Um dia após anunciar o fechamento da Alphabets – especializada no mercado de apostas esportivas, Rogério Cruz Guapindaia, que se identifica como CEO da empresa, disse em um vídeo que “tem influência dentro do governo” e “amigos policiais”. Ele também avisa aos investidores que tem um bom “corpo jurídico”. Ele foi condenado em 2017 por tráfico internacional de drogas e associação para o tráfico. Desde ontem, passou a ser investigado pela 125ª DP (São Pedro da Aldeia) por diversos crimes, entre eles, estelionato.
“Vocês não têm noção com quem estão mexendo. Vocês não sabem quem é o meu corpo jurídico. Os amigos policiais que eu tenho. A influência que a gente tem dentro do governo. Então, prestem atenção quando foram ameaçar ou fazer algo”, afirmou o empresário no Instagram da Alphabets.
Ele disse ainda que nunca vai “deixar que falem de mim, da minha mãe, da Thais, dos meus amigos. Nunca”.
Em menos de 48 horas, 18 pessoas fizeram o registro de ocorrência on-line e já começaram a serem ouvidas na delegacia. Todas relatam que foram vítimas de um golpe. Para clientes, o vídeo foi “uma ameaça”:
— Ele vai embora, não dá satisfações e agora faz esse vídeo? Isso é ameaça. Queremos o nosso dinheiro de volta — diz uma mulher que mora em Cabo Frio e tem aplicações com a Alphabets.
Segundo o delegado Milton Siqueira Júnior, titular da 125ª DP, até essa quinta-feira, “18 pessoas que tomaram calote registraram um boletim de ocorrência”, em São Pedro da Aldeia.
— Essa empresa é de Cabo Frio. Mas, até ontem, na Delegacia Online (Dedic), havia 18 solicitações de pessoas, de São Pedro da Aldeia, que tomaram calote dele. Já começamos a fazer o registro ontem mesmo. Vamos chamar cada cliente da Alphabets que está fazendo o RO (registro de ocorrência) aqui em São Pedro da Aldeia para serem ouvidos. Muitas dessas pessoas supostamente lesadas afirmam que investiram muito dinheiro, e ele foi embora — destacou o delegado.
Lucro de 3,2% ao dia
O anúncio do fechamento da Alphabets também foi feito por Rogério Cruz Guapindaia. Na mensagem, o empresário afirmou, em seu seu perfil nesta rede social, que o motivo do encerramento das atividades foi “a total inviabilidade de migração para um novo sistema”.
No mesmo texto, o empresário afirmou que criou um plano de pagamentos “com bases sólidas, iniciado do zero e 100% enquadrado nas leis brasileiras”. Por fim, informou que será necessário um prazo de 30 dias para o início e implementação do plano de pagamentos adotado.
‘Primeiro robô de operações esportivas’
Em seu site, a Alphabets se apresenta como “o primeiro robô de operações esportivas do Brasil” e promete lucros de 1,2% a 3,2% ao dia, de segunda-feira a sábado. Ainda de acordo com o site, a empresa fornece um “software gratuito de alta performance objetivando lucros e renda no mercado de apostas esportivas”. Para começar a apostar, é preciso escolher uma modalidade de licença: são oito disponíveis, com valores que variam de R$ 100 a R$ 100 mil:
Um cliente da Alphabets, que preferiu não se identificar, lamentou ter investido R$ 1 mil na empresa no mês passado.
— Efetuei a compra de duas licenças, mas disseram que o sistema mudou e meu saldo foi zerado após a migração. Depois começaram a cobrar uma taxa de 5% para automatizar o saque. Estou desde o dia 2 tentando efetuar o cancelamento das minhas licenças. Não cheguei a receber um centavo do valor investido — disse o morador de Búzios.
Outro cliente da empresa, também sob condição de anonimato, contou que já imaginava a possibilidade de perder o investimento.
— Eu sabia que, se eu entrasse em um esquema como esse, poderia sair no prejuízo. Em pleno século XXI, com todos os meios de informações que temos em mãos, eu tenho certeza de que todo mundo que entrou nesse esquema sabia dos riscos — disse.
Novo Egito’: 30 empresas investigadas
Antes de ser preso pela Polícia Federal, no último dia 25, o empresário Glaidson Acácio dos Santos afirmou em um vídeo — disponibilizado para seus clientes — que na cidade de Cabo Frio existiam “muitas empresas que (fazem) uma suposta pirâmide” e disse que estava no mercado há nove anos prestando serviço de consultorias de bitcoins.
Ele destacou também que a cidade balneária na Região dos Lagos estava passando por diversas “tentativas de golpes, fraudes e assassinatos” aquilo que ele atribuiu como uma disputa no “Novo Egito”. Entretanto ele destacou que seus clientes poderiam confiar em sua empresa, uma vez que dizia ser de consultoria.
A delegacia de Cabo Frio (126ª DP) investiga pelo menos 30 empresas que supostamente operam criptomoedas e que, na verdade, seriam pirâmides financeiras. De acordo com o delegado Carlos Eduardo Pereira Almeida esse número poderá crescer ainda mais.
— Estamos com vários inquéritos em andamento. Pedimos que qualquer pessoa que foi lesada nos procure. Façam uma denúncia na delegacia – pediu Carlos Eduardo.
Fonte: Extra Online.