratamento. O monitoramento faz distinção entre os números na saída da estação antiga do sistema (Veta), que apresentou problemas, e da estação nova (Neta), que manteve índices o tempo todo abaixo de 0,01. O dado mais recente foi do dia 24 de janeiro: 0,024 no ponto de captação, e índice abaixo de 0,01 na saída das estações.

Como a geosmina e o MIB não são tóxicas para consumo, não há um parâmetro de índice mínimo ou máximo nas estações de tratamento. Mas, as consequências são no gosto e no cheiro da água. Em outro relatório de monitoramento, que mede essas alterações, em vários bairros da Região Metropolitana a medição de gosto da água estava com alterações. O mais alto foi em Senador Camará, no último dia 24, com índice 4. O limite, no padrão da Cedae, é índice 6.

Os números, ainda que preocupantes, são menores que observados na crise do ano passado. Em 26 de janeiro de 2020, o índice de geosmina/MIB chegou a 1,5 no ponto de captação e de 0,82 na saída de tratamento. Na última semana, o presidente da Cedae, Edes Oliveira, afirmou que os problemas eram pontuais, e rechaçou possibilidade de crise como no ano passado. Uma das diferenças para a ocorrência de agora é que a Cedae adotou o protocolo emergencial, e fechou o sistema Guandu por 10 horas, na semana passada, o que ajudou a escoar a água suja.

Mas, o professor de engenharia sanitária da Uerj, Adacto Ottoni, afirma que o problema ainda não está resolvido.

— Como não há legislação sobre geosmina, não temos parâmetro de referências, porque, oficialmente, ela não gera risco à saúde. Mas afeta, ao meu ver, o padrão de potabilidade, porque a água fornecida deve ser sem gosto e sem cheiro. Se o problema estivesse resolvido, veríamos índices baixos no manancial, mas observamos flutuação nos números, o que é preocupante — explica Ottoni, que defende uma obra de desvio dos rios poluídos do Guandu, com comportas para uma estação de tratamento provisória, antes da chegada ao ponto de captação do sistema. — No futuro, podemos ter proliferação mais alta de cianotoxinas mais tóxicas. Por isso o monitoramento permanente é essencial.

Posicionamentos

A crise do Guandu no ano passado gerou inquéritos através do Grupo de Atuação Especial do Meio Ambiente, do Ministério Público do Rio. Procurado, o MPRJ informou que “continua acompanhando e monitorando os resultados dos relatórios”, mas destacou que os laudos apresentados “encontram-se em conformidade com os padrões previsto na Portaria do MS que trata dos padrões de potabilidade da água”, apesar de não haver norma legal definindo parâmetros aceitáveis para presença de geosmina.

Já a Cedae confirmou a presença de “traços de geosmina/Mib em níveis muito baixos”, e afirmou que o carvão ativado aplicado na estação está ajudando a remover essas substâncias. Outra medida é aplicação de argila ionicamente modificada com o objetivo de diminuir a proliferação das algas no local. Por último, a companhia explicou que solicitou redução do prazo no envio dos resultados dos laudos, aos laboratórios.